Ficha do Proponente
Proponente
- Fernando Morais da Costa (UFF)
Minicurrículo
- Fernando Morais da Costa é professor associado do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense, É fundador e ex-coordenador do Seminário Temático de Estilo e Som no Audiovisual da Socine. Foi secretário acadêmico (2017 -2019) e membro do comité cientifico (2019-2021) da mesma instituição. É autor de O som no cinema brasileiro (Rio de Janeiro: 7 letras, 2008).
Ficha do Trabalho
Título
- Vozes e silêncios entre o cinema brasileiro e britânico contemporâneos
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Pretendemos analisar dois dos elementos sonoros, vozes e silêncios, e algumas de suas representações pelo cinema contemporâneo. Ao trabalharmos sobre ambos ao mesmo tempo é possível criar uma perspectiva não-dicotômica, a partir da lógica de que silêncios e vozes trabalham juntos para construir narrativas. Entendemos que certas formas de união entre ambos são marcas sonoras do cinema atual. Como recorte, defendemos que tal estética sonora ressoa em filmes brasileiros e britânicos recentes.
Resumo expandido
- Esta proposta é, de uma só vez, uma continuidade de interesses de pesquisa e um novo recorte. Mantemos que silêncios e vozes não são elementos sonoros opostos entre si na linguagem cinematográfica e audiovisual. Ao contrário: se complementam como agentes discursivos. Sustentamos ainda que tal presença de momentos de silêncios marcadamente importantes em narrativas audiovisuais, concomitantes a vozes também proeminentes, são uma das marcas do audiovisual contemporâneo. Fechar tal estudo nas cinematografias brasileiras e britânicas recentes é o nosso recorte atual.
Sobre o recorte fechado em dois países, podemos dizer que, a partir do interessante momento que as indústrias cinematográficas brasileira e britânica têm atravessado nos últimos anos, entre golpes recebidos pela diminuição do incentivo estatal à cultura e tentativas de sobrevivência, entendemos que alguns filmes realizados trazem semelhanças transnacionais. Ao pensarmos em uma análise comparativa, alguns fatores temáticos em comum chamam atenção. Há uma relação entre o terror, como gênero narrativo, e questões sociais que pode ser encontrada em ambas as cinematografias. No Brasil, os filmes dirigidos por Kleber Mendonça Filho (O som ao redor, de 2012, mas não só), Juliana Rojas e Marco Dutra (As boas maneiras, de 2017) e, por exemplo, o britânico O que ficou para trás (His house, Weekes, 2020), abordam problemas sociais por meio de códigos narrativos de terror, ou melhor, a partir do que Laura Canepa chamou de “terror incidental”, a saber: a relação entre realismo cinematográfico contemporâneo, códigos advindos do terror e questões sociais não resolvidas. A ficção científica brasileira de baixo orçamento, encontrada nos filmes de Adirley Queiroz, como Branco sai, preto fica (2014) e Mato seco em chamas (2022), pode se relacionar com exercícios fílmicos experimentais como Two years at sea (2011) e Slow action (2010), de Ben Rivers. Um filme como Arábia (Dumans, Uchoa, 2017), que discute a representação da classe trabalhadora em Minas Gerais, pode se relacionar com vários filmes britânicos, como os Ken Loach, por exemplo. Cabe lembrar que produções brasileiras recentes vêm trazendo questões de raça e classe social para as telas e alto-falantes. Exemplos são Marte Um (Martins, 2022) e Café com canela (Rosa, Nicário, 2017. Questões que transitam entre raça e classe social, além de mediação sonora similar à de Brando Sai, Preto fica, se encontram em The Kitchen (Kaluuya, Tavares, 2023), produção recente que aposta no universo pós-apocalíptico, distópico, como metáfora para representar problemas sociais atuais.
Entendemos que por mais diferentes que sejam tais processos culturais e nacionais é possível discutir alguns aspectos sociais brasileiros presentes nos filmes, bem como pensar em possíveis semelhanças com representações de questões sociais britânicas, também mostradas pelo cinema. Nossa ênfase está em analisar como os sons podem representar vicissitudes sociais. Para esta palestra, serão analisados The kitchen e O que ficou para trás e suas relações de proximidades e diferenças com filmes brasileiros.
Quanto à base teórica, pensamos em uma série de referências sobre o cinema britânico contemporâneo, como pode ser encontrado em Forrest (2020) e Leggott (2008). Nos é importante o trabalho de especialistas britânicos sobre cinema brasileiro, o que, por si só, já estabelece conexões entre os países: trabalhos como os de Maite Conde, sobre a relação entre cinema no Brasil e modernidade (2018) e sobre política no Brasil contemporâneo; de Lisa Shaw e Stephanie Dennison e seu amplo panorama sobre o cinema nacional (Dennison; Shaw, 2004), pesquisas essas que releem nomes centrais como os de Ismail Xavier, João Luiz Vieira, entre outros. Se juntam a esse corpus alguns trabalhos sobre o cinema brasileiro atual, por exemplo, os de Angela Prysthon (2015), Denilson Lopes (2016), Luiz Carlos de Oliveira Jr, além do evidente campo dos estudos de som, central para este seminário
Bibliografia
- CONDE, Maite. Foundational Films, Early Cinema and Modernity in Brazil. Oakland: University of California Press, 2018.
DENNISON, Stephanie; SHAW, Lisa (ed.). Brazilian National Cinema. London: Routledge, 2004.
FORREST, David, Forrest. New Realism: Contemporary British Cinema. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2020.
LEGGOTT, James. Contemporary British Cinema: From Heritage to Horror. New York: Wallflower Press, 2008.
LOPES, Denilson. Afetos, relações e encontros com filmesbBrasileiros contemporâneos. São Paulo: Hucitec, 2016.
PRYSTHON, Angela. Furiosas frivolidades: artificio, heterotopias e temporalidades estranhas no cinema brasileiro contemporâneo. Eco-Pós: Rio de Janeiro. V.18,, 2015.
STAM, Robert. Indigeneity and the Decolonizing Gaze: Transnational Imaginaries, Media Aesthetics, and Social Thought. London: Bloomsbury, 2023.
WHITTAKER, Tom; WRIGHT, Sarah (ed.). Locating the Voice in Film. Critical Approaches and Global Practices. New York: Oxford University Press, 2017.