Ficha do Proponente
Proponente
- Sofia Figueira de Siqueira (UFSCAR)
Minicurrículo
- Graduada em Produção Audiovisual pelo Centro Universitário Barão de Mauá, bolsista no Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário Barão de Mauá. No presente momento é mestranda, bolsista CAPES no Programa de Pós Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos e integrante do Grupo de Pesquisa Cinema e Audiovisual na América Latina – Economia e Estética
Ficha do Trabalho
Título
- A imagem de Getúlio Vargas (1937-1945) pelo Cine Jornal Brasileiro
Formato
- Presencial
Resumo
- O cinema de propaganda foi uma ferramenta importante para a construção de um Estado centralizador ao longo do século XX. Considerando sua conexão com o público em geral, este trabalho busca explorar a existência de uma expressão ideológica autoritária na representação do corpo de Getúlio Vargas, exibido nas edições do Cine Jornal Brasileiro no período do Estado Novo. A partir da análise fílmica, pretende-se evidenciar o uso do cinema nacional para a manifestação de uma mentalidade autoritária
Resumo expandido
- A história dos formatos de não-ficção audiovisuais marcam a trajetória do cinema desde seu início a partir das atualidades até os documentários com dramaticidade e enredos próprios, incluindo já nesses primórdios a produção dos cinejornais. Uma comparação interessante seria a utilização do cinema propagandístico pelo cineasta britânico John Grierson. Nos anos 1930, sob o regime democrático liberal Inglês, Grierson compreende o poder educacional e propagandístico do cinema de não-ficação, colocando a capacidade da produção cinematográfica em um alto patamar de comunicação e persuasão para com o público (DA-RIN, 2004).
Em contrapartida, no Brasil, o decreto 21.240, datado de 1932, emitido por Getúlio Vargas em relação ao cinema nacional, determinava a obrigatoriedade da projeção de um filme de curta metragem nacional para cada longa estrangeiro exibido (SIMIS, 2009). A partir deste fato evidencia-se que independente do sistema político vigente, nas primeiras décadas do século XX, diversos Estados nacionais compreenderam o valor do cinema de propaganda. A motivação inicial da obrigatoriedade das cotas de telas, como conhecemos hoje, partiu de um interesse político, devido ao fato do cinema ser considerado um grande apoio e ótimo método de difusão de informações pelo Estado.
Ao reconhecer a importância do cinema no mundo contemporâneo, Getúlio Vargas quando faz um pronunciamento para a Associação Cinematográfica de Produtores Brasileiros, em 1934, afirma que o cinema interfere no imaginário social e, por esse fator, ele não deve ser ignorado e deveria ser uma das grandes preocupações do governo. O cinema propagandístico ocupa seu espaço quando o Estado percebe neste formato de fazer cultura a ligação aos princípios sociais e morais de um governo centralizador, como a universalização da educação, a difusão de um ideário nacional e a integração nacional cultural de maneira hierarquizada (BARRENHA, 2018)
Entender a utilização dos meios de comunicação para a propagação dos ideais de determinado regime é de suma importância para evidenciar o uso do cinema por um Estado autoritário. José Inácio de Melo Souza, em sua obra O Estado contra os meios de comunicação (2003), faz um estudo minucioso sobre os meios de comunicação no Brasil, desde a República Velha (1889) até os últimos anos do Estado Novo (1945). No período correspondente às décadas de 1930 e 1940, o autor, inclusive, analisa a utilização dos cinejornais.
O Cine Jornal Brasileiro cobria principalmente eventos como a abertura de estradas, construções de obras de artes, montagem de fábricas e eventos que colocavam o governo em destaque, em especial a imagem de Getúlio Vargas. As produções eram curtas, em torno de 10-15 minutos e para cada cinejornal havia em média de 5 a 7 matérias. O filme iniciava-se em uma abertura com as credenciais do Departamento de Imprensa e Propaganda e desde o início até o final as imagens são acompanhadas de trilha sonora, muitas vezes composta pela música erudita e hinos. Havia também na banda sonora, a locução dos eventos projetados descrevendo as imagens passadas.
A instrumentalização do corpo de Getúlio Vargas, como uma representação do governo autoritário através dos cinejornais, é tópico importante para os materiais produzidos pelo DIP, pois a construção da figura do presidente demonstrava o poder do Estado. Ademais, ao exibir os filmes de forma obrigatória nas salas de cinema, o Estado se fazia presente.
Bibliografia
- AUTRAN, Arthur. Panorama da historiografia do cinema brasileiro. Alceu, Rio de Janeiro, v.7, n.14, p. 17-30, jan-jun 2007.
ARCHANGELO, Rodrigo. Um bandeirante nas telas: o discurso adhemarista em Cinejornais.1. ed. São Paulo: Alameda, 2015.
BARRENHA, Natalia Christofoletti. E o estado entra em cena (1932-1966). RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila. Nova história do cinema brasileiro. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, v. 1, 2018.
BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. 2014.
BOMENY, Helena. et al. Constelação Capanema: intelectuais e políticas. [S.l.: s.n.], 2001.
DA-RIN, Silvio. Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Azougue, 2004.
MARIE, M.; AUMONT, J. A análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004.
SIMIS, Anita. A contribuição da cota de tela no cinema brasileiro. [S. l.], p. 137–146, 2009.