Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Guiomar Pessoa de Almeida Ramos (ECO UFRJ)
Minicurrículo
- Graduação em Ciências Sociais, USP (1984). Mestrado (1995) e Doutorado (2002), em Estudos Cinematográficos,ECA, Universidade de São Paulo, com a orientação do professor e crítico de cinema Ismail Xavier. Professora Associada da ECO e da PPGMC, UFRJ. Pós-doc na FBAUL, com a supervisão da realizadora Susana de Sousa Dias. Realizou os curtas-experimentais: “Princípios e excessos” (1990), “Cadeiras” (1992); os documentários:“Pixador”(1998),“Café com leite (água e azeite?) e “Por parte de pai”(2018).
Ficha do Trabalho
Título
- Um olhar sobre 3 realizadoras portuguesas: Lamas, Sousa Dias, César
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Pretende-se apresentar e discutir um conjunto de obras audiovisuais de três realizadoras portuguesas contemporâneas: Susana de Sousa Dias, Luz obscura (2017), Salomé Lamas, VHS, (2010/12) e Filipa César, Cacheu (2012) almejando abordar o caráter documental/experimental de seus filmes e esboçar uma reflexão em relação a questão do gênero feminino.
Resumo expandido
- As obras das cineastas-artistas Susana de Sousa Dias (“Luz obscura”, HD vídeo, 1h 17min. 2017), Salomé Lamas (“VHS – Video Home System”, HD vídeo 16.9, color, 39 min, 2010/12) e Filipa César (“Cacheu”, 16 mm transfer HD, colour, 10min, 2012), representam a presença de uma pesquisa estética permanente, através de uma radicalização em relação à linguagem, com o cruzamento entre o documentário e as artes visuais. Vamos contextualizar essas 3 obras dentro do que pode ser considerado como cinema experimental apontando para as rupturas e para um tipo de audiovisual que busca chegar a sensações pungentes a partir de falas, arquivos pessoais e institucionais.
Que relação essas diretoras estabelecem com esses arquivos? A própria imagem informativa é questionada na forma como é montada ou pensada como produto final, podendo ser projetada em uma ou mais telas, a serem exibidas na forma tradicional do cinema ou em galerias de arte.
A temática apresenta o viés político-militante relacionado às vitórias conseguidas a partir da Revolução dos Cravos, tão presente nos filmes portugueses dos anos 1970, como, as agruras da repressão, o pensamento anti-colonial e como também o arquivo autobiográfico.
“Luz obscura” completa a trilogia formada por “Natureza Morta” e “48”, onde a relação com arquivos de propaganda da ditadura portuguesa, se resolve aqui através da criação de imagens subjetivas inspiradas pela memória de filhos de prisioneiros políticos, o conteúdo subjetivo das vozes fala sobre sensações e cheiros e na imagem os corpos aparecem fragmentados e o mar com uma textura grossa de um musgo remete a imagem de um líquido interno do corpo. Em “VHS”, primeiro filme de Lamas, a diretora parte de uma conversa centrada na existência de uma filmagem feita por sua mãe quando a diretora era criança, onde esta pede que Lamas repita infinitamente a frase “eu estou com sono” até realmente adormecer. Há muito do autobiográfico, característica que demarca uma série de filmes dirigidos por mulheres a partir dos anos 1990 no mundo todo, dentro de uma corrente nomeada como Performática (Bill Nichols). Porém, Lamas propõe o filme como uma Instalação através de 2 telas, uma mostra o diálogo com a mãe a outra o arquivo em vhs. “Cacheu”, de César, nos é apresentado na forma de uma palestra performática, realizada em um único plano-sequência onde a performer Joana Barrios dialoga com a projeção de 4 estátuas coloniais que se encontram na Fortaleza de Cacheu, (cidade da Guiné Bissau) e em trechos do filme “Sans Soleil” de Chris Marker e de “Mortu Nega” de Flora Gomes, questionando o significado do colonialismo. “A montagem é um processo que ocorre antes da filmagem, de modo que a produção da imagem é resultado de uma montagem performativa de texto, atuação, projeção de imagem e enquadramento da câmera pelo diretor de fotografia, Matthias Biber.” (Filipa César).
Podemos verificar a desconstrução do formato do documentário tradicional à presença de um olhar político, a interseção de práticas com um viés historicamente já expandido dentro da conjuntura dos pós-mídia. Na busca por traçar o que poderia ser detectado como feminino nessas produções nos deparamos com o cinema português dos anos 1970 quando o furacão de liberdade e renovação que atingiu Portugal através da Revolução dos Cravos alcança, principalmente, as mulheres.
Bibliografia
- CESAR, F. Debate/lecture. Irrelevant Archive. The struggle is not over yet.https://vimeo.com/340635184
FRENCH, L.The female gaze in documentary film – an international perspective. Palgrave Macmillan, 2021
LAMAS,S. Parafiction: selected works, editora Mousse Publishing, 2021
LIZ M. and OWEN H. Women’s Cinema in Contemporary Portugal. NY Bloomsbury, 2020
MACDONALD, S.: Avant Doc: Intersections of documentary and Avant Garde Cinema. NY Oxford U Press, 2014
PARENTE, A. “A forma cinema: variações e rupturas”. In: MACIEL, K(Org.). Transcinemas. Contra Capa, 2009ª
PHILIPPE-ALAIN, M. Filme:por uma teoria expandida do cinema.Contraponto Ed,2014
RAMOS, G e MURARI, L. “Fragmentos de uma história do cinema experimental brasileiro” in Nova História do Cinema Brasileiro, vol.2. Fernão Ramos e Sheila Schvarzman. (Org.) Edições Sesc SP. 2018.
SOUSA DIAS, S. Abrir a história: a imagem de arquivo e o movimento desacelarado: estudo teórico-prático a partir Natureza Morta e 48. Tese de Doutorado.