Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Samantha Ribeiro de Oliveira (PUC Rio)

Minicurrículo

    Mestra e doutoranda em Letras, na área de Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, Samantha Ribeiro de Oliveira é graduada em Comunicação Social com habilitação em Cinema pela Universidade Federal Fluminense. Atuou como pesquisadora visitante no Laboratório de Cinema e Filosofia do Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa. Cineasta, radialista e gestora pública, atualmente, é também roteirista, editora e produtora executiva na Rádio MEC / EBC.

Ficha do Trabalho

Título

    Política pública distributiva como indutora de originalidade estética

Seminário

    Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação percorre os estudos de diversos autores em busca de um nexo causal entre as políticas públicas setoriais para o audiovisual, adotadas nas primeiras duas décadas do século XXI, e o surgimento, a partir dos anos 2010, de novas “poéticas dramatúrgicas relacionais”, em lugares improváveis como Contagem – MG e Cachoeira – BA, sedes respectivamente, das produtoras Filmes de Plástico e Rosza Filmes, que desenvolvem uma filmografia popular, porém não massificada e, portanto, decolonial.

Resumo expandido

    A comunicação percorre estudos de Ana Paula Sousa, Lia Bahia, Mannuela Costa, Marcelo Ikeda, Arthur Autran e Antônio Amancio para delinear um nexo causal entre a adoção de políticas públicas setoriais distributivas para o audiovisual e o surgimento, nas primeiras duas décadas do século XXI, de novas “poéticas dramatúrgicas relacionais”, fora dos grandes centros de produção audiovisual do país. Ao tecerem o fio temporal das tentativas de industrialização do setor e entrelaçá-lo à linha dos pactos coletivos realizados por diferentes grupos do campo cinematográfico, em diferentes momentos históricos, os estudos em referência pavimentam o caminho na direção da compreensão sobre como foi possível o surgimento desta novidade estética, que despontou nas telas nacionais (e em algumas internacionais), a partir de meados da década de 2010.

    Filmografias como as da Rosza Filmes e da Filmes de Plástico, empresas produtoras mencionadas neste trabalho, que criam suas narrativas ficcionais a partir do Recôncavo da Bahia e da região metropolitana de Belo Horizonte, mas também as dos diretores Adirley Queirós, que filma a partir da Ceilândia, Lincoln Péricles, baseado no Capão Redondo em São Paulo, e da produtora Vermelho Profundo, com sede em Campina Grande, interior da Paraíba, para citar somente algumas, chegaram às telas a partir de diferentes modelos de produção. O seu surgimento simultâneo, em um determinado momento histórico, pode ser considerado um marco dos avanços distributivos nas políticas publicas que sucederam a onda neoliberalizante de mecenato privado adotada na década de 1990.

    Os novos pactos firmados entre a corporação cinematográfica e o Estado brasileiro nos anos 2000 resultaram em um conjunto de dispositivos regulatórios que permitiu, de maneira lenta, porém progressiva, que os recursos financeiros disponíveis para o desenvolvimento da atividade fossem acessados por um número cada vez maior de empresas produtoras. Isto não garantiu um aumento proporcional dos índices de ocupação do mercado interno pelo produto nacional. No entanto, a criação e implementação – em continuidade temporal inédita – de políticas de desenvolvimento mais distributivas para a atividade cinematográfica possibilitou, também pela primeira vez, uma pequena, porém esteticamente relevante, diminuição na concentração do desenvolvimento das ideias e das produções audiovisuais em determinadas áreas das capitais dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, na região Sudeste do Brasil.

    O trabalho ressalta aspectos discursivos da construção dos diferentes arranjos adotados pelo campo cinematográfico ao longo do tempo, em resposta à permanente frustração das tentativas de industrialização plena da atividade no Brasil, buscando identificá-los na voz de seus agentes, em entrevistas concedidas aos pesquisadores do campo. Procura também apontar alguns reflexos das políticas concentracionistas e distributivistas na produção audiovisual nacional, iluminando a abertura de uma porta de acesso à criação cinematográfica para novos agentes, cujo resultado estético ganha as telas, em longa-metragens, sobretudo a partir de meados da década de 2010.

    Com o objetivo de sublinhar que a adoção de políticas públicas inclusivas, reparadoras e distributivas ampliam o arco de possibilidades narrativas inscritas não só na diversidade cultural brasileira, mas também em sua desconcertante desigualdade social, esta comunicação inscreve no corpo estético das filmografias recortadas, a sua relevância política. A sua existência é, por si mesma, um fato estético-político, que dialoga criticamente, em modo “sankofa”, com o imaginário audiovisual nacional, forjado pela paródia cinematográfica, pelo filme de “prolongamento de espetáculo”, pela radionovela, pela telenovela e, mais recentemente pelas temporadas de séries ficcionais de sucesso das plataformas de exibição digital.

Bibliografia

    AMANCIO, T. Artes e manhas da Embrafilme: cinema estatal brasileiro em sua época de ouro (1977-1981). EDUFF, 2000.
    AUTRAN, A. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. Hucitec Editora, 2013.
    BAHIA, L. Discursos Políticas e Ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro. – Rumos Pesquisa. Itaú Cultural, Iluminuras, 2012.
    _______. A telona e a telinha: encontros e desencontros entre cinema e televisão no Brasil, Tese. 2014.
    COSTA, M. R. da. Cinema brasileiro independente no contexto contemporâneo: entre a realidade e a ficção. Tese. 2017.
    GLISSANT, É.. Poética da relação. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
    IKEDA, M. Cinema brasileiro a partir da retomada: aspectos econômicos e políticos. São Paulo: Summus, 2015.
    OLIVEIRA, A. N.. Roteiro e diário de produção de um filme chamado Temporada. Belo Horizonte: Javali, 2021.
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