Ficha do Proponente
Proponente
- Clarisse Maria Castro de Alvarenga (UFMG)
Minicurrículo
- É professora na UFMG, onde coordena o Laboratório e Arquivo de Imagem e Som e o Laboratório de Práticas Audiovisuais. Sua pesquisa situa-se na interface entre cinema e educação com atenção especial aos processos pedagógicos e poéticos realizados por coletivos e cineastas ameríndios e do campo. Entre os filmes que dirigiu, estão os longas-metragens Ô, de casa! (2007) e Homem-peixe (2017). É autora dos livros Da cena do contato ao inacabamento da história (2017) e Aprender com imagens (2022)
Coautor
- Gustavo Jardim (UFMG)
Ficha do Trabalho
Título
- Cinemas e espaços de cultivo
Seminário
- Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas
Formato
- Presencial
Resumo
- A proposta aborda experiência com estudantes da Licenciatura em Educação do Campo (UFMG), envolvendo curadoria, exibição de filmes, criação cinematográfica e pedagogias das imagens em interface com questões que surgem na relação com o espaço, com a terra e o território de cada estudante. Pretende-se, por meio da análise dos processos cinematográficos e pedagógicos, identificar aquilo que chamamos de “espaços de cultivo” e que surge da aproximação entre a terra e o cinema.
Resumo expandido
- A proposta aborda experiência com estudantes da Licenciatura em Educação do Campo (UFMG). O curso atende pessoas pertencentes a diferentes segmentos sociais do campo: filhos e filhas de agricultores, professores e técnicos que atuam na área rural, quilombolas, populações atingidas por barragens, educadores da Associação Mineira da Escola Família-Agrícola e assalariados rurais, dentre outros.
A partir de uma análise de processos, iremos aproximar os processos cinematográficos, pedagógicos e as questões da terra, apontando para aquilo que chamamos de “espaços de cultivo” e que associa o cinema e a terra.
Sobre os processos cinematográficos e pedagógicos que iremos analisar, podemos assim descrever: num primeiro momento partimos de imagens geradoras criadas pelos estudantes em seus territórios. Assistimos a um conjunto de filmes e aos poucos surgiram questões que relacionavam as imagens e problematizavam questões concernentes à forma de cada estudante perceber o espaço. A partir desses debates começam a se formar propostas para criação de filmes que nos colocam em um processo de realização colaborativa. A seguir, cada grupo de estudantes apresenta sua proposição para a reflexão no coletivo. Em um exemplo, duas estudantes miram o vazio que se instaura na sala de aula durante a época da colheita do café. Uma outra estudante está interessada em fazer um filme sobre o som das explosões que acontecem em uma mineradora instalada próxima do espaço onde vive.
As curadorias são compostas ao longo do processo para promover confluências entre as ideias e as vivências provindas das percepções de cada participante. O processo privilegia uma intensificação na percepção sobre a terra ao mesmo tempo em que ativa o senso comunitário na aproximação dos filmes escolhidos com as linhas de investigação criadas. Neste sentido, as obras são elencadas mais por uma noção de transferência criada com os estudantes do que em uma perspectiva de uma transmissão de determinada forma ou linguagem cinematográfica. Alguns dos filmes trabalhados foram:
Pescados – Lucrecia Martel (Argentina, 2010)
Lavra Dor – Ana Carolna e Paulo Rufino (Brasil, 1968)
Tarumã – Aloysio Raulino (Brasil, 1975)
Terra Kaxixó – Estudantes Kaxixós, Projeto Entrecenas (Brasil, 2017)
O Curral e o vento – Miguel Hilari (Bolívia, 2014)
Bouquets – Rose Lowder (Peru, 1995)
Pawqartampu – Felipe Esparza (Peru, 2015)
Cantos de trabalho – Cacau – Hirszman (Brasil, 1976)
Cantos de trabalho – Mutirão – Hirszman (Brasil, 1975)
Fim de semana – Renato Tapajós (Brasil, 1975)
Duas aldeia uma caminhada – Ariel Ortega (Guarani Mbya, 2008)
Os filmes que assistimos juntos, os textos que foram lidos, os projetos audiovisuais e os filmes realizados foram incluídos em na plataforma (em processo) que foi criada pelos próprios estudantes:
Nossa hipótese é de que ao longo de todos os nosso encontros há deslocamentos que fazem com que se possa aprender com o campo, com a terra, de maneira sensível por meio das imagens, por meio do olhar e da escuta. Nesse sentido, foi construído um arquivo de processos pedagógicos e criativos que diz muito sobre o processo de aprendizagem vivenciado e que envolve uma mudança de percepção ou uma ativação dos sentidos sobre a terra. Iremos fazer uma análise dessa experiência procurando encontrar no processo com os estudantes elementos que permitem relacionar o cinema e a terra.
Nossa proposta é apontar as regiões (os espaços) em que os processos de aprendizagem se intensificam e nomear essas topologias como espaços de cultivo. Nossa hipótese é de que eles tensionam os arquivos, os filmes (em alguns casos estão no fora de campo) porque produzem outros espaços, que são, a um só tempo individuais e coletivos, e vinculados à terra e seus processos.
Bibliografia
- ALVARENGA, Clarisse (org). Aprender com imagens. Belo Horizonte: LAPA, 2022.
DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
FARGE, Arlette. O sabor do arquivo. Trad. Fátima Murad. São Paulo: Edusp, 2009.
FREIRE, Paulo; GUIMARÃES, Sérgio. Educar com a mídia: novos diálogos sobre educação. 3a ed. São Paulo: Paz e Terra, 2021.
MASSEY, Doreen. Filosofia e política das espacialidades: algumas considerações. GEOgraphia, ano 6, número 12, 2004.
RODOWICK, Rodowick. An Education in Jugement. The University of Chicago Press. 2021.
SANTOS, Antônio Bispo dos. Somos da terra. Belo Horizonte: Revista Piseagrama, N. 12, agosto de 2018.
TAYLOR, Diana. O arquivo e o repertório. Performance e memória cultural nas Américas. Trad. Eliana Lourenço de Lima Reis. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.