Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Silva da Ressureição (PPG – CINEAV)

Minicurrículo

    Cursando o Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) da Universidade Estadual do Paraná – campus de Curitiba II/ (FAP). Vinculada à linha de pesquisa: Processos de Criação no Cinema e nas Artes do Vídeo. Membro do GP CINECRIARE – cinema: criação e reflexão (PPG-CINEAV). Pós-graduada em MBA em Dança, Gestão, Produção Cultural. Tecnóloga em Produção Cênica (UFPR). Fundadora da Púrpura Produções, atuando como Filmmaker e Produtora. Apresentadora/Diretora do Programa Soul Black Web.

Ficha do Trabalho

Título

    MULHER NEGRA, SOLTA TEU CABELO, TUA COROA E(M) VIDEODANÇA!

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação tem o objetivo de explanar sobre o processo de criação da videodança Meu cabelo, minha coroa, não toca (2024), fruto de meu projeto de pesquisa no Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV-Unespar), a partir da premissa que sustenta o ‘conteúdo’ audiovisual: a vivência e representatividade das mulheres negras, especificamente, a relação com seus cabelos. A metodologia parte da Crítica de Processo (Salles, 2013) e de revisão bibliográfica sobre o campo da videodança.

Resumo expandido

    Nesta comunicação, o intento é abordar e refletir sobre o processo de criação da videodança Meu cabelo, minha coroa, não toca (2024), fruto de meu projeto de pesquisa no Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV-Unespar) e vinculado à linha de pesquisa (2): Processos de criação no cinema e nas artes do vídeo. É a partir da premissa que sustenta o ‘conteúdo’ audiovisual, ou seja, a vivência e representatividade das mulheres negras, especificamente, a relação com seus cabelos, que tomo como objeto de investigação o campo da videodança. A proposta do material audiovisual é levantar alguns questionamentos acerca do relacionamento das mulheres negras com seus cabelos e de como esta relação é ou pode ser influenciada pela sociedade. O mote principal da poética audiovisual é composto pela ação dançante de uma performer, alternada com imagens editadas e fluídas das participantes, convidadas para gravarem seus depoimentos e histórias de vida na relação com seus cabelos, durante as entrevistas que ainda irei realizar.
    A poética audiovisual, supostamente, caracteriza-se como um sistema híbrido entre documentário e videodança – um ‘docudança ‘ –, pois o texto utilizado como base para a criação e performance da dança em tela é proveniente de entrevistas feitas com o que chamo aqui de “mulheres negras reais”.
    Na referência ao termo ‘docudança’, trago as reflexões de Wosniak (2016) ao problematizar a representação do corpo dançante e sua inserção no modo documentário de caráter performático, poético e de cunho biográfico, ou seja: quando o corpo que dança fala de si mesmo ao dançar ou outras pessoas dançarem a voz da entrevista. Este tipo de documentário que tem por tema a dança, a biografia de personalidades de dança ou o simples mover de um corpo ao se expressar dançando é uma espécie de neologismo que se ancora em uma zona de fronteira entre o documentário e a videodança.
    Para Wosniak, o docudança deve ser entendido como um fenômeno híbrido que pretende abordar o corpo e(m) dança – real/referente peirceano – atravessado pela ficção biográfica e narrado por procedimentos cinematográficos técnicos, tais como: montagem, sutura, planos, locação encenada e ética interativa e o conceito de voz corporal.” (WOSNIAK, 2016, p. 75-76).
    Se admitirmos que o documentário é uma representação e não uma reprodução do mundo histórico, poderemos partir do princípio de que possui uma espécie de ‘voz’ particular. Ao transpormos esta ideia para o docudança, tanto eu, como diretora, quanto a artista da dança participante – que se move e depõe verbalmente ou somente com movimentos do corpo ressignificando as vozes das mulheres negras entrevistadas – encontram-se implicados em suas escolhas estéticas e dançantes e consequentemente devem aderir a determinados modos de evidenciar suas asserções sobre o mundo, enquanto recriação conjunta.
    Para Rosiny em seu texto Videodança: história, estética e estrutura narrativa de uma forma de arte intermidiática (2012) a videodança não é em si uma forma de arte nova, mas sua estética e seus mecanismos de percepção podem ser rastreados a precedentes localizados na(s) história(s) de outras formas de arte. Rosiny admite que a videodança “é parte de uma evolução geral em direção à intermidialidade e à mistura de diferentes formas de arte, como se tornou aparente desde o começo do século XX.” (ROSINY, 2012, p. 118).
    Além de se tornar um amplo campo de exercícios composicionais em dança com mediação tecnológica, a videodança, hoje acaba por gerar um outro lugar nos processos de criação para a dança. Nas palavras dos pesquisadores Beatriz Cerbino e Leandro Mendonça em seu texto Coreografia, corpo e vídeo: apontamentos para uma discussão (2012) tanto o corpo, quanto o movimento, quando mediados pela tela do vídeo são ressignificados.
    Nesta instância, nem o corpo em movimento e nem a captura do movimento ou a sua posterior edição, podem ser mais pensados em separado.

Bibliografia

    CERBINO, B; MENDONÇA, L. Coreografia, corpo e vídeo: apontamentos para uma discussão. IN: CALDAS, P. et al. (org.). Dança em foco – ensaios contemporâneos de videodança. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2012.

    DAVIS, A. Mulheres, Raça e Classe. Editora: Boitempo Editorial, 1981.

    EVARISTO, C. Olhos D’Água. São Paulo: Pallas, 2014.

    HOOKS, B. Black Looks: Race and Representation. Editora: South End Press, 1992.

    ROSINY, C. Videodança: história, estética e estrutura narrativa de uma forma de arte intermidiática. IN: CALDAS, Paulo et al. (org.). Dança em foco – ensaios contemporâneos de videodança. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2012.

    SALLES, C. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Intermeios, 2013.

    WOSNIAK, C. Afetos, sentidos e memórias na configuração do discurso de um ‘docudança’ brasileiro: uma biografia dançante audiovisual. In: LESNOVSKI, A; WOSNIAK, C. (Org). Olhares: audiovisualidades contemporâneas brasileiras. Campo Mourão: Fecilcam, 2016.