Ficha do Proponente
Proponente
- huilton luiz silva lisboa (UTP)
Minicurrículo
- Tom Lisboa é bolsista Capes, doutorando em Comunicação e Linguagens (Universidade Tuiuti do Paraná), mestre em Photography and Urban Cultures (Goldsmiths, University of London) e Comunicação e Linguagens (Universidade Tuiuti do Paraná).
Ficha do Trabalho
Título
- Os ABBA-tars e os desafios para as próximas fantasmagorias
Formato
- Presencial
Resumo
- Este artigo fará uma breve apresentação do show ABBA Voyage ressaltando os aspectos técnicos, mágicos e fantasmagóricos desta “sessão” de cinema expandido. A seguir, tendo como referências reflexões de Arlindo Machado, e o conceito de pós-tela, de Jenna Ng, será feita uma evolução dos espetáculos analógicos gravados até os ultrarrealistas ABBA-tars. Por fim, utilizando o conceito de Digital Apparition, de Vilém Flusser, serão analisados os desafios para próximas fantasmagorias
Resumo expandido
- Em maio de 2022, o grupo sueco ABBA estreou seu show intitulado ABBA Voyage em uma arena especialmente construída para este evento, em Londres. Afastados dos palcos por cerca de 40 anos, já que sua última apresentação foi em uma rede de televisão sueca no dia 19 de novembro de 1982, este novo espetáculo, na verdade, não marcou sua tão alardeada reunião. Ao emprestarem seus corpos para serem moldados por tecnologias digitais, terem sua aparência rejuvenescida com material de arquivo do final dos anos 1970, serem repaginados com figurinos contemporâneos e inserido seu repertório musical em um cenário repleto de eventos visuais, o ABBA sela definitivamente seu afastamento dos palcos. Em seus lugares, Agnetha Fältskog, Anni-Frid Lyngstad, Benny Andersson e Björn Ulvaeus colocaram o que se denominou ABBA-tars, cópias digitais ultrarrealistas que podem performar um show com qualidades técnicas suficientes para despertar emoções no público, levar ao delírio de seus fãs e, principalmente, nos fazer esquecer que não estamos diante de uma apresentação ao vivo.
Os ABBA-tars, obviamente, não são um acontecimento isolado. Eles pertencem ao universo das fantasmagorias digitais que estão redefinindo (não apenas) o mundo do entretenimento. Em julho de 2023, o sindicato dos atores dos Estados Unidos, o Screen Actors Guild (SAG-AFTRA), exigiu uma maior proteção contra a Inteligência Artificial (IA) para seus membros. Ainda neste ano, a cantora norte-americana Madonna, apesar de já ter utilizado hologramas em sua apresentação no Billboard Music Awards (2019), proibiu sua recriação póstuma com o uso desta ou qualquer outra tecnologia. Há ainda casos chamados de escravidão fantasma (Ghost Slavery), como o de Whitney Houston. Falecida em 2012, a artista retornou aos palcos em 2020 para uma série de apresentações ao redor do mundo levantando sérias questões quanto aos direitos de uso de imagem. No Brasil, um caso que causou polêmica foi o da ressurreição da cantora Elis Regina para estrelar um comercial da Volkswagem ao lado de sua filha, a igualmente cantora, Maria Rita. A este respeito, Giselle Beiguelman, artista e professora livre-docente da FAU-USP, nos colocou uma pergunta fundamental: “que fantasmagorias do presente essas imagens deepfaked, como as de Elis, produzem?”.
Já a questão que ficou em minha mente após o show foi provocada pela lembrança de uma obra que ressurgiu mais atual do que quando foi publicada em 1940: o que falta para as imagens de hoje chegarem ao nível das de “A invenção de Morel”, romance do escritor argentino Adolfo Bioy Casares, onde uma máquina era capaz de gravar e projetar imagens que o protagonista podia tocar, sentir o perfume e dispensava telas de projeção? A perfeição era tal que, em uma passagem, Morel afirmava sobre suas réplicas que “seria mais cômodo pensar que contratei uma companhia de atores, sósias inverossímeis”.
Inicialmente, este artigo fará uma breve apresentação do show ABBA Voyage ressaltando seus aspectos técnicos, mágicos e fantasmagóricos. A seguir, tendo como referências “Pré-cinemas e Pós-cinemas”, de Arlindo Machado, e o conceito de pós-tela, de Jenna Ng, pesquisadora de Film & Interactive Media, da Universidade de York (UK), será apresentada uma evolução de espetáculos analógicos gravados até cinema expandido ultrarrealista dos ABBA-tars. Por fim, utilizando o conceito de Digital Apparition, de Vilém Flusser, os ABBA-tars serão entendidos como primórdios de uma nova era e discorrer-se-á sobre as possibilidades e desafios para novas fantasmagorias atingirem (pelo menos) o nível das da invenção de Morel na gravação e exibição das performances musicais.
Bibliografia
- BEIGUELMAN, Giselle. O deepfake de Elis Regina e as fantasmagorias das IAs. 11 jul. 2023. Disponível em: https://revistazum.com.br/colunistas/elis-regina-ias/. Acesso em: 9 ago. 2023.
BELL, Jonathan. ABBA Voyage director Baillie Walsh on songs, sequins, and virtual spaces. 18 jun. 2022. Disponível em: https://www.wallpaper.com/technology/abba-voyage-director-baillie-walsh-interview. Acesso em: 18 ago. 2023.
CASARES, Adolfo Bioy. (2006). A Invenção de Morel. Tradução de Samuel Titan Jr. São Paulo: Cosac Naif.
FLUSSER, Vilém. (1996). ‘Digital Apparition’ in Electronic Culture: Technology and Visual Representation, ed. Timothy Druckrey (New York: Aperture), 242–5 (244).
MACHADO, Arlindo. (1997). Pré-cinemas & Pós-cinemas. Campinas: Papirus.
NG, Jenna e BAX, Nick. (2023) Spooker Trouper: ABBA Voyage, Virtual Humans and the Rise of the Digital Apparition In: Paragraph. 46, 2, p.160-175.