Ficha do Proponente
Proponente
- Cristiane do Rocio Wosniak (UNESPAR / UFPR)
Minicurrículo
- Doutora e Mestra em Comunicação e Linguagens – linha de pesquisa em Estudos de Cinema e Audiovisual (UTP). Docente adjunta da Unespar (Bacharelado em Cinema e Audiovisual). Vice-Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV/Unespar). Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR. Líder do GP CINECRIARE – Cinema: criação e reflexão (PPG-CINEAV) e membro do GP Labelit – Laboratório de estudos em educação, linguagem e teatralidades (PPGE).
Ficha do Trabalho
Título
- “VESTIDO DE NOIVA” DE JOFFRE RODRIGUES: ADAPTAÇÃO OU (TRANS)CRIAÇÃO?
Formato
- Presencial
Resumo
- A proposta da comunicação é analisar as práticas hiperestéticas ou transformações de uma linguagem em outra, a partir de excertos – abertura e planos iniciais – do filme “Vestido de Noiva” (2006), do cineasta Joffre Rodrigues, tendo por ponto de partida o texto da peça teatral, também denominada “Vestido de Noiva” (1941), escrita por seu pai, o dramaturgo Nelson Rodrigues. Assim, cotejamos duas formas de linguagem em relação de adaptação ou (trans)criação: a literatura e o cinema.
Resumo expandido
- A investigação parte das seguintes questões norteadoras: de que forma e com que meios o cineasta deriva a mise-en-scène descritiva até certo ponto infiel – espaço e tempo – da personagem Alaíde, na abertura e planos iniciais do filme, a partir da narrativa teatral? As possíveis inversões da ordem das cenas, focalização de objetos e adereços significativos realçando a narrativa e perspectiva de personagens – no filme – poderiam se constituir em elementos de caráter (trans)artístico vinculados especificamente ao discurso cinematográfico?
Como ancoragem teórica, para embasar a discussão analítica aqui empreendida, trazemos os pressupostos de Gérard Genette em “Palimpsestes: la littérature au second degré” (1982), que serão aferidos à premissa de que o filme “Vestido de Noiva” pode ser lido como um texto palimpséstico; uma espécie de prática artística derivada de texto verbal, mas que também opera com qualidades e elementos codificados próprios à sua linguagem, o cinema, no sentido de subverter ou transformar algumas equivalências linguísticas neste percurso de (in)fidelidade literária.
Genette reconhece que um palimpsesto é uma espécie de pergaminho cuja primeira inscrição foi raspada para se traçar outra, mas que não a esconde de fato, sendo possível ler, em camadas sobrepostas, ambos os textos: o antigo e o(s) novo(s) sucessivamente. Assim, o autor caracteriza palimpsestos – leia-se: hipertextos –, todas as obras derivadas de uma outra obra anterior, quer seja por transformação ou por derivação.
A teoria transtextual genettiana estabelece uma hipótese, segundo a qual um texto frequentemente poderá ser lido e ler outros textos. De acordo com o autor, os textos podem ser transformados ou imitados, visto que, “nenhuma arte, por natureza escapa a esses dois modos de derivação que definem a hipertextualidade na literatura e que, mais genericamente, definem todas as práticas artísticas de segunda-mão, ou hiperatísticas (GENETTE, 1982, p. 536).
Robert Stam, por sua vez, em “Do Texto ao Intertexto” (2003, p. 233), parece corroborar a assertiva de Genette, quando afirma que a hipertextualidade possui amplo uso e aplicação no campo do cinema, especialmente nos “filmes derivados de textos preexistentes”, como é o caso desta investigação. Stam também se detém sobre as questões – tensas – que envolvem as noções de fidelidade ou infidelidade aplicadas às adaptações cinematográficas.
O texto [de partida] foi publicado em 1941 e foi encenado, pela primeira vez, na data de 28 de dezembro de 1943, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, por meio da performance do grupo teatral Os Comediantes, enquanto que o filme “Vestido de Noiva” – versão específica trazida como objeto empírico da investigação –, estreia em 2006 e tem roteiro e direção de Joffre Rodrigues, com produção de Frederico Lapenda e edição de Eric Marin. As personagens Alaíde e Madame Clessi são representadas, respectivamente, pelas atrizes Simone Spoladore e Marília Pêra. Letícia Sabatella, faz o papel de Lúcia, a irmã de Alaíde, enquanto o marido adúltero, Pedro, é representado pelo ator Marcos Winter.
Em nossos estudos acerca da transtextualidade de Genette, sobretudo a noção de hipertextualidade, percebemos que, no caso desta análise, efetuada a partir da peça e do filme Vestido de Noiva, estamos no campo das (trans)criações abertas e temáticas nas quais “a transformação do sentido, manifestada e até oficialmente, faz parte do propósito.” (GENETTE, 1982, p. 292).
Ao longo da análise é possível demonstrar algumas ocorrências de transformações da mise-en-scène [descritiva e cênica] localizadas em excertos de duas obras ou linguagens artísticas, a partir do recorte que se concentrou na possibilidade da existência de um possível caráter (trans)artístico do discurso cinematográfico, em relação ao uso de variações e inversões de cenas para adaptar – extrair e adicionar –, trechos da peça teatral considerados de maior relevância para a tela do cinema.
Bibliografia
- BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. A arte do cinema: uma introdução. Trad. Roberta Gregoli. Campinas-SP: Editora da Unicamp, 2013.
GENETTE, Gérard. Palimpsestes: la littérature au second degré. Paris: Éditions du Seuil, 1982.
HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Trad. André Cechinel. 2ª ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013.
RODRIGUES, Nelson. Vestido de noiva. Ed. especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2022. (Coleção Clássicos para Todos).
STAM, Robert. Do texto ao intertexto. In: STAM, Robert. Introdução à teoria do cinema. 5ª. ed. Campinas-SP: Papirus, 2003, p. 225-236.
STAM, Robert. A literatura através do cinema: realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008.
VESTIDO DE NOIVA. Dir. Joffre Rodrigues. Rio de Janeiro: Riofilme, 2006. 112 min., son., color. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FxcLlUGQHF8&t=769s. Acesso em: 10 mai. 2023.