Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Rafael Garcia Madalen Eiras (UFF)

Minicurrículo

    Rafael Garcia Madalen Eiras é Doutorando em Cinema pelo PPGCine/UFF-RJ, Mestre em Humanidades, culturas e Artes (PPGHCA- UNIGRANRIO (2020). Graduado em História pela Universidade Cândido Mendes (2015) e Graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2007). Além de uma especialização em Fotografia e Imagem pela Universidade Cândido Mendes (2009). Rafael tem uma larga experiência como freelance no mercado audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    QUILOMBO VERSUS MEMÓRIAS DO CARCERE: um discurso de rivalidade.

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho propõe uma análise do discurso de rivalidade entre os filmes Quilombo, do diretor Carlos Diegues e de Memórias do Cárcere de Nelson Pereira dos Santos, no momento em que os dois filmes são selecionados para o festival de Cannes de 1984. Desta forma, se entende as obras como documentos produzidos no fim da ditadura militar brasileira. No entanto, cada uma tem uma abordagem particular desse momento e são percebidas na mídia do país de formas antagônicas.

Resumo expandido

    O trabalho propõe uma análise do discurso de rivalidade entre os filmes Quilombo, do diretor Carlos Diegues e de Memórias do Cárcere de Nelson Pereira dos Santos, no momento em que os dois filmes são selecionados para o festival de Cannes de 1984. Desta forma, se entende as obras como documentos produzidos no fim da ditadura militar brasileira. No entanto, cada uma tem uma abordagem particular desse momento e são percebidas na mídia do país de formas antagônicas.
    Diegues retrata a história de Palmares através da alegoria que coloca as demandas populares do período na dinâmica social. Com suas cores plásticas, a trilha sonora constrói um universo circular e mágico, o filme mostra a trajetória de resistência à escravidão colonial, mas a representação do passado aponta para o futuro.
    Já Nelson Pereira dos Santos usa do realismo crítico para recria os 10 meses da vida de Graciliano Ramos no ano de 1936, em que o escritor esteve detido sob a acusação de comunismo. Ramos passa por diversos locais e interage com presos políticos e comuns. Uma relação crítica ao fascismo, ao autoritarismo, não só existentes no período Vargas, como também a própria ditadura militar no qual o filme é produzido.
    Filmes que a princípio lidavam com o mesmo tema de abordagens diferentes acabam, devido à participação em Cannes no ano de 1984, percebidos através de uma atmosfera de competição. Enquanto Quilombo é selecionado para a competição oficial. Memórias do Cárcere entra na Quinzena dos Realizadores. O que gera uma tremenda frustração na mídia e na classe artística do período. O filme de Nelson acaba ovacionado ao ganhar o prêmio da crítica internacional. Já Quilombo chega ao Brasil com o apelido de Quitombo, devido à suposta falta de brilho de sua participação no festival.
    Essa articulação discursiva, já pode ser percebida no final do ano de 1983, quando os dois filmes brasileiros seriam possíveis participantes do festival de Cannes, na matéria para A Folha de S. Paulo, do dia 3 de dezembro de 1983: Duelo entre Zumbi e Graciliano: ‘Quilombo’ e ‘Memórias do Cárcere’, dois filmes nacionais se preparam para competir em Cannes.
    No texto, Sérgio Augusto relembra que no ano de 1964 houve a disputa em Cannes de Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha) e pontua ao revelar a possível participação dos filmes: “Um novo duelo de titãs promete reabilitar parcialmente a fama desairosa de 1984 (…) Por coincidência, ainda, ambos tratam de uma questão fundamental – a liberdade” (AUGUSTO, 1983, p.43). O texto se divide visualmente para projetar esse duelo. De um lado se encontra Nelson Pereira com um filme realista que crítica, através do passado, a sociedade em que é produzido. Uma retomada e um ponto final na perspectiva sociopolítica cinemanovista, “cuja experiência do cárcere é agora assumida como uma alegoria dos anos de chumbo quando se consolida a abertura” (XAVIER, 2001, p. 36). Por outro lado, o filme de Diegues é uma narrativa de simulacro, que não adere ao realismo crítico, como feito em 1963 com Ganga Zumba e que ainda se propõem a pensar um povo brasileiro através do popular.
    Porem, não há como perceber essa rivalidade de forma natural, pelo contrário, eles têm muitos pontos de diálogos do que de oposição. Como percebeu o crítico José Carlos Avellar no dia 22 de maio de 1984: “no meio da produção mundial selecionados para o festival, eles parecem mais próximos e parecidos do que se pode supor. (…) Um canta o canto triste da ema, o outro o eldorado que existiu / existirá.”(AVELLAR, 1984, p.41).
    O que se entende através de José Carlos Avellar é que o filme de Nelson tem um reflexo do intelectual branco, que mesmo já dentro de uma lógica dissonante e de sentidos fechados, perdido em um mundo contemporâneo, ainda é regido pela hegemonia da modernidade. Ou seja, Quilombo promove uma ida para além do moderno, ele tinge tintas que o mundo eurocêntrico não entende.

Bibliografia

    AUGUSTO, Sergio. O duelo entre Zumbi e Graciliano : ‘Quilombo’ e ‘Memoeria do Carcere’, dois filmes nacionais, se preparam para competir em Cannes.A Folha de São Paulo. São Paulo, 3 de dezembro, p.43, 1983. Ilustrada.
    AVELLAR, José Carlos. As imagens de Diegues e a música de Gil na alegoria de Quilombo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 de Maio de 1984. p.41. Caderno B. Disponível em
    MEMÓRIAS do cárcere. Nelson Pereira dos Santos. Produções Cinematográficas L. C. Barreto Ltda.; Regina Filmes, 1984. 35mm. (173min)
    QUILOMBO. Direção de Carlos Diegues, 1984. Rio de Janeiro: CDK Produções Cinematográficas Ltda.; Embrafilme; Gaumont, 1984. 35mm (127 min)
    XAVIER, Ismail. Cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.