Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    João Paulo Lopes de Meira Hergesel (PUC-Campinas)

Minicurrículo

    Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Linguagens, Mídia e Arte da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Doutor em Comunicação (UAM), com pós-doutorado em Comunicação e Cultura (Uniso). Membro do grupo de pesquisa Entre(dis)cursos: sujeito e língua(gens). Participante da Rede Brasileira de Pesquisadores de Ficção Televisiva (Obitel Brasil) e da Red Iberoamericana de Investigación en Narrativas Audiovisuales (Red Inav).

Ficha do Trabalho

Título

    “Por que eu tenho que querer namorar?”: assexualidade na telenovela

Formato

    Presencial

Resumo

    Este estudo tem como objetivo analisar as inovações e rupturas – e estereótipos e clichês – na representação da assexualidade na telenovela brasileira, com enfoque no contexto da adolescência, utilizando como corpus o personagem Rudá, de “Travessia”, de Glória Perez (TV Globo, 2022-2023). Para isso, a pesquisa discute a importância das temáticas sociais nas produções televisivas, questões relacionadas à identidade juvenil e a presença de adolescências não heterossexuais na televisão.

Resumo expandido

    A telenovela, como exemplo de produção televisiva de amplo alcance e forte aceitação na cultura audiovisual brasileira, não apenas reflete a sociedade, mas também atua como um meio de discussão histórica e política, facilitando o acesso a questões sociais e promovendo a inclusão e a cidadania. Com sua estrutura melodramática, a telenovela desempenha uma função educativa, apresentando conceitos de forma acessível e promovendo o diálogo. Temas sociais emergentes, como questões de gênero e sexualidade, são cada vez mais explorados, desafiando conceitos tradicionais e promovendo a diversidade, como é o caso de “Travessia”.

    Escrita por Glória Perez e exibida em horário nobre pela TV Globo entre outubro de 2022 e maio de 2023, “Travessia” trouxe à tela temas que propunham diálogos sobre as relações humanas da contemporaneidade; um deles foi a assexualidade. Muitas vezes negligenciada pela sociedade e pela mídia, a assexualidade é uma expressão válida da diversidade humana, sendo reconhecida como uma categoria de identidade. Sujeitos assexuais não sentem atração sexual ou romântica por outras pessoas, e isso não está ligado a problemas hormonais ou traumas. Um dos personagens identificados nesse espectro é Rudá, um adolescente que está passando pelas fases de autodescoberta e autoaceitação.

    A adolescência, pela legislação brasileira, é definida como o período entre 12 e 18 anos, embora essa transição não seja tão linear quanto uma mudança de idade sugere. Podemos considerar que o adolescente é alguém em preparação para competir na vida adulta, com desafios sociais, morais e emocionais, desenvolvendo maturidade e pensamento crítico; é um agente ativo em sua própria construção identitária e na exploração do mundo ao seu redor. Por muito tempo, a representação midiática da adolescência consistia em apresentar estereótipos simplificados; no entanto, as narrativas contemporâneas têm adotado uma abordagem mais complexa, explorando temáticas cidadãs através de personagens mais multifacetados.

    No caso de Rudá, ao longo da telenovela, o jovem enfrenta violência verbal e psicológica, principalmente pela perspectiva sexista de seu padrasto, que insiste em encontrar uma namorada para ele, e pela reação preconceituosa de sua mãe, que vê a assexualidade como um sintoma psicológico. Diante desse contexto, surgiu nossa indagação: de que forma o adolescente assexual está sendo retratado na ficção televisiva, especialmente no processo de autodescoberta e autoaceitação? Este estudo busca analisar as inovações e rupturas, estereótipos e clichês na representação da assexualidade na telenovela brasileira, com um foco específico na adolescência, utilizando como base o personagem Rudá, interpretado pelo ator Guilherme Cabral.

    Entre os resultados iniciais, advindos de uma primeira análise poética, vemos a relevância de trazer a discussão sobre assexualidade para o público, destacando como isso pode ampliar as perspectivas sobre identidade e desconstruir normas sociais. Consideramos que, embora algumas visões retratadas na trama da telenovela possam ser sexistas ou preconceituosas, sobretudo pelas falas e atitudes do padrasto e da mãe do garoto, ela permite uma reinterpretação desses pensamentos.

    O desenvolvimento de Rudá ilustra essa desconstrução, passando de um adolescente dependente e ligado à tecnologia para alguém mais crítico e confiante, especialmente ao lidar com sua identidade assexual. Com relação aos recursos estilísticos do audiovisual, vemos que sua jornada é marcada por uma mudança visual, indo de roupas escuras e expressão séria para roupas coloridas e sorrisos, simbolizando sua autoaceitação. A iluminação também reflete esse processo, mostrando sua transição das sombras para a claridade, evidenciando seu caminho rumo à autoconsciência.

    Destaca-se que o presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) – Número do processo: 2023/05698-8.

Bibliografia

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