Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Belisa Brião Figueiró (CBM e UFSCar)

Minicurrículo

    Doutora em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com a tese O Cinema Brasileiro no Festival de Cannes (1949-2017): Políticas de Internacionalização e Abertura de Mercado. Mestre em Imagem e Som também pela UFSCar. Autora do livro Coprodução de Cinema com a França: Mercado e Internacionalização (Editora Senac São Paulo, 2018). É professora do Centro Universitário Barão de Mauá.

Ficha do Trabalho

Título

    O cangaceiro estreia na França: circuito exibidor de 1953 a 1982

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação analisa o lançamento do filme O cangaceiro, de Lima Barreto, nas salas da França, cujo circuito foi iniciado em 1953 e encerrado em 1982, com mais de 1,7 milhão de espectadores. Para isso, foram examinados os dados obtidos junto ao Centre National du Cinéma et de l’Image Animée (CNC), referentes à distribuição tanto em Paris quanto nas províncias. Também serão demonstrados os comparativos ano a ano e as cidades exibidoras por meio de gráficos e mapas elaborados para este estudo.

Resumo expandido

    O primeiro desembarque de um filme brasileiro no Festival de Cannes ocorreu já na quarta edição do evento, em 1949, com a exibição de Sertão: Entre os índios do Brasil central, de Genil Vasconcelos, na Competição Oficial. Enquanto isso, era criada em São Paulo a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, cujos fundadores desde o início tinham claras pretensões de alcançar o mercado externo produzindo um cinema brasileiro de suposta “qualidade internacional”. Nessa conjuntura, a percepção de que os festivais poderiam servir de porta de entrada para uma circulação além-mar começava a se dissipar pelo mundo, e toda essa convergência não se deu por acaso.

    Se por um lado o pós-guerra trouxe paz e estimulou a cooperação entre as nações, por outro o turbilhão cultural atingia o cinema diretamente. É neste momento, segundo Maria Rita Galvão, que surge uma “reafirmação do cinema no mundo todo, sobretudo de um cinema entendido como forma de participação cultural” e “enquanto possibilidade, o cinema se internacionaliza”. A retomada da produção cinematográfica de forma regular em diferentes países incitou uma “grande expectativa com relação a outros tipos de filmes que não os de Hollywood”, desencadeando em um “enorme interesse em torno do cinema, que acaba atingindo o Brasil”. Para além da “novidade sociocultural”, os festivais começavam a assumir o papel fundamental de difusão dessas novas produções, “na medida em que abriam a possibilidade de colocação de filmes no mercado internacional” (GALVÃO, 1981, p.10).

    Portanto, a Vera Cruz nasce neste contexto e todos os esforços são canalizados para atingir especialmente um padrão de qualidade estética e técnica, capaz de levar os filmes ao circuito dos festivais. Inicialmente, o foco é direcionado para o Festival de Cannes, onde é exibido o primeiro filme da produtora – Caiçara, de Adolfo Celi, em 1951 –, e em 1952, Tico-tico no fubá, do mesmo diretor. Na sequência, O cangaceiro, de Lima Barreto, considerado o filme mais custoso do estúdio paulista, chega ao festival e arrebata o inédito Prêmio Internacional de Melhor Filme de Aventura e uma Menção Especial pela música Mulher rendeira. A partir de então, inicia-se a distribuição internacional pela major estadunidense Columbia Pictures, sendo a França o país em que o sucesso foi histórico – e até hoje inédito – para um filme brasileiro.

    Nesta comunicação, apresentaremos como se deu este lançamento nas salas de cinema francesas, cuja estreia ocorreu em setembro de 1953, em Paris, e as últimas sessões foram registradas no interior da França, em 1982, chegando a mais de 1,7 milhão de ingressos vendidos. Para isso, foram analisados os dados oficiais obtidos junto ao Centre National du Cinéma et de l’Image Animée (CNC). Os comparativos ano a ano e as cidades exibidoras serão demonstrados por meio de gráficos e mapas elaborados para este estudo.

Bibliografia

    AUTRAN, Arthur. Ilusões, dúvidas e desenganos: a Vera Cruz e o Cinema Independente frente à questão da indústria. In: GATTI, André Piero; FREIRE, Rafael de Luna (org.). Retomando a questão da indústria cinematográfica brasileira. Rio de Janeiro: Caixa Cultural: Tela Brasilis, 2009.

    BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

    CALIL, Carlos Augusto. A Vera Cruz e o mito do cinema industrial. In: MARTINELLI, Sérgio (org.). Vera Cruz: Imagens e histórias do cinema brasileiro. São Paulo: A Books, 2002.

    FIGUEIRÓ, Belisa. O Cinema Brasileiro no Festival de Cannes (1949-2017): Políticas de Internacionalização e Abertura de Mercado. 2023. 342p. Tese (Doutorado em Ciência, Tecnologia e Sociedade) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2023.

    GALVÃO, Maria Rita. Burguesia e cinema: o caso da Vera Cruz. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Embrafilme, 1981.