Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Ramayana Lira de Sousa (UNISUL)

Minicurrículo

    Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem e do curso de graduação em Cinema e Realização Audiovisual da UNISUL. Foi vice-presidente da SOCINE no biênio 2017-2019, re-eleita para biênio 2019-2021. Ex- representante da Setorial do Audiovisual no Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina (2021- 2022). Foi co-coordenadora do Grupo de Trabalho Intermidialidade: Literatura, Artes e Mídia da ANPOLL. Ex-residente do Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis (2019-2020).

Coautor

    Alessandra Soares Brandão (UFSC)

Ficha do Trabalho

Título

    Por uma cinema de criaturas

Seminário

    Tenda Cuir

Formato

    Presencial

Resumo

    Um manifesto documenta menos uma interpretação do mundo e mais uma vontade de mudá-lo. O manifesto é um modo de expressão adequado para aqueles que foram historicamente marginalizados. Um manifesto cinematográfico tem menos a ver com uma descrição do estado das coisas e mais com a projeção de um mundo (por vir) do cinema (por vir). Um manifesto por um cinema de criaturas reclama por um cinema de descriação do mundo. Como se fosse possível tal cinema.

Resumo expandido

    Um manifesto documenta menos uma interpretação do mundo e mais uma vontade de mudá-lo. E, como nos lembra Jerry Tartaglia (2013), queers adoram manifestos, adoram escrevê-los e lê-los. De Sergei Eisenstein a Valerie Solanas e Chris Crocker, queers criaram manifestos sobre tópicos que vão desde o cinema soviético pós-revolução até utopias e distopias feministas e estrelas pop. O manifesto é um modo de expressão adequado para aqueles que foram historicamente marginalizados. Afinal, que outra forma literária é tão adaptável a discursos e delírios, dramas e vinganças, metáforas militaristas e o ocasional flerte com o totalitarismo? 😱(TARTAGLIA, 2013)
    Oh céus, como pode ser moderno o manifesto! Luca Somigli (2003) jura que pelo menos desde o século XVI, o manifesto documenta a experiência de ruptura com uma sociedade ou uma cultura que até então se considerava coesa. Eis para que (nos) serve o mani-festo (o que se toma pela mão, o que pode ser apalpável – questão que será desenvolvida no trabalho): para manifestar a complexa fragmentação do mundo e do pensamento. E, não esqueçamos, o manifesto é uma expressão que, historicamente, colocou em crise a autoridade de quem fala. Pois que, com a danada da modernidade, pessoa qualquer pode se “manifestar”. Dizem…
    Um manifesto, pois, quer agir, intervir, re-imaginar e re-lembrar diferentes formas de existências (COLMAN, 2010). Um manifesto, claro, precisa de uma plataforma. O ST Tenda Cuir aparece como espaço privilegiado para um manifesto que quer disputar o que se sabe, o que se diz, o que se goza, o que se esconde, o que se promove, o que se afirma, o que se exclui do/no cinema. É a plataforma para um manifesto das criaturas.
    Queremos apresentar esse manifesto como contribuição à provocação cuir ao cinema. As criaturas se aproximam desde as bordas. De fora (das instituições, dos circuitos de produção e circulação, da produção de cânones, da distribuição da grana), as criaturas olham o cinema com desconfiança. E com enorme amor. Manifestam-se ruidosamente, espetáculo visto como excesso que não cabe na dieta rigorosa da análise fílmica. Manifestam-se silenciosamente, ruído que não significa, ilegível, infante.
    Esta proposta é para pensar o manifesto como gênero da crítica, da cinefilia, da criação cinematográfica. Esta proposta é para manifestar um cinema que não existe ainda, para criaturas que só existem quando imaginadas. Um manifesto-inventário de impossibilidades, inicialmente pensado em um conjunto (SOUSA; CESAR; BORGES, 2015) que se fez e desfez. E que, agora, se arrisca, em dupla expressão: como comunicação oral e como documento audiovisual e escrito que será apresentado.

Bibliografia

    COLMAN, Felicity. Notes on the Feminist Manifesto: The Strategic Use of Hope. Journal for Cultural Research, 14:4, 2010.
    PRECIADO, Paul B. Manifesto contrassexual: práticas subversivas de identidade sexual. Companhia das Letras, 2022.
    SOMIGLI, Luca. Legitimizing the artist: Manifesto Writing and European Modernism, 1885- 1915. Toronto: University of Toronto Press, 2003.
    SOUSA, R.; CESAR, Amaranta; BORGES, Cristian. Conversa em mesa de bar. 2015.
    TARTAGLIA, Jerry. A Statement of Outrage Against American Assimilationists Who Practice Appeasement of Hetero Terror in the Wake of A.I.D.S. Genocide in the United States.GLQ: A Journal of Lesbian & Gay Studies, vol. 19, no.4, 2013.