Ficha do Proponente
Proponente
- Debora Regina Taño (UNIRIO)
Minicurrículo
- Professora do curso de Engenharia de Produção com habilitação em Produção em Cultura da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mestre e graduada em Imagem e Som (UFSCar) e também graduada em Administração (FAM). Pesquisa sobre redes de produção e distribuição, políticas públicas e relações de trabalho na indústria cinematográfica brasileira. Atua ainda como montadora e editora de áudio.
Ficha do Trabalho
Título
- Contratos, capitais e projetos: estruturando relações de trabalho
Seminário
- Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho tem por objetivo entender as relações entre empresas produtoras e profissionais de diferentes atividades da realização de filmes, com foco nas formas de contratação e seleção. Investiga-se aqui além das formas mais comuns, as diferenças nas relações de acordo com a função exercida. Para tanto, o estudo se vale de uma survey com produtoras brasileiras de longas-metragens e análises quantitativas e estatísticas, a partir das quais alguns pontos sobre o tema são elucidados.
Resumo expandido
- Segundo Powell (1990), alguns setores da economia se organizam para além das hierarquias e sua estruturação interna ou da competição dos mercados, atuando de formas menos rígidas. Estas formas, segundo o autor, implicam na manutenção das relações e na interdependência entre os atores envolvidos. Adotam tais práticas sobretudo setores que possuem características específicas, como a produção baseada em projetos, contratos temporários, foco maior na eficiência do que na transmissão de informações e atividades que demandam grande especialidade e conhecimento prévio. Entre as características citadas, a produção organizada por projetos abre uma série de questões e abordagens teóricas que auxiliam no seu entendimento: a especialização e divisão do trabalho, a escolha das parcerias, os tipos de contratos exercidos e a consolidação das redes interorganizacionais.
A partir de tais pressupostos, análises voltadas ao estudo das organizações têm, nas últimas décadas, abordado o cinema brasileiro como objeto a partir de diferentes bases teóricas, entre elas as teorias de campos organizacionais e redes sociais. Tais estudos colocam a dimensão relacional como fator fundamental para a estruturação do campo, uma vez que é por meio das relações que se dá a atuação dos envolvidos, neste caso, as empresas e profissionais do cinema.
Neste contexto, destaca-se a centralidade das empresas produtoras, enquanto organizadoras da estrutura necessária para a realização das atividades. É função central da produtora a contratação de empresas e profissionais que realizarão as atividades próprias da produção do filme e demais produtos, estes, por sua vez, produzidos por meio da organização de equipes temporárias, em projetos (DEFILLIPPI; ARTHUR, 1998).
Uma vez que as produções se organizam por redes e, portanto, dependem das relações que se estabelecem entre os atores, a escolha de profissionais para cada função será realizada de acordo com o capital (BOURDIEU, 1986) que é valorizado em cada atividade. Ou seja, a seleção de um profissional pode variar de acordo com critérios estéticos, técnicos ou de valorização de determinado nome pelo mercado, por exemplo. Além disso, conforme apontam Machado et al (2014) e Oliveira (2013) para a realização das diferentes funções específicas, entre outras atividades que compõem a produção cultural, a contratação é comumente realizada entre as empresas centralizadoras da produção e os profissionais autônomos que possuem registro de Pessoa Jurídica (PJ), sendo a contratação autônoma PJ uma maneira de formalização de tais relações de trabalho.
Assim, com as atividades principais definidas e reconhecida a produtora enquanto empresa articuladora da rede, faz-se necessário entender o que tais interações demandam e como ocorrem. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo entender as relações existentes entre empresa produtora e empresas e profissionais de diferentes atividades vinculadas à produção de filmes, no que se refere sobretudo às formas de contratação e seleção de tais profissionais. Investiga-se aqui além das formas mais comuns de contratação e seleção, as diferenças entre estas relações de acordo com a função. Há diferença nos critérios de seleção, e portanto no capital valorizado, de profissionais de fotografia e de montagem? E no tempo de contrato de profissionais de som e direção?
Para tanto, o estudo se vale de uma survey, realizada com produtoras brasileiras de longas-metragens, e análises quantitativas e estatísticas das respostas obtidas, a partir das quais foi possível elucidar alguns dos pontos aqui apresentados.
Bibliografia
- BOURDIEU, P. The forms of capital. In: RICHARDON, J. G. (Ed.). . Handbook of Theory and Research for the Sociology of Education. Westport: Greenwood Press, 1986. p. 241–258.
DEFILLIPPI, R.; SYDOW, J. Project Networks: Governance Choices and Paradoxical Tensions. Project Management Journal, v. 49, n. 5, p. 6–17, 2016.
KIRSCHBAUM, C. As Redes Intraorganizacionais são Inclusivas? Utopia e Testes. Organizações & Sociedade, v. 22, n. 74, p. 367–384, 2015.
MACHADO, A. F.; RABELO, A.; MOREIRA, A. G. Specificities of the artistic cultural labor market in Brazilian metropolitan regions between 2002 and 2010. Journal of Cultural Economics, v. 38, n. 3, p. 237–251, 2014.
OLIVEIRA, F. DE M. Falso contratado ou empreendedor ? Um estudo sobre a atividade PJ no Brasil. Insper, 2013.
POWELL, W. Neither Market nor Hierarchy: Network Forms of Organization. Research in Organizational Behavior, v. 12, p. 295–336, 1990.