Ficha do Proponente
Proponente
- Luana Almeida (Unifesp)
Minicurrículo
- Formada em Ciência Política e Sociologia pela Unila, especialista em Legislativo, Território e Gestão Democrática da Cidade, e mestranda em Ciências Sociais na Unifesp.
Ficha do Trabalho
Título
- A descrição da mulher brasileira nos anos 1970 e 1980 no cinema de Ana
Formato
- Presencial
Resumo
- A pesquisa tem como objetivo analisar a trilogia da condição feminina de Ana Carolina e compreender como a mulher brasileira das décadas de 1970 e 1980 é descrita nesses filmes, levando em consideração o contexto sociopolítico da ditadura e o movimento feminista que ressurgia no Brasil à época. Busca-se estabelecer conexões entre essa descrição e a intenção de construir uma “nova mulher” que dialoga com questões do movimento feminista emergente no país.
Resumo expandido
- Este trabalho apresenta parte da pesquisa desenvolvida no mestrado em ciências sociais da Unifesp. Compreendemos que o filme é uma fabricação que constitui um espaço-tempo e transpõe a realidade para a tela do cinema. A tela pode ser vista como documento de um habitante de uma época onde há a construção do real em tela, ou seja, um filme nos permite assistir a reorganização dos temas de um período através da visão de uma cineasta e de sua equipe de fabricação sendo cada filme uma obra única, moldada pela visão criativa e pelas escolhas estéticas e narrativas dos artistas envolvidos.
O fenômeno de transposição (Sorlin, 1985), que se opera através do cinema, permite que os cineastas percebam e transmitam sua percepção através de imagens que são reorganizadas em filme. Essa formulação ajuda-nos a pesquisar como está construída uma encenação do universo social nos filmes da realizadora Ana Carolina Teixeira Soares: “Mar de rosas” (1977), “Das tripas coração” (1982) e “Sonho de valsa” (1987).
Usando os filmes citados como interlocutores, indagaremos sobre o tema recorrente que permeia essas obras: a centralidade de figuras femininas e suas histórias, bem como as hierarquias em que se apresentam as relações entre mulheres e homens. O gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas em diferenças percebidas entre os sexos e uma forma primária de significar as relações de poder (Scott, 1995). Nosso objetivo é compreender como as imagens, os sons, a trilha sonora e os gestos estão organizados nos filmes para expressar a percepção de sua equipe de fabricação sobre as discussões do período histórico durante o qual as obras foram criadas.
Os filmes foram produzidos durante o período da ditadura brasileira, quando a repressão dominava o país. Contudo, nesse mesmo contexto, observava-se uma efervescência cultural marcada pelo ressurgimento de discussões feministas acerca da mulher e do feminino na sociedade. Paralelamente, no cenário do cinema brasileiro e internacional, uma série de debates sobre estética, autoria e conteúdo permeava as produções cinematográficas. Esse cenário de efervescência cultural favoreceu o debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres o que nos direciona para a trilogia do feminino e a relação de Ana Carolina com o contexto de fabricação destas obras
Lauretis (1994), ao formular o conceito de “sujeito do feminismo”, propõe um conceito que atua em um espaço ambíguo e exterior ao quadro das representações tradicionais. Essa proposição possibilita a inclusão dos discursos produzidos nas margens, nas entrelinhas e em outras formas de organização das mulheres, os quais frequentemente são excluídos pelas representações convencionais. Assim, podemos questionar na análise fílmica como a trilogia da condição feminina, na descrição da mulher por Ana Carolina, buscou, de alguma forma, responder ao contexto social no qual emergiu, seja contrariamente aos anseios do governo ditatorial, ao fabricar uma imagem de uma “nova mulher brasileira”, seja como forma de responder às discussões feministas da época
Então, buscaremos analisar como se fabricou, por meio de imagens, sons, trilha sonora, movimentos de câmera, etc. na trilogia, uma descrição da mulher brasileira dos anos 1970 e 1980. A pesquisa investigará como essa fabricação da trilogia da condição feminina de Ana Carolina descreveu a mulher nesse período, considerando que essa fabricação ocorreu no contexto da ditadura brasileira (1965-1985) e de um movimento feminista emergente no país. Buscaremos relacionar a descrição de Ana Carolina com a intenção de construir uma “nova mulher” que dialoga com as discussões feministas e analisar o fenômeno de transposição (Sorlin, 1985) que se operou no cinema de Ana Carolina e como o “meio do filme” (Sorlin, 1985) influenciou esse processo.
Bibliografia
- ESTEVES, Cópio, Flávia. “Sob” sentidos do político: História, gênero e poder no cinema de Ana Carolina (Mar de rosas, Das tripas coração e Sonho de valsa, 1977-1986). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2007.HOLANDA, Karla. TEDESCO, Marina C. Feminino e plural: Mulheres no cinema brasileiro/Karla Holanda; Marina Cavalcanti Tedesco (orgs.). – Campinas, SP: Papirus, 2017. – (Coleção Campo Imagético)LAURETIS, Teresa De. A tecnologia do gênero.Tradução de Suzana Funck. In. Tendências e impasses: O feminismo como crítica da cultura/organização de Heloisa Buarque de Holanda. Rio de Janeiro. Rocco, 1994SORLIN, Pierre. Sociología del cine: La apertura para La historia de mañana. Fondo de cultura económica, México, 1985.XAVIER, Ismail. O cinema brasileiro moderno / Ismail Xavier. – São Paulo: Paz e Terra, 2001.XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência, 4° edição