Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Aly Brenner Nogueira Pereira (UNICAMP)

Minicurrículo

    Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na área de pesquisa “Dinâmicas e Linguagens Políticas” e na linha “Deslocamentos, Desigualdades e Direitos”. Pela mesma instituição cursou Graduação em História, Licenciatura e Bacharelado (2023). Além disso, participou de um intercâmbio acadêmico fomentado pela DERI/UNICAMP e pelo Banco Santander, quando cursou Cinema na Universidade da Beira Interior (UBI), em Covilhã, Portugal (2022).

Ficha do Trabalho

Título

    A tradição oral perante a adaptação cinematográfica sembèniana

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    Diversas histórias criadas por Ousmane Sembène, literato e cineasta senegalês, foram tanto publicadas em livros, como também tornaram-se filmes. Uma delas originou o curta-metragem “Niaye” (1964) e o romance “Véhi Ciosane” (1966). Caracterizada por ser um drama moral, a narrativa é contada por meio de um griô, que também é uma personagem na trama. O objetivo da comunicação é pensar como tal tradição oral aparece nas obras, além de dialogar com a ideia existente de Sembène como um “griô moderno”.

Resumo expandido

    Esta comunicação faz parte da pesquisa de mestrado intitulada “Ousmane Sembène, um griô moderno – a politização pela adaptação cinematográfica-literária no Senegal recém-independente (Niaye, 1964 e Véhi Ciosane, 1966)”, atualmente em vigor no Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na área de pesquisa “Dinâmicas e Linguagens Políticas” e na linha “Deslocamentos, Desigualdades e Direitos”, com orientação da Prof.ª Dr.ª Raquel Gryszczenko Alves Gomes.
    Ousmane Sembène, conhecido como “pai do cinema africano”, foi um literato e cineasta senegalês. Algumas das histórias criadas por ele foram tanto publicadas em livros, como também tornaram-se filmes. Uma delas originou o curta-metragem “Niaye” e o romance “Véhi Ciosane”. Um drama moral que perpassa a família nobre e líder de uma vila no interior do Senegal, em Santhiu-Niaye, no período final da colonização francesa. Ocorre um caso de incesto entre o líder da vila e sua filha – fato que abala toda a comunidade. A narrativa é contada por meio do griô da família, que também constitui uma personagem na história. O objetivo do projeto é estudar a adaptação e linguagens das obras e, em especial, a forma como a tradição oral dos griôs é usada e ressignificada por Sembène – dialogando com uma bibliografia que o coloca como um “griô moderno”. Pelo fato das obras terem sido lançadas na década de 1960, a independência e a construção da recente República Senegalesa também são temas da pesquisa.
    Para esta comunicação, o foco se dará em como a tradição oral aparece nas obras resultadas da adaptação cinematográfica semebèniana: “Niaye” e “Véhi Ciosane”, ambas da década de 1960. Para isso, pensaremos a adaptação utilizando de textos que tratam da temática no cinema, ainda mais no contexto pós-colonial e africano, como “A Literatura Através do Cinema” de Robert Stam e “De l’écrit à l’écran” de Alexie Tcheuyap. Além disso, este trabalho também utiliza de livros que discutem a literatura e o cinema na África Ocidental de língua francesa, afinal, são as categorias onde as fontes analisadas se encontram. A exemplo de “Littérature et cinéma en Afrique francophone”, de Sada Niang e “A chacun son griot”, de Valerie Thiers-Thiam. Esta última, inclusive, trata especificamente do griô em produções artísticas escritas ou audiovisuais do recorte geográfico pesquisado.
    A oralidade aparece nas obras estudadas principalmente através da personagem griô. O caráter dramático é reforçado ao final da história, quando o mesmo desiste de seu trabalho e se desloca da vila. A relação com a tradição oral é fortalecida quando Sembène é visto como um “griô moderno”. Isso se dá pois o seu trabalho “repousa solidamente nesta herança da memória e da tradição oral” (CHAM, 2010, p. 298-299), e ao fazer isso, “entra no combate pela e em torno da história” (loc. cit.). A relação intrínseca entre o seu trabalho e a tradição africana, que tem como alicerce a memória popular, constrói essa visão do senegalês como um “griô moderno”. Desta forma, a tese de Morgana Gama de Lima sobre esta expressão será utilizada, de modo a problematizar e pensar como Sembène passa a ser chamado assim e como as obras pesquisadas dialogam com isso.
    O objetivo ao escolher tais fontes entre os 12 filmes (3 curtas e 9 longas) e 10 livros de Sembène se dá, pois mais do que qualquer outra produção sobre ou com griô, o senegalês coloca esse agente em lugar central nos dois documentos privilegiados. A pesquisa se coloca, assim, como uma proposição de pensar o cinema em conjunto com a literatura africana, em especial, a senegalesa e de Sembène – esta última não muito estudada no Brasil, já que as pesquisas dedicadas ao cineasta se dirigem mais aos seus filmes. Além disso, a comunicação permite complexificar a obra e intelectualidade de Sembène, que foi feita de forma conjunta entre livros e filmes e acompanhada de sua relação com a tradição oral.

Bibliografia

    CHAM, Mbye. História oficial, memória popular: Reconfiguração do passado africano nos filmes de Ousmane Sembène. Projeto História, São Paulo, n. 44, pp. 295-304, jun. 2012.
    LIMA, Morgana Gama de. Griots modernos: por uma compreensão do uso de alegorias como recurso retórico em filmes africanos. Tese (Doutorado). Salvador: Póscom, Universidade Federal da Bahia, 2020.
    NIANG, Sada (org.). Littérature et cinéma en Afrique francophone: Ousmane Sembène et Assia Djebar. Paris: L’Harmattan, 1996.
    STAM, Robert. A Literatura Através do Cinema: Realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
    TCHEUYAP, Alexie. De l’écrit à l’écran : les réécritures filmiques du roman africain francophone. Ottawa: Les Presses de l’Université d’Ottawa, 2005.
    THIERS-THIAM, Valerie. A chacun son griot : le mythe du griot-narrateur dans la littérature et le cinéma d’Afrique de l’Ouest. Paris: L’Harmattan, c2004.