Ficha do Proponente
Proponente
- Marco Antônio Bonatelli Torres (UFF)
Minicurrículo
- Integrou durante três anos o Laboratório de Estudos do Horror e da Violência na Cultura (LEHViC), da UFMS, onde desenvolveu pesquisas sob orientação do professor Doutor Ramiro Giroldo. Também foi curador do cineclube “Sob a Terra”, que teve como objetivo apresentar obras pouco conhecidas do gênero horror para o público de Campo Grande. Atualmente trabalha em sua dissertação, cujo objeto de estudo é o conceito de pós-horror, cunhado já envolto a polêmicas e com extensas produções dedicadas a ele.
Ficha do Trabalho
Título
- O Cinema de Horror Latino-Americano no Contemporâneo: Análise de Casos
Formato
- Presencial
Resumo
- A apresentação discute filmes latino-americanos descritos como pertencentes ao “pós-horror” pela crítica de mídias nos últimos anos. Tal conceito sugere que códigos supostamente transgressivos, com relação àqueles consagrados pelo gênero horror, estejam sendo aplicados em obras contemporâneas. “As Boas Maneiras” (2017), de Juliana Rojas e Marco Dutra, “A Sombra do Pai” (2018), de Gabriela Amaral Almeida, e “Os Que Voltam” (“Los que Vuelven”, 2019), de Laura Casebe, são os objetos dessa análise.
Resumo expandido
- A apresentação discute três longas-metragens a partir de uma suposta tendência que surge nas produções de horror contemporâneas, dentro do contexto histórico-cultural do cinema latino-americano e a partir de análises de caso. Os objetos em questão são dois filmes brasileiros e um argentino descritos como pertencentes ao “pós-horror” pela crítica de mídia nos últimos anos. Cunhado em 2017, esse conceito propõe a ideia de um conjunto elementos aplicados para a construção do filme que seriam transgressivas no que diz respeito a aplicação de tropos consagrados do gênero, sendo possível verificar isso em diversas obras realizadas nos Estados Unidos, Europa e Leste Asiático. Com o tempo, a ideia de que alguns filmes produzidos no sul global também possuem tais características se alastrou. Entre elas, pode-se citar a aposta maior no cinema de autor por parte das produtoras, que traz consigo referências pessoais dos diretores ao gênero; o posicionamento de medos palpáveis no centro das narrativas, como perder um familiar, em uma guinada em direção ao horror “existencial”; e a construção do clima mais atmosférico com relação a produções convencionais, gerando uma relação íntima do filme com o público. A partir da análise estética, narrativa e háptica dos longas “As Boas Maneiras” (2017, Brasil), de Juliana Rojas e Marco Dutra, “A Sombra do Pai” (2018, Brasil), de Gabriela Amaral Almeida, e “Os Que Voltam” (“Los que Vuelven”, 2019, Argentina), de Laura Casabe, será posto em debate se de fato houve a difusão dessa tendência em produções de países fora do eixo hegemônico. Pensar neste corpus de pesquisa através de tal perspectiva é estar diante de uma discussão atual do estudo de gêneros cinematográficos, tendo desdobramentos, inclusive, na forma com que se pode refletir sobre o passado e o futuro do horror. Para tanto, a fala se inicia com uma breve contextualização quanto às polêmicas cercando o termo, passando a seguir para as análises de caso, que apresentam princípios de excesso em três momentos similares nesses três filmes (o toque entre protagonista e ser monstruoso como possibilidade afetiva em um cosmos ficcional que oprime os personagens menos abastados), para, a partir daí, a apresentação se voltar para possíveis ressemantizações verificáveis em cada uma dessas obras, com foco em figuras monstruosas difundidas que surgem em cada produção. Exemplificando, a leitura de “A Sombra do Pai” parte da escolha de Almeida de posicionar zumbis, criaturas que pouco possuem tradição no cinema brasileiro, no centro da trama, buscando a partir daí entender quais portas esses mortos-vivos abrem. Para este trabalho, a partir de códigos de linguagem comuns aos cinema estadunidense (a representação do vodu, que era muito trabalhado nos anos 1930 e 1940, a figura de um feiticeiro como central na trama, questões sociais sendo abordadas frontalmente pela narrativa), e de escolhas sensoriais que sim, se aproximam daquelas descritas como constituintes ao pós-horror, a obra desconfigura um imaginário consolidado e, na verdade, acaba aproximando os seus zumbis daqueles que surgem como figuras míticas em religiões caribenhas – estas simbolizavam a ideia de resistência contra os sistemas coloniais dominantes na região. Porém, o alinhamento que a diretora faz é com a realidade brasileira da década de 2010, trazendo desdobramentos próprios. É possível pensar, com isso, em como as escolhas de “mise-en-scène” desses longas os aproximam ou não de um ideal comum e, o mais importante, como isso diz respeito a uma possibilidade contemporânea de produzir horror para o público da América Latina. O toque do menino lobo e sua mãe antes de um conflito com determinada multidão revoltosa, ou outro, de um fantasma com uma garotinha obrigada a se tornar mulher de forma prematura pela morte da mãe, são cenas de potência ímpar no contexto de produção nacional do Brasil, assim como aquele da mãe dando o peito para uma criança ressuscitada mamar o é para o cinema argentino.
Bibliografia
- AS BOAS Maneiras. Direção de Juliana Rojas e Marco Dutra. Produção de Maria Ionesco e Sara Silveira. Brasil: Dezenove Som e Imagem, Good Fortune Films e Urban Factory, 2017. 1 DVD (135min.).
A SOMBRA do pai. Direção de Gabriela Amaral Almeida. Produção de Rodrigo Sarti Werthein, Rodrigo Teixeira e Rune Tavares. Brasil: Acere e RT Features, 2018. 1 DVD (92min.).
BISHOP, Kyle William. “Dead Man Still Walking: A Critical Investigation into the Rise and Fall . . . and Rise of Zombie Cinema”. Tucson, Estados Unidos da América: 2009.
CÁNEPA, Laura. “Medo de Quê?: Uma História do Horror nos Filmes Brasileiros”. Campinas, Brasil: 2008.
CHURCH, David. “Post-Horror: Art, Genre and Cultural Elevation”. 1. ed. Edimburgo: Edinburgh University Press, 2021.
OS QUE Voltam. Direção de Laura Casebe. Produção de Alejandro Israel. Argentina: Ajimolido Films, La Que Quedaba Films, Mostra Cine, MonteCine, 2019. 1 DVD (92min.).