Ficha do Proponente
Proponente
- Murilo de Castro (FAP/UNESPAR)
Minicurrículo
- Mestrando em Cinema e Artes do Vídeo pela FAP/UNESPAR na linha de pesquisa de Teorias e Discursos no Cinema e nas Artes do Vídeo. Na pesquisa acadêmica se interessa pelos pontos convergentes entre cinema, política e cultura. Atualmente desenvolve pesquisas sobre horror, morte e luto no cinema. Possui foco na filmografia do cineasta Gaspar Noé. Já ministrou cursos sobre o cinema extremo europeu. É internacionalista graduado em Relações Internacionais pela Universidade Positivo (UP) de Curitiba.
Ficha do Trabalho
Título
- Entre Lobos e o Oculto: Horror e Fascismo no Cinema do Cone Sul
Seminário
- Estudos do insólito e do horror no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- A presente pesquisa visa discutir as representações políticas do fascismo no realismo fantástico do cinema de horror sul-americano de Cristóbal León, Joaquin Cociña e Cristian Ponce. Os filmes postos em análise serão o chileno ‘La Casa Lobo’ (LEÓN; COCIÑA, 2018) e o argentino ‘Historia de lo Oculto’ (PONCE, 2020), a fim de levantar usos do histórico político dos dois países. Ao método, será utilizada a análise fílmica de Vanoye e Goliot-Lété, junto de fontes correlatas da política dos países.
Resumo expandido
- A história, a política, a cultura e o cinema sempre estiveram presentes em zonas correlatas do estudo da comunicação. O cinema se mostrou como forte agente político desde seu início. Os regimes do século XX bem utilizaram da então recente ferramenta comunicativa. Por um lado, Hitler e Goebbels buscaram a cooperação do diretor de ‘Metropolis’ (LANG, 1927), Fritz Lang, e deram espaço para a carreira de Leni Riefenstahl como realizadora. Por outro, Eisenstein se juntou ao camarada Stálin em sua obra inacabada de três volumes, ‘Ivan Grozniy’ (EISENSTEIN, 1944) e Vertov gravava o diário soviético em ‘Kino-Glaz’ (VERTOV, 1924) e ‘Tchelovek s Kinoapparatom’ (VERTOV, 1929).
Para além da propaganda, a crítica política e a denúncia de crimes do passado também são de forte uso dentro do complexo cinematográfico. Sendo assim, certos gêneros trabalham com maestria tal relação. Para além do documentário e do drama histórico, o horror carrega um papel fundamental dentro do plano alegórico-representativo, através do realismo fantástico. Tão é verdade que, para além do audiovisual, tal dinâmica também é trabalhada na literatura, visto a potência de ‘A Casa dos Espíritos’ de Isabel Allende, e ‘Nossa Parte de Noite’ de Mariana Enríquez.
Com isso em mente, voltamos nossa atenção ao cinema de horror sul-americano, filho histórico da grande poça de sangue que a Operação Condor deixou na região. Onde, o Chile e a Argentina apresentam expoentes categóricos. Em 2018, Cristóbal León e Joaquín Cociña apresentaram ao mundo a animação ‘La Casa Lobo’, onde a jovem Maria acaba encontrando abrigo em uma pequena cabana após fugir da colônia onde residia, no sul do Chile. Usando do clássico infantil ‘Os Três Porquinhos’, León e Cociña constroem o medo e o desconforto usando dos anos da barbárie fascista de Augusto Pinochet, uma vez que Maria era moradora da Colônia Dignidade, comunidade fundada pelo nazista Paul Schäfer, que serviu como campo de tortura e extermínio de dissidentes do regime de Pinochet. Dois anos depois do chileno, em 2020, Cristián Ponce nos aproxima da realidade argentina dos anos 80 com ‘Historia de lo Oculto’, onde uma conspiração política é denunciada na última edição de um renomado programa televisivo. O longa de Ponce pisa nas entranhas racistas de Lovecraft e reafirma a capacidade crítica do horror cósmico. Assim sendo, a presente pesquisa se propõe a discutir as representações da recente história política da região no cinema de horror.
Ao método, a consideração teórica levantada para o estudo foi a análise fílmica de Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété, encontrada no texto “Ensaio sobre a análise fílmica”, de 2008. Para Vanoye e Lété, o analista fílmico é capaz de levantar uma série de conceitos e elementos da obra em questão, assim criando uma leitura própria, também trazendo a possibilidade do analista utilizar de demais obras teóricas relacionadas ao tema estudado para construir e reforçar seus apontamentos. Além disso, aqui, o prazer e o trabalho são contrapostos, uma vez que os autores colocam em distinção o “espectador normal” do “analista”. Com isso, é possível criar uma desfragmentação nuclear do texto fílmico e analisar conceitos dentro de algumas variáveis.
Com isso, além do ensaio de Vanoye e Goliot-Lété e dos filmes, serão utilizadas fontes como o estudo da pesquisadora alemã Meike Dreckmann-Nielen, intitulado “Die Colonia Dignidad zwischen Erinnern und Vergessen: Zur Erinnerungskultur in der ehemaligen Siedlungsgemeinschaft”, o livro do cientista político argentino Marcos Novaro, intitulado “Historia de la Argentina: 1955 – 2020”, estudos sobre a Operação Condor e demais documentações oficiais dos respectivos governos.
Por fim, o estudo também tem o intuito de relembrar a capacidade crítica e criativa da qual o horror é provido. Uma vez que o medo está longe de ser apenas produto do metafísico.
Bibliografia
- REFERÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS
HISTORIA DE LO OCULTO. Direção: Cristián Ponce. Produção: Pedro Saieg. Roteiro: Cristián Ponce. ARGENTINA; MÉXICO: Tangram Cine, Morbido Films, 2020. (82 min), son., p&b.
LA CASA LOBO. Direção: Cristóbal León; Joaquin Cociña. Produção: Catalina Vergara; Niles Atallah. Roteiro: Cristóbal León; Joaquin Cociña; Alejandra Moffat. CHILE: Diluvio; Globo Rojo Films, 2018. (75 min), son. color.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARROLL, Noël. A filosofia do horror ou os Paradoxos do coração. Campinas:
Papirus Editora, 1999.
DRECKMANN-NIELEN, Meike. Die Colonia Dignidad zwischen Erinnern und Vergessen: Zur Erinnerungskultur in der ehemaligen Siedlungsgemeinschaft. transcript Verlag, Bielefeld, 2022.
NOVARO, Marcos. Historia de la Argentina 1955, 2020. 1ª ed. Buenos Aires: Siglo
Veintiuno Editores, 2021.
VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. 5ª ed.
Campinas: Papyrus, 2008.