Ficha do Proponente
Proponente
- Maurício de Bragança (UFF)
Minicurrículo
- Graduado em História e Cinema, com Mestrado em Comunicação e Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é Professor Associado do Departamento de Cinema e Video e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF. Publicou A traição de Manuel Puig: melodrama, cinema e política em uma literatura à margem (EDUFF, 2010) e organizou, com Marina Tedesco, o livro Corpos em projeção: gênero e sexualidade no cinema latino-americano (7Letras, 2013).
Ficha do Trabalho
Título
- O cinema de horror, o medo e a sociedade mexicana dos anos 1930
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Os filmes de horror surgem efetivamente no cinema mexicano com La Llorona, dirigido por Ramón Peón em 1933. A este se seguiu uma série de outros na mesma década. Esta comunicação pretende abordar este repertório para além do eixo de “influências” e “referências” estéticas que pautaram as pesquisas mais recorrentes sobre o início do cinema de horror no México, a fim de tentar responder a questão: de que tem medo a sociedade mexicana dos anos 1930?
Resumo expandido
- Os filmes de horror surgem efetivamente no cinema mexicano nos anos 1930, com La Llorona, dirigido por Ramón Peón em 1933. Antes disso, no cinema silente, percebemos traços de horror em filmes que expunham o lado sombrio das paixões humanas, com seus sofrimentos psíquicos, delírios, efeitos de loucura e paranóias em personagens atormentados, como em La Tigresa (1917), da diretora Mimí Derba ou Obsesión (1917), de Manuel de la Bandera. Personagens alucinados ligados ao fantástico também estão presentes em Hasta después de la muerte (1920), de Ernesto Wollrath, mas a primeira reconhecida produção do cinema de horror mexicano foi o filme perdido Don Juan Manuel (1919), dirigido por Enrique Castilla e que narrava a história de um homem que fez um pacto com o demônio para descobrir o responsável por sua desonra. A presença do demônio no filme traz à baila as discussões sobre o fantástico, que aponta algumas tensões entre o elemento insólito e estranho e aquilo que se compreende dentro de uma tradição ocidental como “o real”.
Durante a década de 1930, o gênero se estabelece de forma mais frequente a partir de La Llorona (1933), de Ramón Peón. A este filme se seguiu uma série de outros na mesma década. Podemos citar, dentre eles, Profanación (1933) e El signo de la muerte (1939), de Chano Urueta, Dos monjes (1934) e El misterio del rostro pálido (1935), de Juan Bustillo Oro, El fantasma del convento (1934), de Fernando de Fuentes, El super loco (1936), de Juan José Segura, El baúl macabro (1936), de Miguel Zacarías, Herencia macabra (1939), de José Bohr e El monje loco (1940), de Alejandro Galindo. Como se pode perceber, formou-se um repertório de uma dezena de lançamentos naquela década, o que marcou uma certa regularidade de produção desse gênero no país. Alguns pesquisadores e pesquisadoras do cinema de horror mexicano já ressaltaram que estes filmes tinham inspiração no cinema expressionista alemão da década anterior e dos filmes de horror da Universal Pictures, mas que não deixavam de incorporar elementos narrativos próprios à cultura mexicana, promovendo uma experimentação estética e narrativa no cinema mexicano daquela década. Se de fato existem referências ao cinema internacional na experimentação estética mexicana, atestadas por determinadas formas de construção da cena bem como na incorporação de procedimentos relacionados à semântica do gênero construída pela matriz hollywoodiana, isso de nada invalida a originalidade desse repertório, que alcançamos com uma pergunta: de que tem medo a sociedade mexicana na década de 1930?
Os trabalhos já desenvolvidos sobre o cinema de horror mexicano da década de 1930 insistem em realçar os aspectos de “influência” e “referências” presentes nos filmes, deixando de lado o que pode ser mais interessante a ser abordado como forma de evidenciar algo que diz respeito ao universo valorativo daquela sociedade.
Esta comunicação pretende recolocar os eixos da discussão que se traçou a respeito deste repertório, deslocando o interesse do viés das “influências” para repensar essa produção a partir daquilo que ela apresenta como debate sociológico no interior da sociedade mexicana da década de 1930. Para tanto, vale a pena observar os medos sociais construídos pelo México pós-revolucionário, a partir de uma análise fílmica de parte desses filmes, associada aos discursos sociais que circulavam naquele contexto. Assim, podemos estabelecer um entendimento da sociedade e de sua produção cultural tendo os códigos do horror como possibilidade de revelar-nos questões que transcendam a própria narrativa dos filmes abordados. O horror, nesses filmes, funciona como um dispositivo capaz de trazer à tona questões que não apenas estavam submersas diante das políticas públicas adotadas pelo Estado pós-revolucionário, bem como tensiona uma série de outros filmes que operavam em lógica nacionalista-revolucionária. Assim, voltamos à pergunta-chave: de que tem medo a sociedade mexicana da década de 1930?
Bibliografia
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