Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Brian Hagemann (UTP)

Minicurrículo

    Brian Hagemann é graduado em Cinema pela FAAP, especialista e mestre em Cinema pela Universidade Tuiuiti do Paraná, onde atualmente está cursando o programa de doutorado. Trabalha como produtor, diretor, editor, roteirista e script doctor. É professor universitário desde 2010 e a atualmente coordena o curso de graduação em Cinema e Audiovisual na Univille.

Ficha do Trabalho

Título

    Ali G e Philomena Cunk– O mockumentary como desafio à autoridade

Formato

    Presencial

Resumo

    Este estudo analisa as séries de mockumentary “Da Ali G Show” e “O Mundo de Philomena Cunk” através dos conceitos de documentário por Bill Nichols Fernão Ramos, Craig Hight e Jane Roscoe. Essas séries de são consideradas importantes para os estudos de Cinema devido aos seus usos irônicos da linguagem documental. “Da Ali G Show” questiona os limites éticos da representação. “O Mundo de Philomena Cunk” satiriza documentário educativos, ridicularizando a noção de narrador onisciente.

Resumo expandido

    O presente estudo, que parte de meu projeto de doutorado, analisa o mockumentary a partir do programa “Da Ali Show”, da HBO, investigando sua influência nas obras posteriores desse sugênero na televisão, principalmente na série da Netflix “O Mundo Segundo Philomena Cunk” (2023). Mockumentary é uma obra ficcional que se apoia no uso da estética do documentário para satirizar e desconstruir o próprio formato, levando o espectador a questionar a natureza real da imagem documental.
    São utilizados como principais referenciais teóricos para a discussão da estética documental os autores Bill Nichols e Fernão Ramos. No campo acadêmico, o mockumentary ainda é relativamente pouco discutido. A principal referência do gênero ainda é o livro de Jane Roscoe e Craig Hight, Fading it: mock-documentary and the subversion of actuality de 2004, o qual faz uma cronologia do gênero, e procura abranger suas principais características e possibilidades.
    “Da Ali G Show” é uma série de televisão britânica criada por Sacha Baron Cohen, que originalmente foi transmitida de 2000 a 2004. Por meio do personagem Ali G, um rapper fictício branco que adota uma persona afro-caribenha estereotipada, Cohen levanta discussões sobre a representação de identidades culturais e étnicas nos documentários, a apropriação cultural e os limites éticos da representação. Entrevistando figuras públicas reais, ele os confronta com perguntas provocativas e humorísticas sobre sociedade, cultura e política, muitas vezes trazendo constrangimento para os entrevistados por conta da natureza não-convencional do show em relação ao formato tradicional dos programas de entrevistas de estilo documental.
    Embora “Da Ali G Show” seja uma obra de comédia e não um documentário no sentido tradicional, a série é considerada importante para os estudos sobre documentário devido principalmente a seu uso irônico da linguagem documental como sátira na abordagem de questões sociais, culturais e políticas de forma provocativa e que levam os espectadores a questionar a natureza da representação na mídia, a veracidade das entrevistas e as dinâmicas de poder entre os entrevistadores e os entrevistados, também levantando questões sobre a autenticidade e a construção da realidade nos documentários e programas televisivos de entrevistas.
    Sacha Baron Cohen desconstroi convenções documentais, principalmente a autoridade de representação de realidade pressuposta no modo expositivo de documentário (Bill Nichols), como a entrevista “séria” e o papel do entrevistador como um observador neutro.
    O sucesso de Da Ali G Show” virou referência na cultura popular e influenciou muitos outros programas de comédia, documentários e entrevistas de formato similar, principalmente com a série O Mundo de Philomena Cunk, da Netflix. Philomena Cunk é uma personagem fictícia, criada pela comediante britânica Diane Morgan, e satiriza programas de documentários educativos que abordam de forma onisciente a história e a cultura de um povo, mas com a diferença que ela não demonstra conhecimento nos temas discutidos, o que ridiculariza a noção de narrador onisciente em um documentário. Assim como Ali G, a personagem de Philomena Cunk também é retratada como sendo ingênua, desinformada e muitas vezes confusa. Essa abordagem leva a situações, perguntas e comentários humorísticos durante entrevistas com celebridades e especialistas, que nem sempre conseguem lidar com a natureza satírica do programa, e tentam responder perguntas da forma mais didática e séria possível, trazendo efeitos cômicos ao espectador. Em “Da Ali G Show” e “O Mundo de Philomena Cunk”, a ironia então se dá quando não-atores envolvidos na série interagem no contexto irônico do mockumentary, aparentando crer que realmente estão em um documentário, enquanto o espectador se diverte ao perceber que se trata de um texto ficcional. Defendo assim que “Da Ali G Show” e “O Mundo de Philomena Cunk” possuem peculiaridades inovadoras para os estudos de Cinema.

Bibliografia

    Este estudo analisa o mockumentary nas séries “Da Ali G Show” e “O Mundo de Philomena Cunk” a partir dos conceitos sobre modos de documentário de Bill Nichols e a estética documental de Fernão Ramos, além dos estudos de mockumentary de Craig Hight e Jane Roscoe. “Da Ali G Show” de Sacha Baron Cohen questiona a representação de identidades culturais nos documentários e os limites éticos da representação. A série de comédia é considerada importante para os estudos de documentário devido a seu uso irônico da linguagem documental como sátira. “O Mundo de Philomena Cunk” satiriza documentário televisivios educativos, ridicularizando a noção de narrador onisciente. Ambas as séries possuem peculiaridades inovadoras para os estudos de Cinema.