Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Juliana Soares Mendes (PPGCine-UFF)

Minicurrículo

    Doutora pelo PPGCine-UFF com a tese “Poderosa, divertida e feminista”: Construções de discursos de diversidade de gênero e racial na série de bruxas Charmed: Nova Geração (2018-2022). Mestra em Ciências Sociais pelo PPGECsA/UnB (antigo PPG/CEPPAC). Possui graduação em Publicidade e Propaganda pela UnB e em Jornalismo pelo Instituto de Educação Superior de Brasília. É pesquisadora do Programa de Extensão de Ação Contínua Comunicação Comunitária – FAC/UnB.

Ficha do Trabalho

Título

    Wandinha: o debate sobre a diferença nos ambientes do mundo ficcional

Formato

    Presencial

Resumo

    A série Wandinha se insere no mundo transmídia da Família Adamms. Desde 1938, com os quadrinhos de Charles Addams, a franquia gerou novos produtos que ampliam os contornos desse universo. No spin-off em questão, retoma-se o debate sobre se adequar aos padrões sociais. A construção do mundo ficcional cria significados com as escolhas para personagens, tramas e ambientação. Articulando espaço e tempo, sentidos se agregam aos lugares da série, como a Academia Nunca Mais, para discutir a diferença.

Resumo expandido

    As séries audiovisuais constroem mundos ficcionais onde os personagens habitam e as tramas se desenvolvem. A maneira de montar esses arranjos e conteúdo geram sentidos para a audiência, de acordo com a intencionalidade dos criadores. Há uma “fórmula”, explicada por Jean-Pierre Esquenazi como sendo o “instrumento essencial” das séries, uma “máquina de fabricar argumentos” (ESQUENAZI, 2010, p.81), que traz padrões e referências para a criação.
    Como assinala David Herman (2013), há uma atividade inteligente que relaciona a narrativa com estruturas e protocolos existentes previamente. O autor cita formas de perceber uma organização que gera histórias e faz sentido do que é contado, como o estabelecimento de relações causais entre as ações dos personagens.
    Nessa perspectiva, analisamos a série audiovisual Wandinha (Alfred Gough e Miles Millar, 2022-Atual). A obra acompanha a chegada de uma adolescente com poderes psíquicos, Wandinha Addams, em um internato para excluídos. Entre os alunos, temos lobisomens, sereias e seres com habilidades especiais e que sofrem exclusão da sociedade.
    A protagonista ainda se destaca por seu comportamento sombrio e aparentemente pouco afetuoso. Ela é filha mais velha de uma família gótica que subverte as normas dominantes da sociedade. Madelina Barve (2023) aborda essa questão e defende que a Família Addams faz parte de um storyworld transmídia, pois se espalha por diversos textos e suportes.
    A autora diz que, de início, as tirinhas de Charles Addams, publicadas na revista New Yorker em 1938, não traziam sequer o nome da família. Conteúdos foram agregados ao mundo ficcional com as versões de animação, sitcom, filme e musical. Depois de décadas, chegamos em 2022 com a série spin-off, focada na Wandinha.
    É retomado o debate sobre pertencimento à sociedade. Inclusive, durante a narrativa, conhecemos Goody, ancestral da protagonista e acusada de bruxaria. Vemos o aceno a essa personagem histórica trazendo a bruxa como uma metáfora de uma mulher desafiante, como diz Kimberly Wells (2007). A própria Morticia, mãe de Wandinha, pode ser vista como uma bruxa. Heather Greene afirma que, diferente daquelas que vieram antes, Morticia, em A Família Addams (David Levy, 1964-1966) não teve que se conformar, assumindo quem é sem constrangimentos.
    A composição de personagens é um dos elementos mobilizados por João Araújo (2020) quando explica mundos ficcionais. Outros são os ambientes, o enredamento de histórias e as atmosferas. Afinal, o mundo ficcional pode ser entendido como: “estruturas globais imaginárias que organizam os elementos narrativos de uma obra de ficção conforme um conjunto de regras particulares” (ARAÚJO, 2020, p.7).
    Para a análise, nos interessa a ambientação. O autor aponta que há um investimento de significados e algumas ações dos personagens se agregam a esses lugares. A relação se vincula ao conceito de cronotopo de Mikhail Bakhtin (2018), que articula tempo e espaço. Ou seja, “o espaço se intensifica, incorpora-se ao movimento do tempo, do enredo e da história” (BAKHTIN, 2018, p.12).
    Em Wandinha, a ambientação corrobora para o debate sobre ser diferente. A sinopse oficial enfatiza a Academia Nunca Mais. No trailer, vemos esse local comparado com a colorida Escola de Ensino Médio Nancy Reagan, de onde a protagonista havia sido expulsa (e foi chamada de “aberração”). No internato, há a promessa de que Wandinha vai se encontrar com seus pares.
    Esse internato se divide em ambientes menores. Temos o pátrio com a diversidade de personalidades dos alunos, sendo o cenário do embate anunciado com o vilão. A sala da sociedade secreta, no final, provoca a união e proteção dos excluídos.
    Há o quarto dividido por Wandinha e sua futura amiga. A personalidade das duas e as diferenças extremas aparecem na decoração (preto versus colorido). Na formação de laços entre as duas personagens, a premissa da série é debatida com a possibilidade de aliança entre pessoas muito distintas entre si.

Bibliografia

    ARAÚJO, João. Construção de mundos ficcionais em séries para TV e outras telas. Salvador: Benditas, 2020.
    BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance II: as formas do tempo e do cronotopo. São PAULO: editora 34, 2018.
    BARVE, Madelina. Unsettling Norms: Negotiating Dominant Culture in ‘The Addams Family’. (Dissertação de Mestrado) Suécia: Malmö University, 2023.
    GREENE, Heather. Lights, camera, witchcraft. Minnesota: Llewellyn Publications, 2021.
    ESQUENAZI, Jean-Pierre. As séries televisivas. Lisboa: Texto & Grafia, 2010.
    HERMAN, David. Storytelling and the sciences of mind. Cambridge: The MIT Press, 2013.
    WELLS, Kimberly. Screaming, flying, and laughing. (Tese de doutorado) Texas: Texas A&M University, 2007.