Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Ricardo Tsutomu Matsuzawa (USP/UAM)

Minicurrículo

    Graduação em Comunicação Social – Rádio e TV e Especialização em Fundamentos das Artes e Cultura pela UNESP. Mestre em Comunicação Contemporânea e professor da Universidade Anhembi Morumbi. Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na Escola de Comunicação e Artes – USP. Experiência em várias áreas da produção audiovisual com ênfase em Fotografia. Participando de festivais e mostras. Pesquisou a produção do cineasta Wim Wenders.
    http://lattes.cnpq.br/9120849992278402

Ficha do Trabalho

Título

    A cidade dos abismos: Alegoria, visibilidade e resistência

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação tem por objetivo discutir o filme: A cidade dos Abismos (2021) de Priscyla Bettim e Renato Coelho. Em sua fabulação aponta para a indignação e a resistência frente a desumanização e a invisibilidade imposta a uma parcela marginalizada da sociedade que não se adequa a um status quo conservador e preconceituoso. Filmado apenas em película com a utilização de bitolas 35 mm, 16 mm e 8 mm. Alegoricamente monumentaliza referências ao cinema marginal, udigrudi, o cinema da invenção.

Resumo expandido

    Em A cidade dos Abismos a possibilidade do encontro de três personagens que se unem pelo acaso e carregam uma raiva, a justa (Freire, 2021). A indignação a opressão policial e a injustiça social. Resistindo a uma cultura de ódio, cega e cruel. A comunhão entre os diferentes frente ao abismo da indiferença da sobrevivência, o calar dolorido e o individualismo.
    O filme parte de uma storyline onde os protagonistas investigam o assassinato de uma prostituta, mas a obra de desvincula de uma narrativa policialesca e caminha para uma trajetória com estéticas experimentais e apontamentos nostálgicos de uma cinematografia brasileira. Filmado apenas em película com a utilização de bitolas 35 mm, 16 mm e 8 mm. Alegoricamente monumentaliza referências ao cinema marginal, udigrudi, o cinema da invenção (Ferreira, 2016).
    Apresenta dois desfechos: um naturalista com a crueldade verossímil do estado de exceção, presente nas comunidades marginalizadas e uma outra que de forma catártica e alegórica se apropria das suas próprias referencias estéticas e apresenta a justiça possível na fabulação dos oprimidos contra a opressão do estado.
    Realizado em um momento histórico crítico no Brasil. O comando da presidência brasileira na figura antidemocrática de Jair Messias Bolsonaro. Uma presença mítica que promove para a comunidade LGBTQIA+ a desesperança e a sensação de angústia exacerbada, gerando inconformismo e o sentimento de indefensibilidade.
    Horror que transparece do mundo histórico para o filme, Priscyla Bettim uma das realizadoras do filme, que é abertamente crítica ao governo Bolsonaro em entrevista comenta: “O risco desses corpos LGBTQIA+ se tornando ainda mais alvos de atentados de ódio. O filme fala desse momento sombrio, de impunidade. Pensar que a impunidade era uma política pública da morte. Ao mesmo tempo, tem uma questão de força. Pelos laços afetivos dos personagens, que constroem dentro de um pesadelo, e a recusa de aceitar a injustiça. E eles quererem justiça a qualquer custo, até se arriscando para a alcançar. União e afetos”. O mal no filme se apresenta com a desumanização em que a comunidade é alvo com a violência fascista de um individualismo niilista predatório, estrutural.
    O ponto central da reflexão da comunicação discorre sobre a questão da Alegoria histórica, tema trabalhado por Ismail Xavier. A relações entre a alegoria e o mundo histórico e as experiências humanas em suas fabulações. O filme que nostalgicamente e alegoricamente rememora outras alegorias por uma “memória viva do passado” (Xavier, 2004) ressignificando o original do passado, mas não como um passado irrecuperável, mas sobre um novo olhar sobre o atual espírito do tempo. A importância do olhar sobre as alegorias no presente é comentada por Ismail Xavier: “O esclarecimento sobre a estrutura e o sentido da alegoria nos tempos modernos pode ser útil na batalha contra vários tipos de redução mítica ou falsa totalização, especialmente aquelas que levam ao fascismo” (Xavier, 2004, p,379).
    Padre Júlio Lancellotti em improviso no filme afirma: “o amor nos torna imortais, quem ama não morre jamais, e se Maya pudesse dar um recado para vocês, diria não desanimem, não desistam, lutem pela dignidade da vida”.
    A cidade dos abismos, obra de resistência e persistência que resgata a possibilidade do coletivo, da união e das diferenças em seu processo de realização e em suas alegorias estéticas. Proporcionando afetivamente visibilidade e vida na fabulação de personagens excluídos e marginalizados. Afrontando a transparência totalizante de uma arte de consumo descartável. Se impõe pelo amor aos seus personagens e ao cinema.

Bibliografia

    BENJAMIN, W. Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
    CÁNEPA, L.; NASCIMENTO, G. Narrativas insólitas no século XXI: Novo realismo e horror no cinema contemporâneo. IN: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Joinville, 2018. Disponível em: https://www.portalintercom.org.br/anais/nacional2018/resumos/R13-2497-1.pdf. Acesso em: 10/04/2023.
    FERREIRA, J. Cinema da Invenção. São Paulo: Azougue, 2016..
    HAN, B. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Editora Vozes, 2015.
    HAN, B. O que é o poder. Petrópolis: Editora Vozes, 2019.
    HAN, B. Capitalismo e impulso da morte – Ensaio e entrevistas. Petrópolis: Editora Vozes, 2021.
    LYOTARD, J. A condição pós-moderna. São Paulo: José Olympio, 2010.
    XAVIER. I. Alegorias do subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
    XAVIER, I. A alegoria Histórica. In. F. Ramos (organizador). Teoria Contemporânea do Cinema.