Ficha do Proponente
Proponente
- Rafael de Luna Freire (UFF)
Minicurrículo
- Professor associado do Departamento de Cinema e Vídeo e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. É coordenador do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (LUPA-UFF).
Ficha do Trabalho
Título
- O surto de produção cinematográfica no Rio de Janeiro: 1916-1918
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação irá abordar o aumento na produção cinematográfica no Rio de Janeiro, entre 1916 e 1918, durante a Primeira Guerra Mundial. Esse período foi caracterizado pela abertura de diversas companhias produtoras locais, cujo financiamento vinha de fora do mercado cinematográfico. Baseado em pesquisa inédita, esse estudo de caso pretende trazer uma compreensão mais aprofundada sobre a dinâmica da realização de filmes no Brasil na década de 1910.
Resumo expandido
- A produção cinematográfica brasileira, particularmente no Rio de Janeiro, mas não apenas, prosseguiu ininterruptamente desde a proliferação de salas fixas, a partir de 1907, com a realização principalmente de filmes de atualidades não-ficcionais – os também chamados “naturais” ou “vistas locais”. Mas entre 1908 e 1911, em particular, houve um significativo aumento na produção de filmes ficcionais (“de enredo” ou “posados”) na capital federal. O fenômeno tradicionalmente designado como uma “bela época do cinema brasileiro” – termo revisado por Bernardet (1995), Souza (2004) e outros – ocorreu, na verdade, devido ao súbito aumento na demanda por novos títulos por exibidores concorrentes, sem que o então incipiente serviço de distribuição de filmes fosse capaz de importar filmes estrangeiros inéditos em quantidade suficiente na mesma velocidade (FREIRE, 2022). Entretanto, com a consequente ampliação da importação de filmes novos por um número crescente de distribuidores, não houve mais espaço no mercado para os posados cariocas. Assim a produção local voltou a se concentrar, sobretudo, na realização de filmes “naturais” (Ibid.).
Após o fim do curto e intenso surto de produção de filmes posados no Rio de Janeiro, por volta de 1911, muitos cinegrafistas abandonaram o ofício ou a capital. Contudo, entre 1916 e 1918, houve novamente um inegável incremento na realização de filmes posados na Capital Federal, fenômeno menos percebido pelos historiadores do que o ocorrido entre 1908 e 1911. No contexto da Primeira Guerra Mundial, esse surto de produção foi decorrente da crise no fornecimento de filmes novos estrangeiros aos exibidores brasileiros devido às dificuldades que o setor de distribuição passou a enfrentar. Em uma coluna publicada na imprensa carioca, em fins de 1916, animadoramente intitulada “A indústria dos cinemas”, era expressada claramente a suposta causa do impulso da realização de filmes na capital federal: “Ali está uma vantagem que nos trouxe a guerra europeia: o desenvolvimento entre nós da indústria do cinema, com a fabricação de filmes nacionais” (COMÉDIA, 1916, p.11).
Entretanto, as condições do período 1916-1918 eram diferentes daquelas de 1908-1911. Desde a ascensão dos chamados “filmes extras”, no início dos anos 1910, os filmes posados distribuídos comercialmente cresceram em duração, custo e complexidade em relação aos anos anteriores. No momento abordado por essa comunicação, os filmes locais eram produções mais ambiciosas e longas, geralmente em cinco a sete rolos de duração, que ocupavam todo o programa dos cinemas.
São conhecidas as produções realizadas nesse período por Antonio Leal e Luiz de Barros, tais como A moreninha, Lucíola, Perdida e Vivo ou morto (FREIRE, 2018). Entretanto, mais do que apontar os indivíduos envolvidos na realização dos filmes posados, é importante destacar que o período entre 1916 e 1918 foi caracterizado pela abertura de inúmeras companhias produtoras cinematográficas na capital federal, tais como a Leal-Film, Veritas-Film, Mac’s Film, Theda-Film, Guanabara-Film, Rio-Film, Brasil-Film, Nacional-Film, Kirs-Film, Excelsior-Film, Guerreiro-Film ou Carioca-Film. Além disso, o financiamento desses filmes foi buscado fora do mercado cinematográfico, diferentemente do que ocorreu na década anterior. Por fim, tratou-se de um aumento expressivo ocorrido nesses três anos não apenas na produção de filmes posados, como também de cinejornais.
Tendo em vista a revisão historiográfica sobre o conceito de “ciclos regionais” (ARAÚJO, 2007; AUTRAN, 2010), essa comunicação irá abordar o que estamos chamando de “surto de produção” no Rio de Janeiro, entre 1916 e 1918, enfatizando suas características em termos de modo de produção, financiamento, distribuição e exibição. Baseado em pesquisa inédita, esperamos que esse estudo de caso traga uma compreensão mais aprofundada sobre a dinâmica da realização de filmes no Brasil na década de 1910.
Bibliografia
- ARAÚJO, Luciana Corrêa de. “O cinema em Pernambuco nos anos 1920”. I Jornada Brasileira de Cinema Silencioso (catálogo). São Paulo: Cinemateca Brasileira, 2007.
AUTRAN, Arthur. A noção de “ciclo regional” na historiografia do cinema brasileiro. Alceu. Rio de Janeiro: PUC, v.10, nº 20, jan.-jun. 2010
BERNARDET, Jean-Claude. Historiografia clássica do cinema brasileiro. São Paulo: Annablume, 1995
COMÉDIA: jornal de theatro, v.1, n.2, 16 dez. 1916, p.11.
FREIRE, Rafael de Luna, O negócio do filme: a distribuição cinematográfica no Brasil, 1907-19015. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna, 2022.
FREIRE, Rafael de Luna. O cinema no Rio de Janeiro (1914-1929). In: RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila (orgs.). Nova história do cinema brasileiro. v.1. São Paulo: Sesc, 2018.
SOUZA, José Inácio de Melo. Imagens do passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema. São Paulo: Senac, 2004.