Ficha do Proponente
Proponente
- Camilla Vidal Shinoda (USP)
Minicurrículo
- Doutoranda no PPG em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Mestre pela FAC/UnB (2017). É professora no Instituto Federal de Brasília, campus Recanto das Emas, no curso técnico em Áudio e Vídeo. Roteirizou e dirigiu os curtas “Luta pela Terra” (2022), em parceria com Tiago de Aragão; “Parte do que Parte Fica” (2019) e “Não é pressa, é saudade” (2016). Sua pesquisa de doutorado foi financiada com bolsa Capes até 07/2023.
Ficha do Trabalho
Título
- Os cinemas de territórios e as migrações
Seminário
- Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas
Formato
- Presencial
Resumo
- O artigo busca ampliar a formulação da noção de cinemas de territórios, proposta por essa pesquisadora, por meio de uma investigação sobre as implicações provocadas pelas migrações forçadas nos cinemas produzidos especialmente pelo povo negro no Brasil. Para isso, utilizaremos os conceitos de quilombo (NASCIMENTO, 2007) e corpo-documento (ibid, 1989) para analisar os filmes Ôrí (1989), de Rachel Geber, e Alma no olho (1974), de Zózimo Bulbul.
Resumo expandido
- O artigo busca ampliar a formulação da noção de cinemas de territórios, proposta por essa pesquisadora em sua tese de doutorado em andamento, para compreender o processo de demarcação de telas (KRENAK, 2021) nacionais. Cinemas de territórios são práticas cinematográficas amplas e diversas, que possuem em comum a característica de estabelecerem o território como fundamento, isto é, existe um compromisso ético entre quem realiza a produção cinematográfica e o território. Em um outro momento, analisei as possibilidades dessa prática a partir dos vínculos originários que os povos indígenas possuem com o território brasileiro e as implicações disso em seus cinemas. Grande parte da população que ocupa os territórios não-hegemônicos no Brasil, no entanto, não possui vínculos originários com essa terra, visto que a vinda para cá foi fruto de migrações forçadas e o próprio deslocamento interno continua se dando dessa forma. Refletir sobre as implicações provocadas pelas migrações forçadas nos cinemas de territórios é o principal objetivo desse artigo.
Os povos afrodiaspóricos, parcela significativa da nossa população atual e as vítimas mais duradouras do processo de escravização, estabelecem, portanto, outros tipos de vínculos com os territórios nacionais. A primeira relação é aquela que se dá com o desconhecido: uma migração forçada para um espaço que não é o seu, um exílio. A segunda relação é a de ocupação: é preciso estabelecer algum vínculo com esse espaço onde se passa a viver de maneira forçada e violenta. Essa ocupação paradoxal se consagra, portanto, por meio de resistência. A historiadora Beatriz Nascimento (2007) pensa essa ocupação territorial do povo negro a partir de dois principais conceitos – quilombo e corpo-documento – que propõem uma continuidade entre África e Brasil. Beatriz caracteriza o quilombo como uma instituição africana, de origem angolana; indica as conotações que quilombo recebe no período colonial e imperial no Brasil e amplia esse entendimento, caracterizando a instituição quilombo como forma de resistência cultural. Na experiência afrodiaspórica no Brasil, o corpo negro tem um papel fundamental na instituição quilombo, pois ele é entendido como um corpo-documento (1989), ao carregar a memória cosmológica que permitirá a ocupação e a criação de vínculos com o novo chão. Para compreender melhor esses conceitos, os vínculos estabelecidos pelos corpos negros em diáspora e as implicações disso nos cinemas negros, vamos analisar dois filmes: Ôrí (1989), dirigido por Rachel Geber e roteirizado pela própria Beatriz Nascimento, e Alma no Olho (1974), dirigido por Zózimo Bulbul.
Além de passar pelos filmes, irei por a noção de cinemas de territórios em diálogo com a noção de QuilomboCinema (2020), uma formulação da pesquisadora negra Tatiana Costa sobre o cinema negro brasileiro e contemporâneo. Tatiana parte do conceito de quilombo de Beatriz Nascimento para apresentar uma prática coletiva que não se encerra na produção de filmes. Dessa forma, poderemos observar as intersecções e distanciamentos entre as duas práticas cinematográficos, bem como as possibilidades que os diferentes recortes de pesquisa – a raça, no caso do QuilomboCinema, e o território, no caso dos cinemas de territórios – podem trazer para pensar a demarcação de telas no Brasil.
Bibliografia
- COSTA, Tatiana C. QuilomboCinema: ficções, fabulações, fissuras. Disponível em https://siteficine.wordpress.com/2021/10/07/quilombocinema-ficcoes-fabulacoes-fissuras/.
DUARTE, D.R.; ROMERO, R.; TORRES, J. Cosmologias da imagem: cinemas de realização indígena. 1. ed. Belo Horizonte, MG: Filmes de Quintal, 2021.
KRENAK, Ailton. Instituir mitologias: audiovisual indígena, um cinema de ação. In: Cosmologias da imagem: cinemas de realização indígena. 1. ed. Belo Horizonte, MG: Filmes de Quintal, 2021.
NASCIMENTO, Beatriz. O conceito de quilombo e a resistência cultural negra. In: Eu sou Atlântica: Sobre a Trajetória de Vida de Beatriz Nascimento. 1. ed. São Paulo: Imprensa Oficial / instituto Kuanza, 2007.
SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. In: GEOgraphia, v.1, n.1. Niterói, 1999, p. 7-13.
STAM, R. A. e SHOHAT, E. Crítica da Imagem Eurocêntrica. São Paulo: Cosac Naify, 2006.