Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Marina Cavalcanti Tedesco (UFF)

Minicurrículo

    Marina Cavalcanti Tedesco é professora do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. Suas pesquisas se concentram em dois eixos principais: direção de fotografia audiovisual e mulheres no cinema latino-americano. Possui importante produção bibliográfica sobre ambos os temas. Atualmente, é bolsista Jovem Cientista do Nosso Estado (FAPERJ) e Bolsista de Produtividade do CNPq – Nível 2.

Ficha do Trabalho

Título

    Renascer (2024): um remake fotográfico?

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    “A direção fugiu aos enquadramentos habituais, ora perscrutando frestas e janelas (como Santinha olhando o bumba-meu-boi, presa em seu quarto, ou como seu pai, Venâncio, vigiando a filha em meio à mascarada), ora sobrevoando o cenário natural em travellings gigantescos, que só se satisfaziam com uma panorâmica superior a 180 graus”. Essa citação parece exaltar a fotografia da telenovela Renascer (2024). No entanto, refere-se ao texto-fonte, de 1993. Seria Renascer um remake fotográfico?

Resumo expandido

    Remakes são recorrentes desde as primeiras décadas da história do cinema. E os motivos para a realização de novas versões de histórias já filmadas podem variar muito. Porém, é comum que se relacionem a questões financeiras. Recontar um sucesso pregresso para um público de alguma maneira familiarizado com dada narrativa tende a ser um investimento mais seguro para os investimentos exigidos na indústria audiovisual (Verevis, 2006).
    Portanto, em tempos nos quais a telenovela enfrenta a concorrência de conteúdos provenientes da TV a cabo e dos diferentes serviços de streaming, não surpreende a frequência com que tal recurso vem sendo mobilizado. Podemos citar como exemplos a escolha de um remake para reinaugurar o horário das 23 horas da TV Globo (O Astro (2011)) (Lopes; Gómez, 2012) e de outro (Pantanal (2022) como grande aposta da mesma emissora na retomada pós-pandemia (Lopes; Piñón; Burnay, 2022).
    Via de regra, um remake gera curiosidade e comparações com o texto-fonte desde seu primeiro anúncio até, no mínimo, o final de sua veiculação. Que atores/atrizes interpretarão determinadas personagens? Os arcos narativos serão os mesmos? Mortes, casais e desfechos se manterão?
    A visualidade, por sua vez, é bem menos comentada. E não parece ser um elemento central para que um produto seja considerado ou não uma refilmagem. Evidentemente, há novas versões nas quais se busca uma fidelidade, também neste nível, ao texto-fonte (um caso bastante extremo disso é Psicose (Gus Van Sant, 1998)). Não obstante, se boa parte das personagens e tramas principais são preservadas, considera-se a nova obra um remake, independente do que aconteça com sua imagem.
    Atualmente no ar, a telenovela Renascer (2024) é, sem dúvidas, um remake. Foi anunciada desta forma, assim vem sendo consumida e atende aos requisitos expostos acima. E, confirmando a tendência ao êxito das refilmagens, tem produzido números surpreendentes. De acordo com matéria online da Folha de São Paulo (Vaquer, 2024), “só nas duas primeiras semanas de exibição, foram consumidas mais de 311 milhões de horas da novela da Globo. O número é 40% maior do que a quantidade de horas consumidas, em todo o mundo, da série mais vista da Netflix no mesmo período”. O texto segue: “Desde a estreia, o alcance semanal de ‘Renascer’ é de 70 milhões de pessoas, índices que streamings como Netflix e Amazon Prime Video demoram quase um ano para conseguir”.
    A direção de fotografia da telenovela, a cargo de Fabricio Tadeu, vem sendo muito bem avaliada, tanto pelo público quanto pela crítica especializada. E, como costuma acontecer quando a visualidade deste tipo de produto se destaca, o elogio mais utilizado é “cinematográfica”. Nessa hora, praticamente ninguém se lembra que se trata de um remake de um produto que, à sua época, também teve tal área, sob responsabilidade de Walter Carvalho, exaltada.
    “A direção fugiu aos enquadramentos habituais, ora perscrutando frestas e janelas (como Santinha olhando o bumba-meu-boi, presa em seu quarto, ou como seu pai, Venâncio, vigiando a filha em meio à mascarada), ora sobrevoando o cenário natural em travellings gigantescos, que só se satisfaziam com uma panorâmica superior a 180 graus”. Essa citação parece se referir a Renascer de 2024. Afinal, na nova versão Santinha espia por uma fresta, seu pai pela máscara do boi e vemos diversos travellings e panorâmicas. Contudo, é um trecho de uma crítica publicada pelo Jornal do Brasil (p.8), em 10 de março de 1993.
    Diante das coincidências encontradas nesta e em outras críticas, e também de um visionamento comparativo da direção de fotografia do texto-fonte e da refilmagem, queremos investigar se podemos pensar Renascer (2024) como um remake fotográfico. Pretendemos, ainda, defender que há bastante tempo as telenovelas da TV Globo têm antecessoras para se inspirar ou refilmar, e que o emprego disseminado do elogio “cinematográfica” revela desconhecimento/preconceito em relação à televisão e às telenovelas.

Bibliografia

    Lopes, Maria Immacolata Vassallo de Lopes; Piñón, Juan; Burnay, Catarina Duff (orgs.). Transformações na Serialidade da Ficção Televisiva Ibero-americana em Tempos
    de Streaming. Santiago: Ediciones Universidad Católica de Chile, 2022.
    Lopes, Maria Immacolata Vassalo de; Gómez, Guillermo Orozco (orgs.). Transnacionalização da ficção televisiva nos países ibero-americanos: anuário Obitel 2012.
    Porto Alegre: Sulina, 2012.
    Martins, Marilia. “Vertigem e requinta na estréia”. Jornal do Brasil, Caderno B, 10 de março de 1993. p.8
    Vaquer, Gabriel. “‘Renascer’: novela da Globo atrai homens e jovens e rouba audiência do streaming”. Folha de São Paulo, 27 fev. 2024, online. Disponível em: https://f5.folha.uol.com.br/televisao/2024/02/renascer-novela-da-globo-atrai-homens-e-jovens-e-rouba-audiencia-do-streaming.shtml
    Verevis, Constantine. Film remakes. Edimburgo: Edinburgh University Press, 2006.