Ficha do Proponente
Proponente
- Romane CARRIERE (ENS de Lyon)
Minicurrículo
- Romane Carrière é doutoranda contratual, docente na ENS de Lyon e membro do CERCC (Centre d’études et recherches comparées sur la création). Após ter obtido um mestrado intitulado “Pensées du cinéma”, com uma dissertação sobre a análise política dos filmes de Borowczyk e Demy, ela prepara atualmente uma tese de doutoramento com título “Políticas dos corpos no cinema brasileiro contemporâneo (2010-2021)”, sob a orientação de Élise Domenach (ENS Lyon) e Lúcia Ramos Monteiro (PPGCine-UFF).
Ficha do Trabalho
Título
- Mãos que se encontram: políticas de um motivo do cinema contemporâneo
Seminário
- Cinema Comparado
Formato
- Presencial
Resumo
- O motivo das mãos que se encontram aparece em vários filmes contemporâneos. Transnacional e “transgenérico”, esse motivo nos permite esboçar vínculos entre filmes diferentes entre si. Veremos que esse motivo aparece num contexto contemporâneo onde os laços entre indivíduos estão amaçados. Trata-se de uma tentativa de (re)criar vínculo com os demais. Evidenciaremos as potências da descentralização e de reconfigurações políticas dos vínculos existentes permitidas por esse contato.
Resumo expandido
- O motivo das mãos que se encontram aparece em vários filmes contemporâneos tais como “As boas maneiras” (Juliana Rojas e Marco Dutra, 2017), “The Card Counter: O Jogador” (Paul Schrader, 2021), “Chronique d’une liaison passagère” (Emmanuel Mouret, 2022), ou ainda “Aftersun” (Charlotte Wells, 2022). Veremos que diferentes gestos podem ser assimilados a este mesmo motivo (por exemplo, mãos que se apertam no filme “As boas maneiras”, dedos que se tocam apesar de ser separados por um vidro no “The Card Counter”, mãos brincalhonas e coreográficas na “Chronique d’une liaison passagère”). Assim, o motivo das mãos que se encontram é assinalado pela utilização de um corte que o separa do resto da sequência, depois as mãos são filmadas em close e se tornam autônomas. Consideramos que a insistência na junção das mãos através de um tratamento cinematográfico específico sugere que esse gesto tem uma importância significativa nos filmes, apesar de ser um motivo discreto e minoritário na economia dos filmes.
Transnacional e “transgenérico”, o motivo das mãos que se encontram nos permite esboçar vínculos entre filmes diferentes entre si, mas que pertencem à época do ultra contemporâneo. A primeira etapa desta intervenção consistirá em expor o nosso método que compara e aproxima filmes cujos gêneros e temas parecem estar muito distantes (cinema fantástico em “As boas maneiras”, ficção paranoica e assombrada em “The Card Counter”, comédia amorosa sobre a fala e o percurso no espaço em “Chronique d’une liaison passagère”, errâncias da memória e pai fugaz em “Aftersun”). Portanto, através dessa reflexão sobre as mãos que se encontram e do método de comparação, serão criadas zonas de contato entre os filmes. Nota-se também que esse método, que se baseia em um motivo que é marginal aos filmes, nos permitirá renovar as nossas abordagens dos filmes para ter leituras singulares.
O estudo desse motivo nos permitirá reunir filmes diferentes entre si com objetivo de mapear os desafios do mundo contemporâneo. Veremos, em seguida, que esse motivo aparece num contexto contemporâneo onde os laços entre indivíduos estão enfraquecidos e amaçados. A recorrência desse motivo nos filmes analisados nos convida a pensar que se trata de uma tentativa de (re)criar vínculo com os demais, o que se consegue através do toque e do contato físico. Estudaremos, além disso, as condições desse gesto, que implica uma forma de vulnerabilidade e de abandono de outros, com a possibilidade transformadora desse contato. Por fim, evidenciaremos as potências da descentralização e de reconfigurações políticas dos vínculos existentes permitidas por esse contato.
Bibliografia
- AGAMBEN Giorgio, Meios sem fim: Notas sobre a política, Pessoa Davi (trad.), São Paulo, Autêntica Editora, 2015.
AGAMBEN Giorgio, O que é o Contemporâneo? e outros ensaios, Vinícius Nicastro Honesko (trad.), Chapecó, SC, Argos, 2009.
BERTHET Frédérique et Marion FROGER (éd.), Le partage de l’intime : histoire, esthétique, politique, Montréal, Les Presses de l’Université de Montréal, 2018.
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