Ficha do Proponente
Proponente
- Daniela Giovana Siqueira (UFMS)
Minicurrículo
- Professora do curso de Audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde coordena o projeto de extensão: “O audiovisual na cidade: construindo o conhecimento a partir de imagens e sons”. Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA/USP e Mestre em História e Culturas Políticas pela UFMG. Desenvolve investigações com foco no estudo das relações entre cinema, história, memória e preservação audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- Por meio de imagens em movimento, de Minas, vejo um Brasil
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Formato
- Presencial
Resumo
- A comunicação propõe uma investigação que toma por base um trabalho de pesquisa a partir dos filmes brasileiros: A vida provisória (1968), de Maurício Gomes Leite, Crioulo doido, (1970), de Carlos Alberto Prates Correia e Temporada (2018), de André Novais Oliveira. O objetivo é pensar esse conjunto documental dentro de um ponto de vista modernista, buscando perceber liames e rupturas sociais que podem ser evidenciadas pela produção cinematográfica nacional, entre o moderno e o contemporâneo.
Resumo expandido
- A virada 1968/1970 marca a produção de uma safra de filmes realizados por jovens diretores nascidos em Minas Gerais, que longe de defenderem uma mineiridade mítica, realizam obras que fixam a paisagem mineira como lugar essencial para que fosse pensado o Brasil daquele período. Essa escolha geográfica por filmar em Minas se faz em contraponto a um gesto migratório, a ida para o Rio de Janeiro no início da década de 1960.
Essa migração marca então boa parte de uma geração que partilhou uma mesma base de formação: cineclubismo e crítica cinematográfica conformada em Belo Horizonte.Essa formação é um dado que potencializa a discussão sobre o fazer e o pensar cinema, a partir de uma cena de origem, o Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais (CEC), que notabilizou a sociabilidade cineclubista enquanto sociedade intelectual, sobretudo nas décadas de 1950 e 1960, exemplo este que sob uma perspectiva historiográfica, amplia possibilidades que tencionam o jogo provincianismo/cosmopolitismo. Temos que lembrar que na década de 1960 o cinema se fazia vanguarda em várias partes do mundo e o Brasil não ficou atrás nesse processo.
Dois filmes nos ajudam neste pensamento: A vida provisória de 1968, dirigida por Maurício Gomes Leite e Crioulo doido, de 1970, dirigido por Carlos Alberto Prates Correia.
A partir de Minas Gerais, as obras trazem uma pauta nacional, permeando questões que definiam discussões de relevância para o período, como a censura, a Ditadura Militar, a presença do negro na organização social, a derrota da esquerda, o rural e o urbano. O diálogo é cosmopolita, mas feito a partir de uma matriz local, de experiências próprias, e de experiências que não se detêm, citando Mário de Andrade, ao “insolúvel do ‘característico’”, ou seja, que não afirmam o típico.
A citação a Mário de Andrade tem por objetivo instaurar uma discussão que propõem pensar esses filmes dentro de uma premissa de discussão modernista que pode inicialmente ser instaurada a partir de duas perguntas: Que Minas Gerais é essa que os filmes ressaltam? O que fica do cinema produzido a partir de Minas em uma discussão sobre o modernismo?
As perguntas nos levam a um diálogo inicial com a premissa apontada por Marcos Napolitano, de que é possível pensar em um “longo modernismo” que abarca as décadas de 1920 a 1970. Essa perspectiva abre espaço para a emersão de uma visão polimórfica e polissêmica do modernismo, retirando-o do lugar canônico postulado pela Semana de Arte Moderna de 1922, e desdobrando a perspectiva para uma história do engajamento cultural no país até o limite da ascensão definitiva da indústria cultural.
Por fim, o esforço de pensamento que apresentamos para a comunicação abre-se para “esticar” uma reflexão até à produção do cinema mineiro contemporâneo, digital, encontrando com isso o filme Temporada de 2018, dirigido por André Novais.
Para Mário de Andrade, as ideias de destino individual e destino coletivo são muito fortes. O salto temporal entre a produção de final da década de 1960 e a produção da segunda década dos anos 2000, a nosso ver, proporciona uma discussão, de origem modernista, entre o “artista-fonte” e o “povo-destino”.
Assim, a trajetória aqui proposta tem por foco uma análise fílmica que possa ser capaz de motivar uma
discussão histórico-cultural, que traga para a pauta do cinema brasileiro liames e rupturas entre o moderno e o contemporâneo.
Bibliografia
- BOTELHO, André. De olho em Mário de Andrade: uma descoberta intelectual e sentimental do Brasil. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
______________. O modernismo como movimento cultural: Mário de Andrade, um aprendizado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2022.
NAPOLITANO, Marcos. “Arte e política no Brasil: História e Historiografia”. In: EGG, André, FREITAS, Arthur, KAMINSKI, Rosane (org.). Arte e política no Brasil: modernidades. São Paulo: Perspectiva, 2014, p. XV-XLVI.
OLIVEIRA, André Novais. Roteiro e diário de produção de um filme chamado Temporada. Belo Horizonte: Javali, 2021.
OLIVEIRA, Elysabeth Senra de. Uma geração cinematográfica: intelectuais mineiros da década de 50. São Paulo: Annablume, 2003.
SANTIAGO, Silviano. O cosmopolitismo do pobre. Belo Horizonte: editora UFMG, 2004.