Ficha do Proponente
Proponente
- Robinson Samulak Alves (UFPR)
Minicurrículo
- Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (PPGCOM/UFPR). Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPR. Pesquisador do grupo Nefics. Email: rsamulakalves@gmail.com
Ficha do Trabalho
Título
- O corpo negro na escuridão: o uso da sombra no cinema de Jordan Peele
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente estudo realiza uma análise do uso da sombra para esconder os corpos negros em filmes de horror. A partir da filmografia do diretor Jordan Peele — Corra (2017), Nós (2019) e Não! Não Olhe! (2022) —, este estudo busca compreender de que maneira a fotografia dos filmes é trabalhada como um recurso narrativo que visa esconder as personagens negras e os efeitos que tal uso das sombras causa, tanto nas cenas dos filmes, como na construção do horror.
Resumo expandido
- O uso da sombra é um elemento frequente no cinema de horror. Não permitir que o público enxergue tudo o que está diante das personagens, se tornou um recurso utilizado pelos cineastas para tentar colocar quem está assistindo ao filme, em uma situação de desconforto semelhante a de quem está na cena em questão. Mais do que criar medo do escuro (o que pode acontecer em alguns casos), a escuridão esconde perigos — ou cria a sensação de uma ameaça constante, como se algo pudesse sair das sombras a qualquer momento, colocando em risco a vida das personagens.
A partir disso, faremos uma análise de como o diretor Jordan Peele utiliza as sombras para esconder os corpos negros dos atores em cena. Em seus três longa-metragens — Corra (2017), Nós (2019) e Não! Não Olhe! (2022) —, Peele trabalha com a fotografia, fazendo com que os protagonistas (todos atores e atrizes negros e negras) se camuflem na tela. A discussão sobre os efeitos que isso ajuda a causar será apresentada durante a análise, que também abordará outros exemplos de como a fotografia pode ser utilizada para esmaecer personagens no cinema de terror. A análise atual já constatou o uso deste recurso nos três longas, o que serviu como um dos critérios para o recorte da pesquisa, bem como uma maior recorrência em Nós, segundo trabalho de Peele como diretor.
A análise, ainda em desenvolvimento, toma como base a metodologia de análise fílmica proposta por Penafria (2009), que sugere decompor o filme para então realizar a sua análise. Essa escolha nos parece a mais apropriada para o estudo aqui proposto, pois nos permitirá olhar apenas para as cenas nas quais Peele opta por filmar suas personagens com o uso de pouca luz. Cenas adicionais poderão entrar na análise, caso elas se mostrem necessárias para uma maior compreensão dos impactos causados naquelas que serão o foco principal.
Tomaremos também como uma metodologia complementar a análise de imagens em movimento de Rose (2002). Tal método de pesquisa foi desenvolvido para estudos de ficção seriada, mas sua abordagem pode nos oferecer algumas categorizações relevantes. As duas propostas metodológicas também se aproximam em alguns aspectos e destacamos que elas não serão utilizadas de modo simultâneo, mas complementar, quando a primeira não der conta do que nos propomos aqui.
Conforme indicado, também faremos alguns apontamentos — quando necessário — sobre a relação entre a escuridão e o cinema de horror, sobretudo a partir de produções dirigidas ou protagonizadas por negros e negras. Usaremos para isso o levantamento realizado por Coleman (2019). Para a discussão sobre o modo (olhar) como se constrói a narrativa fílmica de Peele a partir da fotografia dos corpos negros, dialogaremos com a análise feita por Acker (2017), ainda que a autora tenho focado em outro segmento do cinema do horror, quanto ao “dispositivo do olhar no cinema de horror”, articulando a correlação entre a fotografia (nesse caso, o uso da sombra) e a experiência estética (Gumbrecht 2010; 2014) propiciada por tal narrativa, com ênfase na discussão sobre atmosfera e ambiências nessa construção (Gumbrecht, 2014; Acker, 2017).
Bibliografia
- ACKER, A. M. O dispositivo do olhar no cinema de horror found footage. Tese. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2017.
COLEMAN, R. M. Horror noire: a representação negra no cinema de terror. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2019.
GUMBRECHT, H. U. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, PUC-Rio, 2010.
______. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto da literatura. Rio de Janeiro: Contraponto: Editora PUC Rio, 2014.
PENAFRIA, M. Análise de Filmes – conceitos e metodologia(s). In: VI Congresso SOPCOM, Lisboa, 2009. Anais eletrônicos. Lisboa, SOPCOM, 2009. Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/bocc-penafria-analise.pdf. Acesso em: 20/04/2023.
ROSE, D. Análise de imagens em movimento. In: BAUER, Martin W; GASKELL, George (Org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002