Ficha do Proponente
Proponente
- Juliana Monteiro (UFPE)
Minicurrículo
- Formada em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES – 2016), Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi e doutoranda na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Faz parte do grupo de pesquisa LAPIS (Laboratório de Pesquisa em Imagem e Som) e é professora do curso de Cinema e Audiovisual e de Rádio, Tv e Internet na Universidade Anhembi Morumbi.
Ficha do Trabalho
Título
- O feminino monstruoso em A Criatura de Gyeongseong
Seminário
- Estudos do insólito e do horror no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho tem como objetivo discutir a representação do feminino monstruoso a partir da série A Criatura de Gyeongseong (Gyeongseong Creature, Chung Dong-yoon e Roh Young-sub, 2023), baseando-se na divergência entre as teorias psicanalíticas feministas do cinema ocidental e as tradições Confucionistas presentes na sociedade e cinema coreanos a partir dos textos de Eunha Oh, Hyangjin Lee e Youna Kim.
Resumo expandido
- Em dezembro de 2023, o canal de streaming Netflix lançou a série de terror/ficção científica A Criatura de Gyeongseong (Gyeongseong Creature, Chung Dong-yoon e Roh Young-sub, 2023) em duas partes: a primeira em 22 de dezembro de 2023 e a segunda no dia 5 de janeiro de 2024. O k-drama é ambientado em Gyeongseong – antigo nome da metrópole de Seoul – no ano de 1945, durante o período de domínio colonial japonês. A proposta histórica parte da notícia das quedas das bombas estadunidenses no Japão e apresenta os personagens que darão início a narrativa: Jang Tae-sang, um importante comerciante da região central de Gyeongseong e o Capitão da Polícia Japonesa local Sr. Ishikawa que exige que Tae-sang encontre sua amante desaparecida usando sua influência na cidade. Esse serviço dará início a tenebrosa jornada de Tae-sang e outros personagens em descobrir muito mais do que o paradeiro de uma mulher grávida.
O fenômeno do k-drama no ocidente é para Youna Kim resultado de um fascínio pela alteridade na qual os espectadores encontram narrativas desconhecidas sobre eventos históricos, formas de cultura e comportamento, atrelados a uma sociedade muito diferente da sua (2022, p. 174). Esse encontro entre audiência ocidental e os k-dramas partem do que a autora chama de “cosmopolitismo pop”, em que os fluxos da cultura popular inspiram novas formas de consciência e competência cultural (2022, p. 174). Dessa forma, as narrativas de k-drama possibilitam trocas transculturais, uma vez que possuem enredos singulares valendo-se do hibridismo de gênero e de certas doses de elementos comuns e reconhecíveis a muitas sociedades; no caso de A Criatura de Gyeongseong, esse elemento é o monstro.
Ao ambientar-se no período colonial japonês na Coreia, o k-drama não deixa de abordar as inúmeras violências sofridas pela população local que precisou assumir um nome japonês, teve sua história suprimida das matérias escolares, era proibida de falar a língua original, além de sofrer torturas do exército e da polícia nipônica. A série também explora os diversos experimentos em cobaias humanas realizados pelo exército do imperador resultando na figura de um monstro criado em território coreano; um monstro perfeito para a guerra – e feminino.
Na cultura coreana, as narrativas de transformação humano-animal remontam a época da formação do primeiro reinado, em torno de 2333 a.C com a lenda de Tangun, no qual um urso decide se tornar humano, realiza um sacrifício e consegue seu desejo tornando-se uma mulher (PEIRSE; MARTIN, 2013, p. 2). Nas pesquisas recentes sobre o cinema de horror coreano, destaca-se o papel fundamental das mães em narrativas de fantasmas e monstros (OH, 2013, p. 60). Essa relação se dá uma vez que o lugar do feminino dentro da cultura coreana – em específico – é ditado pelas crenças Confucionistas na qual a mulher é a submissão; e a reprodução é o motivo do seu sucesso (OH, 2013, p. 62). Assim, é importante observar que mesmo que o conceito de monstro seja popular no cinema de horror mundial, o monstro feminino coreano diverge em muitos pontos das teorias feministas ocidentais, como de Barbara Creed e Julia Kristeva, que estabeleceram suas bases na psicanálise em perspectivas que excluem inteiramente as dinâmicas sociais do leste asiático e consideram a experiência feminina errôneamente como universal.
Portanto, o objetivo deste trabalho é discutir como o k-drama A Criatura de Gyeongseong apresenta o monstro feminino distanciado das teorias psicanalíticas ocidentais e dentro das tradições do cinema de horror coreano, reforçando as conexões da série com os filmes de horror coreanos dos anos 1960 que exploram enredos fantasmagóricos femininos, bem como evidenciar a família como ambiente de (in)sucesso da mulher e, por fim, o quanto o processo de hibridismo cultural no k-drama presente na cadeia de streaming global é capaz de alterar elementos substanciais do formato em prol de tornar sua narrativa o mais acessível possível a outras sociedades.
Bibliografia
- AN, Jisoo. Parameters of Disavowal: Colonial Representation in South Korean Cinema. Oakland: University of California Press, 2018.
KIM, Soyoung. Korean Cinema in Global Contexts: Post-Colonial Phantom, Blockbuster and Trans-Cinema. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2022.
KIM, Youna. The Soft Power of Korean Wave: Parasite, BTS and drama. New York: Routledge, 2022.
KIM, Youna. Woman and the Media in Asia: The Precarious Self. New York: Routledge, 2005.
LEE, Hyangjin. Family, death and the wonhon in four films of the 1960s. In: PEIRSE, Alison; MARTIN, Daniel. Korean Horror Cinema. Edimburgo: Edinburgh University Press, 2013. p. 23-34.
OH, Eunha. Mother’s Grudge and Woman’s Wail: the monster-mother and Korean horror filme. In: PEIRSE, Alison; MARTIN, Daniel. Korean Horror Cinema. Edimburgo: Edinburgh University Press, 2013. p. 60-70.