Ficha do Proponente
Proponente
- Arthur Autran Franco de Sá Neto (UFSCar)
Minicurrículo
- Professor e pesquisador da UFSCar desde 2002. Doutorou-se no Instituto de Artes da Unicamp e fez pós-doutorado na Universidade de Buenos Aires. Publicou os livros Alex Viany: crítico e historiador (2003), Imagens do negro na cultura brasileira (2011) e O pensamento industrial cinematográfico brasileiro (2013). Dirigiu os documentários Minoria absoluta (curte-metragem, 1995) e A política do cinema (longa-metragem, 2011). Integrou o Conselho da Cinemateca Brasileira (2003-2016).
Ficha do Trabalho
Título
- O Comunismo e o Anticomunismo no Cine Jornal Informativo
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação visa dar um quadro geral de personalidades, acontecimentos factuais e efemérides ligados ao movimento comunista ou à reação anticomunista que foram registrados pelo CJI (Cine Jornal Informativo), entre 1946 e 1964. O CJI era produzido pela Agência Nacional, órgão ligado ao governo federal, e possuía edições semanais. A comunicação também analisa as perspectivas políticas do CJI frente ao comunismo e aos comunistas, ao longo dos diferentes governos no recorte temporal abordado.
Resumo expandido
- Esta comunicação objetiva descrever e analisar como personalidades, acontecimentos factuais e efemérides ligados ao movimento comunista ou à reação anticomunista foram tematizados pelo CJI (Cine Jornal Informativo), no período de 1946 a 1964. Este interregno de tempo foi marcado pela experiência democrática que possibilitou certa liberdade de expressão e organização políticas, bem como a realização de eleições presidenciais com níveis de participação popular até então inéditas no Brasil. O PCB (Partido Comunista Brasileiro) foi legal entre 1945 e 1947, conseguindo eleger, entre outros nomes, Luís Carlos Prestes como senador e Jorge Amado como deputado federal, além de o partido ter exercido influência no meio dos trabalhadores urbanos e da intelectualidade ao longo de todo o período, apesar de ser colocado na ilegalidade a partir de 1947.
O CJI era um veículo de informação ligado ao governo federal, confeccionado pela Agência Nacional, órgão subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Ele substituiu o CJB (Cine Jornal Brasileiro), o qual circulou ao longo do Estado Novo e foi produzido pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). As edições do CJI duravam de sete a dez minutos e eram semanais, embora em alguns momentos tenha ocorrido quebra na periodicidade. As suas matérias eram muito concentradas na figura do Presidente da República de turno e em atos do governo federal: inaugurações, recepções, paradas militares, viagens oficiais, reuniões políticas, etc. Por vezes, assuntos de outras ordens também eram abordados: exposições de artes plásticas, premiações de artistas, lugares pitorescos do Rio de Janeiro, eventos religiosos, etc.
A proposta em tela visa, primeiramente, expor de forma panorâmica o quadro de personalidades, fatos e efemérides ligados de algum modo ao movimento comunista ou à reação anticomunista tematizados no CJI. Levantamento inicial feito por meio da Filmografia Brasileira, indica que o CJI registrou, entre diversos assuntos, artistas comunistas – como Cândido Portinari, em 1953, ou Moacyr Fenelon, em 1949 –, manifestações de rua anticomunistas – o protesto, em 1949, de repúdio ao assassinato de um arcebispo na Hungria –, eventos oficiais envolvendo países comunistas – a recepção ao embaixador da Iugoslávia no Palácio do Catete, ocorrida em 1952 – ou ainda efemérides com lastro anticomunista – a homenagem, em 1947, aos mortos pelos integrantes da chamada Intentona Comunista. Ademais, objetiva-se verificar quais as perspectivas políticas do CII, de maneira a comparar, inclusive, se há diferenças expressivas ao longo dos diferentes governos do período (desde Eurico Gaspar Dutra até o de João Goulart, passando por Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek). Para tanto, serão analisados exemplos de trechos de edições do CJI nos quais o comunismo e o anticomunismo sejam abordados de alguma forma.
A hipótese central de trabalho é que o anticomunismo foi predominante nas edições do CJI durante os governos de Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas, havendo no governo de Juscelino Kubitschek presença menos ostensiva do anticomunismo, e, na presidência de João Goulart, até um abrandamento significativo dessa perspectiva.
Também interessa analisar como indivíduos reconhecidos internacionalmente pela sua produção artística e sabidamente militantes do PCB, como Cândido Portinari, foram apresentados no cinejornal, o qual não se furtou em registrar o trabalho do pintor.
Bibliografia
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