Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Victor Finkler Lachowski (PPGCOM-UFPR)

Minicurrículo

    Doutorando em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (PPGCOM-UFPR), vinculado à linha de pesquisa Comunicação e Cultura; Mestre em Comunicação (PPGCOM-UFPR); Bacharel em Publicidade Propaganda (UFPR). Membro do NEFICS – Núcleo de Estudos de Ficção Seriada e Audiovisualidades. Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE). Escritor, Roteirista e Redator. Apresentador do Massacre Podcast, dedicado à cultura de horror.

Ficha do Trabalho

Título

    JUDEU NAZISTA? As contradições da personalidade autoritária no cinema

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta pesquisa realiza uma investigação das contradições da personalidade autoritária a partir da obra “The Believer” (2003), cujo protagonista é um neonazista de ascendência e vivência judaica. Utiliza-se teoria crítica do fascismo, neonazismo e da personalidade autoritária, sobretudo pelo viés frankfurtiano, e a metodologia crítico-imanente para assim nos revelar como o cinema aborda tais ideias.

Resumo expandido

    Nos anos 60, em “Aspectos do novo radicalismo de direita”, Theodor Adorno (2020) já reconhecia os pressupostos sociais do fascismo que ainda perduram na sociedade, resultados da tendência cada vez mais dominante de concentração do capital. Em sua densa pesquisa “Estudos sobre a personalidade autoritária”, Adorno (2019) explica como o fascismo, tendo como características a adaptabilidade para diferentes realidades sociais tem seus pressupostos assimiláveis por sociedade marcadas pelo desprezo a qualquer valor tido como “não capitalista”.
    Adriana Abreu Magalhães Dias (2018), em seu extenso trabalho de conceituar e mapear movimentos neonazistas no ocidente, define o neonazismo como um conjunto de movimentos heterogêneos, com uma narrativa bidimensional que articula mitologia e biologia, em leituras próprias de elementos históricos, sociais, míticos, biológicos, religiosos, entre outros, dentro de uma racialização nazificada paranóica.
    O indivíduo pertencente a essas derivações novas do fascismo, como argumenta Horkheimer (in Adorno, 2019), é um combinador das ideias e habilidades de uma sociedade altamente industrializada com crenças irracionais e antirracionais, simultaneamente esclarecido e supersticioso, individualista a ao mesmo tempo tem medo de não fazer parte do coletivo, deseja independência mas se submete cegamente ao poder e autoridade.
    Contradições demonstradas pela Escala F, desenvolvida por Adorno (2019) em trabalho com outros diversos pesquisadores, como auxílio para medir índices de fascismo autoritário no psicológico de indivíduos a partir de seus resultados nas escalas AS (Antissemitismo), E (Etnocentrismo) e PEC (Conservadorismo político-econômico). A personalidade fascista observada se reflete nos indivíduos através de conflitos entre desejos e pulsões, o que ocasiona em expressões e discursos ideológicos contraditórios entre si (Ibid, 2019).
    Movimentos contraditórios representados no cinema a partir do final do Século XX, quando o neonazista muitas vezes é alocado ao papel de protagonista em processos de corrupção, barbárie e/ou redenção. Com esses personagens muitas vezes apresentando contradições extremas entre quem são, características pessoas e sociais, e a ideologia nazista, como ser judeu e nazista, a exemplo do protagonista do objeto deste estudo: “The Believer” (2003).
    Encara-se neste trabalho o cinema como importante fonte histórica pois, segundo Davson (2017), os diretores e produtores, ao filmarem uma cena, podem captar “aspectos do real” no registro fílmico, como nos casos de representar ou transparecer em imagem algum tipo de regime autoritário e uma resistência e esse tipo de dominação. O cinema atua então como a comunicação de um zeitgeist e de uma crítica manifesta pela cultura. Enquanto objeto cultural, o cinema é produzido entre práticas e representações, nas quais os sujeitos produtores e receptores de cultura circulam entre esses dois pólos que se correspondem de maneira dialética (Davson, 2017).
    Com isso, esta proposta de pesquisa abrange a perspectiva de Adorno (2002), na qual a cultura precisa ser vinculada às condições da vida material de maneira imanente. A crítica cultural, na sua forma dialética, precisa entender a cultura e sua posição no interior de toda a superestrutura, sendo uma crítica imanente com liberdade para acompanhar a dinâmica do próprio objeto (Adorno, 2002).
    Com essas constatações, a tarefa da crítica dialética é decifrar quais os elementos da “tendência geral da sociedade se manifestam através desses fenômenos” (Adorno, 2002, p. 56-57), fenômenos estes compreendidos como as próprias obras de arte. Pois na obra de arte, ou em qualquer forma de produção cultural, o materialismo-histórico busca arrancar a obra de sua vida determinada, de seu período de composição, para transcendê-la no conjunto de sua historicidade, de maneira a compreendê-la como parte da totalidade do processo histórico do qual faz parte (Benjamin, 2012).

Bibliografia

    ADORNO, Theodor. Crítica cultural e sociedade. In: Indústria Cultural e Sociedade. 5ª ed. São Paulo: Paz & Terra, p. 45-61, 2002.

    ADORNO, T. Aspectos do novo radicalismo de direita. 1ª ed. São Paulo: Edit. Unesp, 2020.

    ADORNO, T. Estudos sobre a personalidade autoritária. 1ª ed. São Paulo: Edit. Unesp, 2019.

    BENJAMIN, W. Sobre o conceito da história. In: LIMA, L. C. Obras escolhidas volume 1: magia e técnica, arte e política. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, p. 241-252, 2012.

    DAVSON, F. P. da S. O cinema como fonte histórica e como representação social: alguns apontamentos. História Unicap, v. 4 , n. 8, p. 263-273, jul./dez, 2017.

    DIAS, A. A. M. Observando o ódio: entre uma etnografia do neonazismo e a biografia de David Lane. Orientadora: Maria Suely Kofes. 2018. 366 p. Tese (Doutorado) – Antropologia Social, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, 2018.

    HORKHEIMER, M. Prefácio. In: ADORNO, T. Estudos sobre a personalidade autoritária. 1ª ed. São Paulo: Editora Unesp, p.