Ficha do Proponente
Proponente
- Júlia Guimarães da Gama Fernandes (UFJF)
Minicurrículo
- Júlia Gama Fernandes é bacharel em Artes e Design e em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Atualmente, é mestranda na linha de pesquisa em Cinema e Audiovisual no Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens, da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Ficha do Trabalho
Título
- Da escrita do haicai às imagens do cinema: o caso Abbas Kiarostami
Formato
- Presencial
Resumo
- A presente comunicação tem por objetivo estabelecer aproximações a escrita do haicai e as imagens do cinema, utilizando como estudo de caso o livro de poemas Nuvens de Algodão (2018), de Abbas Kiarostami, e o filme 24 frames (2017), também de Abbas Kiarostami. Explora-se a maneira que texto e imagem dialogam, a partir dos temas caros à escrita do haicai, como natureza, vida, e brevidade, ao mesmo tempo que se busca entender os princípios cinematográficos que regem a imagem em movimento.
Resumo expandido
- A presente comunicação se propõe a investigar as possíveis relações estéticas entre as imagens do cinema e a escrita poética, mais especificamente a escrita do haicai, a partir de duas obras do cineasta Abbas Kiarostami. A primeira, Nuvens de Algodão (2018), constitui uma reunião de haicais escritos pelo iraniano; a segunda, 24 frames (2017), se caracteriza por 24 fotografias que, animadas digitalmente, compõem o seu último filme.
Tradicionalmente, o haicai é um gênero da poesia japonesa que, conhecido por sua estrutura breve de três versos, tem como proposição a consagração de um instante, fundada no princípio de observação da natureza. As obras de Kiarostami, por sua vez, se direcionam para a construção de uma poética similar, uma vez que o diretor quase sempre escolhe filmar paisagens e situações singelas, que estão atreladas ao dito mundo natural e pertencentes a um momento fixado. Busca-se, portanto, analisar de que maneira os elementos trazidos em seus haicais dialogam com os de seu cinema.
Apesar da produção da imagem ser intrínseca à escrita do poema, como observa Octavio Paz em seu livro Signos em rotação (2015), é preciso se debruçar sobre a especificidade do haicai, pois pensar a escrita do gênero perpassa também por pensar a significação do ideograma japonês. Ainda que Kiarostami fosse iraniano e escrevesse somente em farsi, é necessário considerar que o ideograma se constitui enquanto símbolo gráfico, representante de um conceito ou de uma ideia. É nisto que o haicai se funda: e é por isso, também, que se investiga como, em sua semântica, imagem e texto podem se comunicar.
Bibliografia
- EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2002.
HAKUTANI, Yoshinobu. Haiku and modernist poetics. New York: Palgrave Macmillan, 2009.
ISHAGHPOUR, Youssef. Kiarostami II. Dans et hors les murs. Belval: Les Éditions Circé, 2012.
KIAROSTAMI, Abbas. Nuvens de algodão. Belo Horizonte: Editora yiné, 2018.
PAZ, Octavio. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 2015.
TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o tempo. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.