Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Filipe Brito Gama (UFF / UESB)

Minicurrículo

    Filipe Gama é doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (UFF), professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), realizador audiovisual e produtor cultural.

Ficha do Trabalho

Título

    Imagens da Bahia: a produção cinematográfica entre os anos 1910 e 1920

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    A presente comunicação tem como objetivo abordar a produção cinematográfica na Bahia entre as décadas de 1910 e 1920. Para isso, consideramos as duas empresas locais pioneiras, a Photo-Lindemann e a Nelima Films, além de outras firmas brasileiras que realizaram filmagens no estado, circulando entre a capital e o interior. A partir da pesquisa na bibliografia existente e em jornais e revistas do período, buscaremos compreender o perfil dessas empresas e de suas produções cinematográficas.

Resumo expandido

    Silio Boccanera Júnior, em 1919, sugeriu em seu livro “Os cinemas da Bahia” que a “Photo-Lindemann” foi a primeira empresa a produzir filmes em Salvador. A “Lindemann” foi criada pelo alemão Rodolpho Lindemann, fotógrafo de destaque no estado a partir da década de 1880. Em 1906, ele vendeu a empresa para José Dias da Costa, que manteve o chefe de operações Diomedes Gramacho, iniciando uma nova etapa dessa firma.
    É a partir da associação entre a “Photo Lindemann” e o empresário Ruben Pinheiro Guimarães, arrendatário do Teatro São João (que já operava prioritariamente como cinema), que, a partir de 1910, se inicia a produção e a exibição de uma de alguns filmes de não ficção. A estratégia de Guimarães era buscar se diferenciar dos concorrentes, trazendo conteúdos locais exclusivos para sua programação, em um mercado exibidor cada vez mais competitivo.
    Os filmes estavam principalmente associados à eventos esportivos e/ou festivos de Salvador, como o “Carnaval da Bahia de 1911”, além de fitas associadas a interesses políticos, como “Obra do porto da Bahia”. Em 1912, produzem o Lindmann-Jornal nº 1, e, segundo Gramacho, foram feitas mais três edições do cinejornal, duas em 1912 e a última em 1913 (SILVEIRA, 1978). Os cinejornais foram comuns no início da década de 1910, sendo produzidos tanto pelas grandes fábricas estrangeiras quanto por empresas nacionais, geralmente em parceria com os exibidores (FREIRE, 2022). Mas a precária estrutura de produção logo dificultou a continuidade das atividades da “Lindemann”, crise agravada pela morte, em 1915, de Dias da Costa. Gramacho se torna o único sócio e as produções cinematográficas reduzem até o ano do incêndio no prédio onde a empresa funcionava, em 1922.
    Outra empresa produtora de filmes surgiu no fim da década de 1910, quando o João Gaudêncio de Lima, dono do Cinema Ideal, se juntou à José Nelli (ou Nelly) para formar a “Empreza Cinematographica Bahiana”, posteriormente chamada de Nelima Films. Era o italiano Nelli, que já possuía experiência no ofício, quem efetivamente captava e editava as fitas, todas exibidas no Ideal. Walter da Silveira (1978) sugere que a Nelima produziu reportagens e atualidades, em especial propagandas de obras governamentais. Dois dos seus principais filmes estão associados a temas recorrentes na cinematografia brasileira do período: o carnaval e o futebol. Sobre o carnaval, o grande destaque fica para o filme “Carnaval cantado na Bahia, 1920”, que incluía uma pequena parte ficcional, sendo projetado com acompanhamento musical específico. Outro sucesso foi o filme “O América na Bahia”, dividido em 5 partes projetadas nas semanas seguintes aos jogos do América-RJ, contra clubes de Salvador, em setembro de 1921, posteriormente sendo exibido o filme completo. Em trabalhos encomendados pelo Governo Estadual, filmaram diferentes cidades baianas, como Ilhéus e Juazeiro, bem como um material para a Comemoração do Centenário da Independência.
    Além das empresas de origem baiana, outras firmas sediadas em estados do Sudeste passaram pela Bahia em itinerância, captando imagens locais. Citamos aqui três exemplos: Fonseca (2002, p. 177) lembra da presença da Comelli Film, que produziu o filme-propaganda “A indústria do fumo na Bahia”, encomendado pela companhia de cigarro Leite & Alves, sendo exibido em Salvador, em abril de 1921; Rosana Andrade (2016) comenta da firma Mariano Costa & C., que realizou filmagens no Recôncavo da Bahia, durante a feitura do seu “Cine Album Brasil”, em 1922; e Antonio da Silva Barradas foi contratado pelo Governo do Estado, em 1926, para fazer um filme sobre o progresso do Estado, que ficou conhecido como “Riquezas da Bahia”, sendo projetado em Salvador e, posteriormente, no Rio.
    Esta comunicação irá apresentar, portanto, um histórico das empresas baianas e de outras firmas de fora do estado que realizaram filmes na Bahia entre as décadas de 1910 e 1920, bem como tentar construir um panorama dessas produções realizadas no período.

Bibliografia

    ANDRADE, R. de J. O espetáculo das imagens em movimento: o cinema em Cachoeira, cotidiano, cenas de civilidade e sociabilidade (1923-1932). Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia, Santo Antônio de Jesus, 2016.

    BOCCANERA JÚNIOR, S. Os cinemas da Bahia, 1897-1918. Salvador: EDUFBA/EDUNEB, 2007.

    FONSECA, R. N. da S. “Fazendo fita”: cinematógrafos, cotidiano e imaginário em Salvador, 1897-1930. Salvador: EDUFBA/Centro de Estudos Baianos, 2002.

    FREIRE, R. de L. O negócio do filme: a distribuição cinematográfica no Brasil 1907-1915. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna, 2022.

    SANTOS, Isis Freitas dos. “Gosta dessa baiana?” Crioulas e outras baianas nos cartões postais de Lindemann. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.

    SILVEIRA, W. da. A história do cinema vista da província. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1978.