Ficha do Proponente
Proponente
- Fernanda Albuquerque de Almeida (USP / FMU FIAM FAAM)
Minicurrículo
- Doutora em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo. Com bolsa do CNPq, finaliza pós-doutorado sobre “Políticas da forma: figurações do amor em Agnès Varda” no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP, onde atua como professora convidada de Estética do Audiovisual na graduação e na pós-graduação. É professora dos cursos de Artes Visuais e Comunicação Social – Rádio e TV do Centro Universitário FMU FIAM-FAAM.
Ficha do Trabalho
Título
- A reinvenção do amor em Resposta das mulheres de Agnès Varda
Formato
- Presencial
Resumo
- O objetivo desta comunicação é explicitar a proposta que subjaz o cine-panfleto Resposta das mulheres: nosso corpo, nosso sexo (1975), de Agnès Varda. Trata-se de um trabalho de análise fílmica e interpretação filosófica que sugere que a reinvenção do amor consiste no elemento fundamental para a compreensão desta proposta particular de contracinema feminista.
Resumo expandido
- O objetivo desta comunicação é explicitar a proposta que subjaz o cine-panfleto Resposta das mulheres: nosso corpo, nosso sexo (1975), de Agnès Varda. Trata-se de um trabalho de análise fílmica e interpretação filosófica que sugere que a reinvenção do amor consiste no elemento fundamental para a compreensão desta proposta particular de contracinema feminista.
O curta de apenas oito minutos foi constituído como uma resposta à pergunta “O que significa ser mulher?” (Qu’est-ce qu’être femme?), feita por Sylvie Genevoix e Michel Honorin para Agnès Varda, Coline Serreau e Nina Companeez, relativa ao programa de televisão F comme Femmes (algo como “M de mulheres”) do canal Antenne 2. Ele possui uma estrutura episódica que, em cinco atos, delineia as provocações que guiam a reflexão proposta. Os episódios iniciam com placas transparentes, seguradas por mulheres que protagonizam o filme e que parecem atrizes não profissionais, nas quais é possível ler os subtítulos escritos em branco. Essa forma de apresentação complementa as aparentes claquetes que, entre uma fala e outra, desnudam suas marcas de manufatura.
Os episódios seguem em um crescendo que pouco a pouco faz pensar sobre a condição existencial das mulheres. Os subtítulos “O que é ser mulher?”, “A mulher”, “As mulheres”, “Todas as mulheres querem ser mães?” e “O que é uma mulher de verdade?” sugerem que não é possível haver uma única resposta para a questão lançada pelo canal de televisão (“O que significa ser mulher?”), dado que não existe apenas uma única forma “verdadeira” de ser mulher, mas várias.
Varda indica que viver como mulher significa encontrar soluções, individuais e coletivas, para problemas compartilhados vinculados a demandas contraditórias. É assim, portanto, que Resposta das mulheres não oferece uma concepção essencialista de mulher quando afirma que ser mulher é viver em/ter um corpo de mulher, mas uma investigação existencial, isto é, vinculada à existência concreta de mulheres que enfrentam problemas íntimos e políticos em uma sociedade patriarcal.
Ao fim do curta, homens e mulheres concordam acerca da necessidade de o amor ser reinventado, em remissão a Uma estação no inferno (1873), de Arthur Rimbaud. A reinvenção do amor parece passar por outras construções de relacionamentos íntimos e sociais, para os quais o desnudamento metafórico-existencial se torna premissa. Apenas ao considerar a mulher na sua integralidade, isto é, não como objeto de contemplação e fetiche, mas como sujeito que igualmente olha, deseja e fala, seria possível construir outras formas de relação e comunidade.
Resposta das mulheres, com sua estrutura episódica marcada por subtítulos apresentados pelas próprias atrizes, enunciações coletivas em endereçamento direto e a inclusão das claquetes, parece corroborar a ideia de que, assim como um filme é construído, as relações íntimas e sociais também são. Em seu elogio ao amor, o filósofo Alain Badiou (2013) associa o amor à “cena do Dois”, porque vinculada à existência compartilhada inaugurada pelo encontro e construída na duração entre duas pessoas. Em seu projeto de reinvenção do amor, Varda parece sugerir uma expansão dessa noção para além do Dois. O amor, como a amizade, estaria na base de diferentes cenas entre pessoas diversas, na intimidade e na coletividade. É assim, portanto, que o amor compõe seu contracinema feminista: pode ser entendido como correspondente à existência compartilhada, construída no encontro com a alteridade, devidamente exposta, reconhecida e acolhida.
Bibliografia
- AGOSTINHO, Larissa Drigo. Desejos ingovernáveis: Rimbaud e a Comuna de Paris + Uma estação no Inferno. São Paulo: N-1 Edições, 2021.
BADIOU, Alain; TRUONG, Nicolas. Elogio ao amor. São Paulo: Martins Fontes – selo Martins, 2013.
HAN, Byung-Chul. Agonia do eros. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.
MULVEY, Laura. Afterthoughts on “Visual Pleasure and Narrative Cinema” Inspired by Duel in the Sun (1946). (1981) In THORNHAM, Sue. Feminist film theory: a reader. Edinburgh University Press, 1999.
MULVEY, Laura. Prazer visual e cinema narrativo. (1975) In XAVIER, Ismail. A experiência do cinema: antologia. São Paulo: Paz & Terra, 2018. (e-book)
VARDA, Agnès. Varda par Agnès. Paris: Cahiers du Cinéma, 1998.