Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    PEDRO ARTUR BAPTISTA LAURIA (UFF)

Minicurrículo

    Doutor em Cinema e Audiovisual pela UFF com estudos sobre o suburbanismo fantástico e os subúrbios estadunidenses. Mestre em Comunicação Social pela UFRJ e graduando em Geografia e Meio Ambiente pela PUC-Rio. Editor chefe do Observatório de Cinema e Audiovisual da UFF (OCA-UFF), diretor geral do OCAst e diretor de um dos pré-vestibulares sociais mais antigos do Brasil, o PECEP.

Ficha do Trabalho

Título

    E.T, Telefone, Faca: A simpatização dos vilões do Slasher pós-1982

Seminário

    Estudos do insólito e do horror no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Com o endurecimento das restrições impostas pela MPAA, os grandes estúdios abandonam o modelo de slashers como Sexta Feira 13 e passam a investir em narrativas de Horror voltadas para o público infantil. O sucesso de Poltergeist e E.T. em 1982 escancara a importância mercadológica do público mais jovem, mudando o tom dos principais slashers a partir daí, que passam a ter vilões mais caricatos, divertidos, ou mesmo com arcos de anti-heróis, o que os ajudam a se consolidar como ícones pops.

Resumo expandido

    A presente comunicação tem como plano de fundo a mudança de tom que ocorreu no subgênero Slasher, um dos mais influentes do gênero de Horror, no início dos anos Reagan. Com o endurecimento das restrições etárias pela MPAA (Motion Picture Association), o pesquisador Richard Nowell demonstra como há uma transição dos estúdios para narrativas de Horror mais infantis, voltadas para um público mais familiar. Um caso exemplar dessas mudanças se dá em 1982 com Poltergeist, obra que junto com E.T. dá início ao suburbanismo fantástico, subgênero que contempla aventuras fantasiosas inicialmente voltadas para o público infanto-juvenil. Nowell aponta que esse movimento é uma virada de 180º para os estúdios que, com o sucesso de Sexta-Feira 13 (1980), estavam investindo em narrativas mais sanguinolentas, cheias de sexo e humor adolescente.
    Exemplo emblemático dessa mudança de tom se deu dois anos depois de Poltergeist com o lançamento de Gremlins. O filme planejado pelo roteirista Chris Columbus como uma obra R, foi influenciado por Spielberg a se tornar, nas suas palavras, mais divertido e familiar na “linha de E.T.”. Assim, mesmo com a permanência de cenas de violência a obra conseguiu a classificação PG, se tornando a terceira maior bilheteira doméstica do ano. Vale lembrar, nesse sentido, que tanto E.T. quanto Gremlins, se tornaram ícones pop – profundamente atrelados a década de 1980, passando a estampar doces, camisetas, pelúcias, material escolar, ganhando jogos de video-game, etc. Como McFadzean explica, E.T. escancara o potencial mercadológico incomparável representado por crianças e jovens de classe média que queriam se ver representadas na tela (2019, p.49).
    Se é inequívoca a influência de E.T. em Gremlins, o objetivo central desta comunicação é demonstrar como o mesmo processo ocorreu com o slasher. Embora os sem conseguir (ou tentar) uma classificação PG ou PG-13, fica claro uma mudança de tom a partir de 1982 nas suas principais franquias, tornando seus personagens mais simpáticos (e, por consequência, comercializáveis) para o público. Em 1984, dois anos após o lançamento de E.T., é lançado Sexta-Feira 13: O Capítulo Final. Na obra, um infantilizado Jason é derrotado pelo pré-adolescente Tommy, vivido por Corey Feldman (que viria a se tornar nome onipresente no suburbanismo fantástico oitentista). Além disso, é a primeira vez que o personagem começa o filme com sua famosa máscara, já demonstrando uma consolidação da sua figura mercadológica. No mesmo ano, é lançado A Hora do Pesadelo, slasher que investe em uma narrativa focada nos dramas adolescentes e na dificuldade de suas relações com pais e autoridades. O vilão, Freddy Krugger, é uma figura lúdica, ácida e carismática, indo de encontro a construção estóica de vilões como Jason e Michael Meyers.
    Essa mudança de tom foi essencial na consolidação de Jason e Freddy como ícones pops. Não há toa, os personagens passaram a também ser comercializados em brinquedos, fantasias e jogos de vídeo-game (com classificação indicativa de apenas “10 anos+” para violência fantasiosa). O mesmo processo seria visto em maior ou menor grau nos filmes seguintes de outras famosas franquias. Enquanto Halloween 4 traz a pré-adolescente Jamie Lloyd para co-protagonizar o filme, O Massacre da Serra Elétrica 2 investe em um Leatherface ingênuo e simpático. O ápice, é claro, é Brinquedo Assassino. Abdicando completamente de cenas de sexo ou nudez, a franquia traz o arquetípico “garoto injustiçado” como protagonista de seus três primeiros filmes. Tal como Freddy, seu vilão, Chucky é cínico, divertido e – até mesmo – anti-heróico. A comunicação irá discutir como, na forma de um boneco, o vilão é o ápice do processo de “simpatização” e comercialização desses personagens.

Bibliografia

    BRITTON, A. Blissing out: the politics of Reaganite entertainment, Movie 3(4), 1-52. 1986
    CLOVER, Carol. Men, Women, and Chain Saws: Gender in the Modern Horror Film. Princeton Unviersity Press, 2015
    McFADZEAN, Angus. Suburban Fantastic Cinema: Growing Up in the Late Twentieth Century. Wallflower Press. Columbia Univesity, NY. 2019
    NOWELL, Richard. Blood Money. 2010. Continuum: New York, 2010
    PETRIDIS, Sotiris. Anatomy of the Slasher Film. North Carolina: McFarland, 2019
    PRINCE, Stephen. A new pot of gold: Hollywood under the electronic rainbow, 1980-1989. Berkeley, CA: University of California Press. 2000
    SILVA, Rodrigo Candido. As Mudanças do Cinema Hollywoodiano nos anos 1980: produção, narrativa e o cinema Blockbuster na Era Reagan. Revista NEP-UFPR. V.3, n.2, p.93-60. 2017
    SIROTA, David. Back to Our Future: How the 1980s Explain the World We Live in Now—Our Culture, Our Politics, Our Everything. New York: Ballantine Books, 2011