Ficha do Proponente
Proponente
- LOUISE LIMA STORNI ROCHA (UERJ)
Minicurrículo
- Cientista Social, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutoranda (2023) do Programa Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre pelo Programa de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui pós-graduação em Sociologia Urbana pela UERJ e Especialização em Gênero e Sexualidade pelo Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM).
Coautor
- Giovanna Marafon (UERJ)
Ficha do Trabalho
Título
- Olhares dissidentes: artivismo e sexualidade crip no audiovisual
Seminário
- Tenda Cuir
Formato
- Presencial
Resumo
- O estudo visa analisar produções audiovisuais que exploram a interseção entre sexualidade e deficiência sob a perspectiva do artivismo crip/aleijado no campo audiovisual. Será abordado um estudo de caso sobre o documentário “Yes, we fuck!” (Espanha), conectando-o ao contexto brasileiro por meio dos filmes não-ficcionais “Transo” e “Assexybilidade”, lançados em 2023. Essas obras buscam afirmar a sexualidade, desafiando a corponormatividade e questionando estigmas ligados aos corpos dissidentes.
Resumo expandido
- O estudo visa investigar como se apresentam novos discursos sobre a sexualidade de pessoas com deficiência a partir do ativismo crip/aleijado no campo audiovisual.
Como ponto de partida, será destacado um estudo de caso realizado em 2019 que objetivou analisar as estratégias do grupo ativista responsável pelo documentário “Yes, we fuck!”, originário de Barcelona (Espanha). Pretendeu-se compreender as origens, tensões e potencialidades enfrentadas pelo coletivo, além de investigar a interação desse grupo com outros coletivos que abordam temas relacionados à corporeidade e transexualidade.
A produção espanhola cria uma ruptura com a maneira tradicional de retratar a sexualidade de pessoas com deficiência, evocando imagens e sensações que suscitam questionamentos sobre a sexualidade humana em geral, como: Quais corpos são considerados desejáveis? Que prazeres são socialmente aceitos? Por que o diálogo sobre sexo no contexto da deficiência é tão limitado? Qual é o papel da arte na representação visual de corpos dissidentes?
Essas questões, ao serem entendidas como ansiedades da população como um todo, faz com que esses tipos de produções cinematográficas não-ficcionais consigam extrapolar uma representação da deficiência que geralmente a posiciona de forma estereotipada em pólos extremos (bem ou mal; desgraça ou superação) provocando, de maneira oposta a essa fraca dualidade, o deslizamento para o campo do não binário, do mutável, da multiplicidade, da potência, do devir.
Em 2024, a atenção se volta para o cenário brasileiro, especialmente para investigar como diferentes grupos artivistas do audiovisual, têm se dedicado à criação crip/aleijada de documentários que exploram a interseção entre sexualidade e deficiência, afastando-se de representações convencionais, caricatas ou moralistas.
Serão examinados os documentários “Transo” e “Assexibylidade”, ambos lançados em 2023. Estes filmes apresentam uma narrativa que, à semelhança do documentário “Yes, we fuck”, reúne reflexões sobre a sexualidade de corpos dissidentes, gerando uma crítica contundente à normatividade corporal e ao capacitismo.
A abordagem teórica deste estudo incorporará o conceito de “sexopolítica”, desenvolvido por Paul B. Preciado (2014), que analisa as relações entre poder, sexualidade e gênero, propondo uma reconfiguração da epistemologia baseada na lógica binária e nas hierarquias.
O estudo também aborda o conceito de “artivismo”, que integra arte e ativismo para promover mudanças sociopolíticas, usando diversas formas artísticas para destacar questões relevantes. Deleuze e Guattari (1980) argumentam que a arte não apenas representa, mas também produz afetos e subjetividades, desafiando normas estabelecidas e permitindo formas de resistência política. Especialmente, destaca-se a interseção entre arte e ativismo em uma perspectiva deficentrada, conforme discutido por Meinerz e Block (2023).
Por isso, o estudo analisa também o conceito “queer/crip” e seu impacto nas coalizões políticas formadas pelos grupos artivistas. Autoras como Larissa Pelúcio (2012) conectam o pensamento queer às críticas pós-coloniais, enquanto a teoria crip, cunhada por McRuer (2006), une os estudos da deficiência e a teoria queer. Cabe destacar que a abordagem crip é mais radical que o “modelo social” da deficiência, pois inclui perspectivas feministas e pós-estruturalistas. No Brasil, essa teoria recebeu a provocativa formulação de Gavério (2015) de que é preciso aleijar as teorias. E seguindo esse raciocínio: por que não aleijar o audiovisual?
Por meio da análise de cenas e personagens, as narrativas audiovisuais dos documentários contribui para ampliar sensibilidades e percepções sobre sexualidade, direito ao prazer e acessibilidade, desestabilizando imagens e agenciando novas práticas. Sendo assim, através de uma perspectiva deficentrada, é possível identificar nos documentários coalizões políticas para a afirmação dos corpos dissidentes e defesa de uma realidade acessível.
Bibliografia
- DELEUZE, Gilles, E GUATARRI, Félix . Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Editora 34, 1980.
GAVÉRIO, Marco. Medo de um planeta aleijado: Notas para um possível aleijamento da sexualidade. Askésis, v. 4, n. 1, p. 103–117, 2015.
MEINERZ, Nádia e BLOCK, Pamela. Retratos defiças: Arte e ativismo deficentrados. Mundaú, n. 13, p. 12-25, 2023.
MCRUER, Robert. Crip theory: cultural signs of queerness and disability. New York: New York University Press, 2006.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus Editora, 2007.
PELÚCIO, Larissa. Subalterno quem, cara pálida? Apontamentos às margens sobre pós- colonialismo, feminismos e estudos queer. Revista Contemporânea. São Carlos, v. 2, n. 2 p. 395-418. Jul.–dez. 2012
PRECIADO, B. Paul. Manifesto contrassexual: práticas subversivas de identidade sexual. Tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: N-1 edições, 2014, 224 p.