Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Guilherme Rezende Landim (UNICAMP)

Minicurrículo

    Doutorando em Multimeios (UNICAMP/2020 – atual), bolsista CAPES sob orientação do Prof. Dr. Marcius Cesar Soares Freire. Mestre (UFJF/2013-2015) e bacharel (UFJF/2008-2013) em Comunicação, atualmente desenvolve projetos teóricos e práticos em Antropologia Visual/Antropologia do Cinema, com trabalhos voltados ao documentário. Integra o Laboratório Multiusuário de Comunicação – (TERRAMÃE/NEPAM/UNICAMP) e LA’GRIMA – Laboratório antropológico de grafia e imagem da UNICAMP.

Ficha do Trabalho

Título

    Pensar com as imagens: ruídos estéticos na antropologia visual

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta pesquisa utiliza-se da imagem na escrita fílmica como ferramenta agenciadora de tensionamentos. Pensar o não dito, o silêncio, o ruído das narrativas orais e visuais, além da busca de uma forma metodológica e até mesmo fabuladora de sentidos para se chegar a caminhos possíveis na ruptura do espaço-tempo, pela busca de outras epistemologias por meio fluxo de montagem: extrair dessa terceira margem, daquilo que escapa, reflexões técnicas e estéticas sobre o campo da antropologia do cinema.

Resumo expandido

    Realizar um trabalho de antropologia do cinema é constantemente investigar o uso das imagens, seja na grafia fílmica, seja na grafia textual ou no imbricamento destas, trata-se de um questionamento constante não somente sobre a forma, mas sobre os processos, técnicas e apreensões sensíveis de grafias coletivas. Para quem o faz, é sempre conflituoso, em se tratando da instabilidade do lugar das imagens, que tomam proporções e leituras tão diversas num campo em constante tensionamento, mas é a partir do ruído, daquilo que escapa na linguagem que o processo de pensar com imagens pode tomar formas potentes, sendo a montagem, uma grafia que busca concatenar esses pensamentos e possibilita métodos e formas de escritas consistentes e provocadoras ao campo da antropologia visual, a qual se potencializa e se retroalimenta de tais inquietações ruidosas. Interessante notar que a antropologia visual não encontra-se apenas na dualidade estanque entre objetividade e subjetividade, mas sua potência é vazante e escoa por esses entre-lugares, na terceira margem de um processo de trabalho ao qual buscamos com esta pesquisa, uma constante inquietação por meio das imagens, esta se dá principalmente pela decupagem e montagem fílmica, procedimentos técnicos e estéticos que possibilitam trazer implicações orgânicas, criativas e metodológicas de experiências sobre memórias, identidades e oralidades no campo da antropologia fílmica. Certamente os procedimentos de registros fílmicos são também investigados, mas tomam dimensões provocadoras de sentidos para as quais se busca esta análise no processo final do filme. Desse modo, torna-se relevante uma reflexão por meio dos procedimentos da montagem do documentário Batuque:(en)cantos de Lutas, em fase de finalização, evidenciando-se características técnicas e estéticas da pesquisa, de maneira a suscitar novos agenciamentos estéticos e políticos com o uso e pensamento das imagens, visto que:
    Para que uma disciplina surja progressivamente desse conjunto de experiências díspares e continue a dele extrair seus recursos, faz-se necessário que ela abandone provisoriamente a esfera do implícito e construa explicitamente seu objeto e seus métodos. O filme etnográfico teve, então, que se debruçar sobre si mesmo para dar nascimento a uma disciplina que, submetendo-o à reflexão, lance um olhar crítico sobre os próprios procedimentos (FRANCE, 2000, p. 17).
    A imagem toma papel agente ao apreender significados de mundo, diferentemente de seu uso cristalizado e ilustrativo. No processo de montagem do filme/pesquisa Batuque:(en)cantos de lutas, busca-se “pensar cada imagem em relação a todas as outras, e de que esse próprio pensamento faça surgirem outras imagens, outras relações e outros problemas” (WARBURG apud DIDI-HUBERMAN, 2013, p.423). Assim, a realização deste documentário busca suscitar outras grafias sobre o processo de investigação da história e memória do grupo estudado, propondo camadas de imagens. Esta pesquisa busca utilizar-se da imagem, por meio da escrita fílmica, como um mecanismo em constante tensionamento e inquietação. Para tal, torna-se necessário um método, que perpassa uma ampla compreensão do campo da antropologia visual e do filme etnográfico para evitar certos modismos da linguagem, visto que um processo de decupagem fílmica suprime certos “tempos mortos” que podem ser pensados como triviais. Assim, cabe se pensar o não dito, o silêncio, o ruído das narrativas orais e visuais, além da busca de uma forma metodológica e até mesmo fabuladora de sentidos para se chegar a caminhos possíveis na pesquisa, o que se dá pela ruptura do espaço-tempo, pela buscas de outras epistemologias por meio fluxo de montagem, onde se toma forma. Extrair dessa terceira margem, daquilo que escapa, reflexões técnicas e estéticas sobre o campo da antropologia do cinema.

Bibliografia

    DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente: História da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto / Museu de Arte do Rio de Janeiro, 2013, 506 p., 96 ilustrações. Tradução: Vera Ribeiro.

    FRANCE, Claudine de. Cinema e Antropologia. Trad. Marcius S. Freire, Campinas, SP,
    Editora da Unicamp, 1998.

    ______. Antropologia Fílmica – Uma Gênese difícil, mas promissora. In: Do filme etnográfico à antropologia fílmica. Trad. Marcius S. Freire. Campinas, SP, Editora da Unicamp, 2000.

    GELL, Alfred. “Definição do problema: a necessidade de uma antropologia da arte”. In: Revista Poiésis, n. 14, dez. de 2009.

    MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global: Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação, 2004.

    SAMAIN, Etienne. As Imagens Não São Bolas de Sinuca.: Como Pensam as Imagens. DGO-Digital original, SciELO – Editora da Unicamp, 2012.