Ficha do Proponente
Proponente
- Julianna Nascimento Torezani (UESC)
Minicurrículo
- Mãe de Lis. Professora de Fotografia e Iluminação do Curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, Bahia. Doutora em Comunicação pela UFPE (2018) e Mestra em Cultura e Turismo (2007) e Bacharela em Comunicação Social (2003) pela UESC. Autora do livro “As selfies do Instagram: os autorretratos na contemporaneidade” (Editus, 2022). Coordenadora do projeto de pesquisa “Análise da Direção de Fotografia de Documentários Brasileiros”. E-mail: jntorezani@uesc.br
Ficha do Trabalho
Título
- A fotografia da crise da lavoura cacaueira no filme Os Magníficos
Seminário
- Estética e plasticidade da direção de fotografia
Formato
- Presencial
Resumo
- O documentário Os Magníficos, dirigido por Bernard Attal (2009), aborda a fase áurea, a falência e a superação da lavoura cacaueira no sul da Bahia. O objetivo do trabalho é analisar a cinematografia que apresenta a decadência social da região. Através da decupagem técnica das cenas, pelos enquadramentos, angulações e esquemas de iluminação, observamos que os lugares demonstram abandono e deterioração das arquiteturas causada pelo tempo e pela falta de investimento e cuidado.
Resumo expandido
- A direção de fotografia busca elaborar as imagens de acordo com as histórias que serão apresentadas e expressa as diferentes sensações na tela. Nos documentários, as locações e o trabalho de câmera colaboram para apresentar as narrativas de lugares que passaram por distintas fases que vão do apogeu à decadência. Tendo em vista que Nichols (2016) expõe que o cinema documentário traz um novo olhar sobre os acontecimentos do mundo, buscando discutir as questões sociais e tratando criticamente a realidade.
O documentário Os Magníficos, roteirizado e dirigido por Bernard Attal (2009), apresenta três momentos do ciclo da economia cacaueira no Sul da Bahia: o modo de vida com fartura e desperdício por conta da ascensão da renda dos produtores; a crise causada pelo fungo da vassoura-de-bruxa que devastou a plantação; e, a reconstrução socioeconômica da lavoura através de resultados de pesquisas sobre a doença, o que gerou um chocolate de qualidade produzido na região. Nesta perspectiva, é importante questionar como a direção de fotografia pode apresentar essas três fases, em atenção aos lugares que foram escolhidos para compor as imagens.
O objetivo do trabalho é analisar a cinematografia quanto aos esquemas de iluminação, enquadramentos e angulações que demonstram a fase área e a decadência econômica gerada para o cultivo do cacau. Para o referencial teórico foram utilizadas as ideias de David Bordwell e Kristin Thompson (2013) sobre a iluminação e a escolha de cenários, como elemento que pode moldar a forma como a história será apresentada, no caso do filme analisado, os locais que demonstram a mudança econômica que ocorreu na região e de Rodrigo Carreiro (2021) sobre enquadramentos e angulações do filme, visto que o objetivo da direção de fotografia é elaborar a melhor forma de contar a história.
Para Bill Nichols (2016), o cinema documentário traz um novo olhar sobre os acontecimentos do mundo, buscando discutir as questões sociais e tratando criticamente a realidade. Também nesta perspectiva, será discutido o conceito de “voz’ no documentário, a partir dos estudos de Bertrand Lira (2023), como a forma de organização da matéria-prima na estruturação de uma narrativa, que confere estilo a cada obra. Esse conceito é importante para observar quais pessoas foram escolhidas para contar suas histórias em detrimento as que não foram acolhidas no filme. Tendo em vista que o objeto de estudo é um documentário construído através das memórias das pessoas é importante abordar esta construção fílmica pelas lembranças dos entrevistados. Luiz Augusto Rezende (2013) afirma que os documentários são produzidos através de testemunhos que permite narrar a sobrevivência do passado no presente. Anderson de Jesus Costa e Glauber Barreto Luna (2013), por sua vez, apontam que a memória sofre uma influência do tempo, pois é uma construção social a partir daquilo que foi vivenciado em determinado espaço e tempo histórico.
A partir de uma pesquisa documental, o filme foi analisado a partir dos aspectos estéticos e técnicos da direção de fotografia quanto aos enquadramentos, angulações e esquemas de iluminação. Também destaca-se a escolha dos entrevistados, com ênfase nos fazendeiros de cacau, faltando a voz dos trabalhadores que muito sofreram com a crise pela escassez do cultivo para a venda.
O documentário mostra que após as décadas de grande ganho pelo cultivo do cacau, com ampla circulação de dinheiro na região e a falta de planejamento, a crise econômica veio modificar esta sociedade que precisou de resultado de pesquisa e investimento para sua reestruturação. Cenas muito escuras, iluminação difusa, contraluz, contraplongée formam a composição de imagens que apresentam as fazendas de cacau e os prédios da área urbana em deterioração, tanto causados pelo tempo e falta de manutenção e cuidado. Riqueza, ascensão social, crise, decadência e superação são apresentados pelos depoimentos e imagens que marcam um século de história.
Bibliografia
- BORDWELL, David.; THOMPSON, Kristin. A arte do cinema: uma introdução. Trad.: Roberta Gregoli. Campinas: Ed. da Unicamp; São Paulo: Editora da USP, 2013.
CARREIRO, Rodrigo. A linguagem do cinema [recurso eletrônico]: uma introdução. Recife: Ed. UFPE, 2021.
COSTA, Anderson de Jesus.; LUNA, Glauber Barreto. O fim e o princípio: memórias no sertão. In: CÂMARA, Antônio da Silva; LESSA, Rodrigo Oliveira (orgs.). Cinema documentário brasileiro em perspectiva. Salvador: EDUFBA, 2013.
LIRA, Bertrand. Mise-en-scène e cinematografia na construção da narrativa documental. In: SÁ, Ana Carolina R. M.; BESEN, André Fonseca; BOMFIM, Felipe C.; MORAES, Maria Fernanda Riscali L. (orgs.). Estudos sobre a direção de fotografia no Brasil. Porto Alegre: Fi, 2023.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Trad.: Mônica Saddy Martins. 6. ed. Campinas: Papirus, 2016.
REZENDE, Luiz Augusto. Microfísica do documentário: ensaio sobre criação e ontologia do documentário. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2013.