Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Paulo Souza dos Santos Junior (UFPE)

Minicurrículo

    Analista de cinema do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB/RJ). Doutorando em Comunicação no PPGCOM-UFPE. Mestre em Comunicação pelo PPGCOM-UFPE (2018). Especialista em Fotografia e Audiovisual pela UNICAP (2017). Graduado em Fotografia também pela UNICAP (2015). Pesquisador, fotógrafo documental e realizador audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    O xadrez do horror: estratégias de intensificação do medo

Formato

    Presencial

Resumo

    Diante da tradição secular do cinema de horror, entendemos que a instância criativa das obras busca estratégias para que a potência do seu principal afeto não seja dissipada por uma audiência já versada em suas soluções narrativas e formais. O presente artigo busca investigar a ideia de que há, no nível cognitivo, a predominância de um jogo mental que busca burlar as defesas e predições do espectador de horror, tornado-o vulnerável a ação dos efeitos propostos pelos filmes.

Resumo expandido

    Herdeiro de uma tradição secular, o gênero de horror é um dos mais explorados na narrativa humana, e no cinema não é diferente. A exploração desse gênero cinematográfico é vasta e diversa, com uma variedade narrativa e formal que ainda hoje rende interessantes demonstrações de originalidade e reinvenção. No entanto, essa tradição secular desencadeia um efeito curioso: o espectador cativo de cinema de horror acaba por conhecer as estratégias formais e narrativas que sustentam o gênero. Essa apropriação por parte das plateias terminou por domesticar o principal afeto do gênero, o medo. Se as estratégias da instância criadora já são conhecidas, um espectador versado no horror pouco se afetará pelos desdobramentos que ele é capaz de antecipar com certa facilidade.

    Tuan (2005, p. 8) aponta que o medo é “uma emoção que indica perigo e é necessária para a sobrevivência” humana. No campo da arte, no entanto, é proposto enquanto experiência estética em uma condição paradoxal de desejável/indesejável. Como discute Noel Carroll (1999), embora as pessoas procurem filmes de terror para sentir medo e experimentar emoções fortes, elas também tentam evitá-los e escapar das emoções desagradáveis que o horror pode trazer.

    Aqui buscamos nos afastar da proposição de atmosfera ou sensorialidade para compreender a persistência do efeito do horror a partir da criação ou repaginação de efeitos formais e narrativos, operando em um nível cognitivo que conta com a existência de um espectador versado em narrativas fantásticas e nos estratagemas do autor de horror. Aqui, o autor, gozando de plena consciência da condição do espectador, propõe um jogo mental: causar medo em quem já está consciente e, em tese, apto a evitá-lo. Nos interessa investigar, reformando a expressão de Elsaesser (2015, p. 46), uma insegurança cognitiva, produto do reconhecimento de padrões narrativos e estilísticos que marcaram suas experiências prévias com o gênero. Para além das considerações atmosféricas, como a escuridão ou o desconhecido, buscamos investigar a influência do somatório de prévias vivências do espectador, o reconhecimento de perigos e a iminência da sensação de medo na experiência de recepção.

    Se a preparação para um susto, coreografada pela junção de montagem, movimentos de câmera e trilha sonora, é rapidamente reconhecida e, em grande medida, neutralizada, como impactar o espectador versado nas estratégias do gênero? Como intensificar a experiência do horror diante de uma audiência imune aos corriqueiros artifícios de construção do medo?

    Observamos que é recorrente o esforço em gerar repaginações, romper com os padrões e oferecer novas respostas aos problemas já conhecidos. Cada movimento do filme é direcionado ao seu interlocutor, que o recebe com uma leitura crítica e analítica. Enquanto o espectador reconhece os padrões e antecipa os movimentos da narrativa, a obra agora se esforça em mascarar suas intenções e ações, em um jogo intelectual em que desestabilizar o interlocutor é o grande objetivo. Ao se desviar do fluxo convencional das narrativas já assimiladas, tais obras geram uma fissura na autodefesa do espectador e, com isso, criam condições para imprimir com ênfase o horror.

    Em geral, essa criação de medo opera na desmontagem das defesas do espectador. Isso pode ocorrer por meio de estratégias como: a dilatação demasiada do momento de tensão, a ponto de se perder a referência da iminência do perigo; pela descaracterização das ameaças, como ocorre no uso de falsos jump scares; pela construção narrativa de um pacto moral entre espectador e obra, a partir do não uso indiscriminado de sustos; entre outras vias que buscaremos discutir no decorrer do texto.

Bibliografia

    CARROLL, Noël. A Filosofia do Horror ou Paradoxos do Coração. Campinas: Papirus, 1999.
    DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente: 1300 – 1800: uma cidade sitiada. Tradução de Maria Lucia Machado. Tradução de notas de Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
    ELSAESSER, Thomas. “Cinema Mundial: Realismo, Evidência, Presença”. In: MELLO, Cecília (Org.). Realismo Fantasmagórico. Coleção CINUSP, 2015.
    TUAN, Yi-Fu. Paisagens do medo. Tradução Lívia de Oliveira. São Paulo: Editora UNESP, 2005.