Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Sofia Figueira de Siqueira (UFSCAR)

Minicurrículo

    Graduada em Produção Audiovisual pelo Centro Universitário Barão de Mauá, bolsista no Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário Barão de Mauá. No presente momento é mestranda, bolsista CAPES no Programa de Pós Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos e integrante do Grupo de Pesquisa Cinema e Audiovisual na América Latina – Economia e Estética

Ficha do Trabalho

Título

    A imagem de Getúlio Vargas (1937-1945) pelo Cine Jornal Brasileiro

Formato

    Presencial

Resumo

    O cinema de propaganda foi uma ferramenta importante para a construção de um Estado centralizador ao longo do século XX. Considerando sua conexão com o público em geral, este trabalho busca explorar a existência de uma expressão ideológica autoritária na representação do corpo de Getúlio Vargas, exibido nas edições do Cine Jornal Brasileiro no período do Estado Novo. A partir da análise fílmica, pretende-se evidenciar o uso do cinema nacional para a manifestação de uma mentalidade autoritária

Resumo expandido

    A história dos formatos de não-ficção audiovisuais marcam a trajetória do cinema desde seu início a partir das atualidades até os documentários com dramaticidade e enredos próprios, incluindo já nesses primórdios a produção dos cinejornais. Uma comparação interessante seria a utilização do cinema propagandístico pelo cineasta britânico John Grierson. Nos anos 1930, sob o regime democrático liberal Inglês, Grierson compreende o poder educacional e propagandístico do cinema de não-ficação, colocando a capacidade da produção cinematográfica em um alto patamar de comunicação e persuasão para com o público (DA-RIN, 2004).
    Em contrapartida, no Brasil, o decreto 21.240, datado de 1932, emitido por Getúlio Vargas em relação ao cinema nacional, determinava a obrigatoriedade da projeção de um filme de curta metragem nacional para cada longa estrangeiro exibido (SIMIS, 2009). A partir deste fato evidencia-se que independente do sistema político vigente, nas primeiras décadas do século XX, diversos Estados nacionais compreenderam o valor do cinema de propaganda. A motivação inicial da obrigatoriedade das cotas de telas, como conhecemos hoje, partiu de um interesse político, devido ao fato do cinema ser considerado um grande apoio e ótimo método de difusão de informações pelo Estado.
    Ao reconhecer a importância do cinema no mundo contemporâneo, Getúlio Vargas quando faz um pronunciamento para a Associação Cinematográfica de Produtores Brasileiros, em 1934, afirma que o cinema interfere no imaginário social e, por esse fator, ele não deve ser ignorado e deveria ser uma das grandes preocupações do governo. O cinema propagandístico ocupa seu espaço quando o Estado percebe neste formato de fazer cultura a ligação aos princípios sociais e morais de um governo centralizador, como a universalização da educação, a difusão de um ideário nacional e a integração nacional cultural de maneira hierarquizada (BARRENHA, 2018)
    Entender a utilização dos meios de comunicação para a propagação dos ideais de determinado regime é de suma importância para evidenciar o uso do cinema por um Estado autoritário. José Inácio de Melo Souza, em sua obra O Estado contra os meios de comunicação (2003), faz um estudo minucioso sobre os meios de comunicação no Brasil, desde a República Velha (1889) até os últimos anos do Estado Novo (1945). No período correspondente às décadas de 1930 e 1940, o autor, inclusive, analisa a utilização dos cinejornais.
    O Cine Jornal Brasileiro cobria principalmente eventos como a abertura de estradas, construções de obras de artes, montagem de fábricas e eventos que colocavam o governo em destaque, em especial a imagem de Getúlio Vargas. As produções eram curtas, em torno de 10-15 minutos e para cada cinejornal havia em média de 5 a 7 matérias. O filme iniciava-se em uma abertura com as credenciais do Departamento de Imprensa e Propaganda e desde o início até o final as imagens são acompanhadas de trilha sonora, muitas vezes composta pela música erudita e hinos. Havia também na banda sonora, a locução dos eventos projetados descrevendo as imagens passadas.
    A instrumentalização do corpo de Getúlio Vargas, como uma representação do governo autoritário através dos cinejornais, é tópico importante para os materiais produzidos pelo DIP, pois a construção da figura do presidente demonstrava o poder do Estado. Ademais, ao exibir os filmes de forma obrigatória nas salas de cinema, o Estado se fazia presente.

Bibliografia

    AUTRAN, Arthur. Panorama da historiografia do cinema brasileiro. Alceu, Rio de Janeiro, v.7, n.14, p. 17-30, jan-jun 2007.
    ARCHANGELO, Rodrigo. Um bandeirante nas telas: o discurso adhemarista em Cinejornais.1. ed. São Paulo: Alameda, 2015.
    BARRENHA, Natalia Christofoletti. E o estado entra em cena (1932-1966). RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila. Nova história do cinema brasileiro. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, v. 1, 2018.
    BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. 2014.
    BOMENY, Helena. et al. Constelação Capanema: intelectuais e políticas. [S.l.: s.n.], 2001.
    DA-RIN, Silvio. Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Azougue, 2004.
    MARIE, M.; AUMONT, J. A análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004.
    SIMIS, Anita. A contribuição da cota de tela no cinema brasileiro. [S. l.], p. 137–146, 2009.