Ficha do Proponente
Proponente
- WAGNER SANTOS DE BARROS (PPGE/FE – UFRJ)
Minicurrículo
- Doutorando em Educação PPGE/UFRJ, Mestre em História Social da Cultura PUC/Rio, Graduado e Licenciado em História UERJ, professor de História da Rede Municipal de Angra dos Reis e integrante do CINEAD/LECAV/UFRJ – Cinema Aprender e Desaprender/Laboratório de Educação, Cinema e Audiovisual. Há mais de dez anos desenvolve atividades de cinema e educação na Rede Municipal de Angra dos Reis.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinemas indígenas brasileiros e educação: uma pedagogia selvagem
Formato
- Presencial
Resumo
- O que podemos aprender com os cinemas indígenas documentais brasileiros para refletir sobre cinema e educação nas escolas do Ensino Fundamental? A partir dessa proposição pretendemos traçar um caminho de questões pedagógicas que atravessam diferentes experiências documentais no Brasil até chegarmos aos cinemas indígenas realizados a partir da década de 1980 pelo Video nas Aldeias e outras experiências indígenas posteriores, para iluminar potências para o fazer cinema nas escolas
Resumo expandido
- O fim do mundo, ou pelo menos do tipo de mundo em que nos habituamos a viver, parece cada vez mais evidente frente aos problemas climáticos que vivenciamos e a falta de resposta adequada das instituições políticas. Nesse contexto, a educação cada vez mais se torna refém de ideologias afins com esse capitalismo suicida, seus tentáculos tecnológicos e os milhares de produtos educacionais que podem ser vendidos para as escolas. Discursos que tentam convencer a sociedade (ou melhor, seus indivíduos) de que a modernização e melhora das práticas educacionais passa pela aquisição de equipamentos tecnológicos ou conexões de internet. Como podemos esperar reverter esse quadro, imersos em propostas educacionais geridas pelas ideias de competição e gestão responsáveis por nos levar à destruição do planeta?
A necessidade de imaginar novas formas de viver e pensar o mundo a partir de outros princípios é o que movimenta nossa pesquisa em busca de outras formas de educação. A partir desse desejo, voltamos nossa atenção para os cinemas indígenas brasileiros como detonador de questões para pensar a educação e as possibilidades de fazer cinema na escola, gerando novas práticas e reflexões baseados em princípios tecnodiversos para a produção de arte e conhecimento no ambiente escolar, e repensando a forma com que as tecnologias se inserem nesse lugar.
Assim, propomos aqui nos aproximar de duas questões, educação e cinema, com um olhar orientado pelo que denominamos pensamento selvagem, explorando, naquilo que os cineastas indígenas nos trazem em suas obras e reflexões, o que pode ser de interesse para repensar nossa prática pedagógica. Pensar educação refletindo sobre as formas próprias de se produzir e pensar cinema, a partir da análise de cinemas indígenas. Devemos percorrer esse caminho a partir do diálogo com filmes de produção cinematográfica indígena, principalmente pelo trabalho realizado pelo projeto Vídeo nas Aldeias (VNA), e outras experiências de produção de coletivos indígenas, e suas possíveis interfaces de diálogo com possibilidades de produção e exibição de filmes documentários e exercícios de cinema em escolas de ensino fundamental. Interessa investigar as potências existentes no cinema documentário contemporâneo realizado por cineastas indígenas para refletir e desenvolver experiências de cinema na escola, através de concepções, métodos e procedimentos existentes nas obras e reflexões de cineastas e pensadores indígenas.
Pedagogicamente, apostamos na ideia de que os cinemas indígenas podem nos ensinar outros modos de enxergar o mundo, de enquadrá-lo, de montar os registros, desnaturalizando nossos modos de ver viciados de velocidade e vigilância. Apostamos que, em diálogo com esses cinemas, seja possível descobrir e inventar outras formas de ver e produzir mundos, que partam de outros pressupostos, valores e cosmovisões.Buscamos nos aproximar daquilo que nessa forma de cinema pode ser cartografado como pontos de intersecção entre diferentes práticas que se estabelecem a partir da aproximação com o outro, pela imagem e/ou pela palavra. Consideramos essa relação com a alteridade fundamental para repensarmos a educação em outros parâmetros, intencionando um mundo mais democrático e justo. A proposta de iluminar a produção de cinema na escola a partir do cinema produzido por cineastas indígenas decorre da iniciativa de propor a entrada do conhecimento indígena na escola transformando a escola, o fazer cinema na escola e o lugar dos conhecimentos indígenas na escola. Ao invés de aprender sobre indígenas ou culturas indígenas, aprender com os indígenas a partir da forma como eles lidam com o cinema.
A partir desse ponto nos permitimos pensar, junto com outros autores que o conceito de pensamento selvagem (LEVI-STRAUSS, 2012) pode ser o ponto de partida para compreendermos os cinemas indígenas e para nos orientar para um outro modelo de educação.
Bibliografia
- ARAÚJO, Ana Carvalho Z. de et alli. Cineastas indígenas: um outro olhar: guia para professores e alunos. Olinda, PE, 2010.
_______,(org.) Vídeo nas Aldeias 25 anos. Olinda, PE, Vídeo nas Aldeias, 2011. CASTRO, E. V. de. Metafísicas canibais. São Paulo. Ubu Editora. 2018.DELEUZE, G. e GUATTARI. F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, Vol. 4. Rio de Janeiro, Ed. 34, 2012.FRESQUET, A. Cinema e Educação. Reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e fora da escola. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2013. HUI, Yuk. Tecnodiversidade. São Paulo, Ubu editora, 2020.LINS, C. e MESQUITA, C. Filmar o real. Sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. PASSOS, E. e KASTRUP, V. Sobre a validação da pesquisa cartográfica: acesso à experiência, consistência e produção de efeitos. Fractal, Revista de Psicologia, v. 25 – n. 2, Rio de Janeiro 2013.