Ficha do Proponente
Proponente
- Eduarda de Oliveira Figueiredo (UFMT)
Minicurrículo
- Mestranda em Estudos Literários/Literatura Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal de Mato Grosso, onde desenvolve pesquisa sobre alguns filmes realizados durante a pandemia de Covid-19. Bacharela em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac São Paulo (2017). Integrante do Grupo de Pesquisa SEMIC – Semióticas Contemporâneas da UFMT. Em 2021, participou da equipe de curadoria do Festival On-line de Filmes de Inquietação.
Ficha do Trabalho
Título
- A PANDEMIA DE COVID-19 COMO UM DISPOSITIVO PARA REPÚBLICA E VOLTEI!
Formato
- Presencial
Resumo
- Trata-se de analisar dois modos de representar a pandemia de Covid-19 realizados no Brasil na quarentena de 2020 pelos filmes República, de Grace Passô, e Voltei!, de Ary Rosa e Glenda Nicácio. Buscaremos destacar suas diferentes construções ficcionais e como essas maneiras de contar se relacionam com o tema da Covid-19, pelo fato de a pandemia ser um dispositivo de criação, que atravessa as suas formas, permitindo notar que o Brasil e seus processos históricos são tratados de diferentes modos.
Resumo expandido
- O objetivo é contemplar dois modos de representar a pandemia de Covid-19 realizados no Brasil na quarentena de 2020 pelos filmes República, de Grace Passô, e Voltei!, de Ary Rosa e Glenda Nicácio. Nesses casos, a pandemia é tanto um indício de processo contextual de realização dos dois filmes quanto um dispositivo de criação, de inspiração e de compartilhamento, permitindo notar que o Brasil e seus processos históricos são tratados de diferentes maneiras. Este estudo é com base nas considerações metodológicas sobre a atividade de análise fílmica, propostas por Nicole Brenez (2014) e Manuela Penafria (2009), de modo a determinar em que proporção esses filmes, em suas construções ficcionais, respondem na pandemia a ela — o que tematizam e narram, ao que dão forma, nos guiando pelos aspectos discursivos, compostos de imagens e sons —, considerando-os como o resultado de um conjunto de relações e circunstâncias dos quais decorrem suas produções e realizações, o que nos dizem dos contextos de sua criação. Os dois propõem em suas tramas uma confusão entre regimes de realidades, onde não sabemos, precisamente, o que é realidade, o que é sonho ou o que é parte do filme dentro do filme, especialmente em República. Dessa observação, interpretamos que este estado de suspensão provocado pelos filmes e pelas ações gravadas e transmitidas por eles durante as suas realizações na pandemia se inscrevem em cada parte do corpo do filme: ainda que ela não seja o tema principal de suas dramaturgias. Tais filmes transpõem para a tela a atmosfera de suspense prevalente, em 2020, no primeiro ano da pandemia, uma vez que convivemos com uma série de inconsistências e descoordenações no que se refere às diferentes aplicações das medidas de restrição, por exemplo, entre outras informações graduais acerca da doença e dos sentidos futuros da vida, com mais interdições, coexistindo com o novo coronavírus. Diante disso, a pergunta de Nicone Brenez, “como um filme respira?” (2014, não paginado), possui um significado diferente tendo em vista a imposição contingencial da pandemia de uma doença infecciosa que atinge diretamente o trato respiratório e os pulmões, tendo como um dos seus principais sintomas a falta de ar. Nesse sentido, na análise desses filmes trabalharemos com essas questões metafóricas: “como República e Voltei! respiram?” e “o que eles respiram?”. Podemos, assim, tomar a ação de “respirar” pela de “filmar” ou pela de “representar”. O filme República (2020), realizado pela diretora, atriz e dramaturga Grace Passô, em parceria com a diretora de fotografia e operadora de câmera Wilssa Esser, se organiza em torno de diferentes personagens vivificadas pela realizadora com foco na contiguidade do espaço de seu corpo no espaço de um apartamento e, simultaneamente e alternadamente, ao rés do asfalto na região da República, centro de São Paulo, imaginando a inexistência do Brasil que, na narrativa, é um sonho deplorável e ambíguo. Por outro lado Voltei! (2020), da realizadora, diretora de arte e produtora Glenda Nicácio e do roteirista, realizador e produtor Ary Rosa, feito no Recôncavo Baiano (BA), mostra por meio das atrizes, a história de três personagens irmãs, vivendo num Brasil do ano de 2030, sob o Regime do Disparate que, na diegese, é uma espécie de síntese da extrema-direita. As formas das frases nessas imagens sonoras dos filmes, questionando os jogos das histórias do país, das que existiram e das que existirão, são expressões lançadas numa pandemia sem serem um espelhamento dela, mas seu próprio estranhamento. Durante as suas realizações, na pandemia, o que os filmes puderam filmar e como os filmes puderam filmar se inscreve nessas histórias da pandemia de Covid-19, em 2020, sob a sua condição. Assim, se a pandemia se impõe como um dispositivo contingencial e mediado desses dois filmes, eles também impõem uma resposta a ela, seja pelo que mostram, seja pelo como mostram e representam. Ela se inscreve nesses filmes e eles se inscrevem nela.
Bibliografia
- ANDRADE, Fábio; GOMES, Juliano. The Dreamed Republic: ‘Your Brazil has Ended, and Mine Never Existed:’ A Conversation about Grace Passô’s Quarantine Short Film, República (2020), 2022. Disponível em: https://cdn.ymaws.com/www.cmstudies.org/resource/resmgr/Andrade_Gomes_The_Dreamed_Re.pdf. Acesso em: 23 abr. 23.
BRENEZ, Nicole. Cada filme é um laboratório. [Entrevista concedida a] Raul Arthuso e Victor Guimarães. Revista Cinética, 2014.
Disponível em: http://revistacinetica.com.br/home/entrevista-com-nicole-brenez/. Acesso em: 23 abr.. 2023.
PENAFRIA, Manuela. Análise de Filmes – conceitos e metodologia(s). VI Congresso SOPCOM, 2009.
RASIA, Régis. Questões estéticas sobre a modalidade da produção audiovisual
pandêmica. In: XXIV Encontro da SOCINE. Anais… Rio de Janeiro: SOCINE, 2021, p. 998-
1003.
VERNET, Marc. Cinema e narração. In. A estética do filme. In: AUMONT, Jacques et al. A
estética do filme. Tradução de Marina Appenzeller. 9 ed. Campinas, SP: Papirus, 2012, p.
89-155.