Ficha do Proponente
Proponente
- Tainá Andrade da Silva (UERJ)
Minicurrículo
- Tainá Andrade é doutoranda no PPGCOM UERJ, mestra pelo PPGCine UFF e bacharela em Comunicação Social – Cinema pela PUC-Rio. Além de autora da dissertação e da monografia, publicou trabalhos e apresentou palestras em periódicos e eventos. Em 2024, publicou o artigo “Os cinemas de rua morreram? Motivos por trás das lutas suburbanas em defesa dos cinemas de rua como espaços de memória coletiva e força transformadora de territórios” em co-autoria com Wilson Oliveira Filho na Revista Em Tese.
Ficha do Trabalho
Título
- A visão de um mundo onde o subalterno tem voz
Seminário
- Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho desenvolve uma hipótese proposta na tese de Doutorado “Força comunitária e voz subalterna em obras não ocidentais: narrativas de resistência e empoderamento para infâncias promissoras”. Tendo em vista a pergunta “pode o subalterno falar?” de Gayatri Spivak, abre-se um novo questionamento: os subalternos já começaram a falar? Através do audiovisual e da força de narrativas não ocidentais, avalia-se a representação da tomada de voz e as melhorias dadas pelo protagonismo subalterno.
Resumo expandido
- Parto da hipótese proposta na minha tese de Doutorado sobre obras audiovisuais realizadas em países não ocidentais e com protagonismo de vivências subalternas realizarem a tomada de voz em relação aos cânones. Trata-se de uma análise em processo, expondo-se uma pergunta inicial que margeia as potencialidades de a proposição estar correta e as bases que sustentam o seguinte questionamento: existem, hoje, filmes e séries nos quais os subalternos têm voz e através dos quais conseguem ser ouvidos, inclusive por integrantes das classes dominantes?
Em “Pode o subalterno falar?” (2010), Gayatri Spivak fala sobre a voz subalterna e a tomada da narrativa oficial:
Não se trata de uma descrição de “como as coisas realmente eram” ou de privilegiar a narrativa da história como imperialismo, como a melhor versão da história. Trata-se, ao contrário, de oferecer um relato de como uma explicação e uma narrativa da realidade foram estabelecidas como normativas (SPIVAK, 2010, p. 48).
Tem-se, portanto, uma disputa dentro da hegemonia e de ideologias, dentro do que Spivak aponta como o ato de fala subalterno, quando ocorre, é intermediado por quem está no poder, tomando-se o espaço de voz daquele a quem se acredita estar auxiliando para, então, haver a escuta. Logo, quando não se está preso aos padrões normativos e não se aceita que falem por si, como atingir os públicos aos quais se direciona? A pergunta, enfim, é: se o subalterno falar, quem vai escutá-lo? Existe força em falar e não ser ouvido? Pode o subalterno falar?
Propõe-se, assim, que a subalternidade deve deixar de existir, possibilitando que as pessoas comumente excluídas possam falar e ser ouvidas, em vez de serem representadas e apresentadas por terceiros. O papel do intelectual que visa lutar contra supremacias e estratificações seria o de ajudar a abrir espaços “para determinar a produção da história como uma narrativa (da verdade)” (SPIVAK, 2010, p. 55). Afinal, quem melhor para dizer a verdade vivida, senão quem vive? O problema é saber se ela pode ser ouvida.
Aqui, defendo que o audiovisual pode ser uma força utilizada para enfrentar problemas vividos pelos periféricos quando se colocam histórias subalternas feitas por subalternos no centro da tela e diversos grupos são atingidos pelo conteúdo. Isto é, através de protagonistas e aventuras que apresentam contextos nos quais o público marginalizado socialmente consegue se enxergar e refletir, potencializam-se mudanças dadas conforme os subalternos ganham voz, por exemplo, pode-se incentivar a união comunitária contra a necropolítica e em busca do direito à cidade.
Como demonstração de caso, há o filme “O Menino e o Mundo” e o anime “One Piece”, obras realizadas em países não ocidentais com protagonismo subalterno. A experiência visual e sonora, ou melhor, quase inaudível ou de som incompreensível, de “O Menino e o Mundo” é diferenciada e chama a atenção, porém, mais impactante, é o subtexto: quem são os personagens, onde estão inseridos e como os arredores afetam as vivências e possibilidades deles. Surge, assim, uma trama sobre política, exclusão socioeconômica, desemprego, escravização e temas profundos em conexão com o sentimento da falta do pai. Do mesmo modo, “One Piece” foge da dicotomia entre bem e mal, o protagonismo da série é dos piratas, à margem da sociedade, aproximados pelo senso comum do que é vil, um mal a ser expurgado – o que a história não necessariamente nega. O espaço principal é dos oprimidos e o protagonista é um jovem que liberta a todos com os quais se depara no caminho e que sonha em ser o homem mais livre do mundo.
Em suma, a amostra das animações supracitadas dá robustez ao questionamento e à pesquisa propostos, fundamentando-se a avaliação de narrativas nas quais parece que os subalternos falam e, também, quais possibilidades são dadas aos espectadores subalternos através da possível fala subalterna. Pergunta-se: os subalternos já começaram a falar?
Bibliografia
- ODA, Eiichiro. One Piece. Japão: Shonen Jump, 1997.
O MENINO e o Mundo. Direção: Alê Abreu. Produção de Fernanda Carvalho e Tita Tessler. Brasil: Filmes de Papel, 2014.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 1. ed. Trad. Sandra Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André Pereira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.