Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Claudio Leal (ECA-USP)

Minicurrículo

    Claudio Leal é jornalista e colaborador da “Folha de S.Paulo”, nos cadernos Ilustrada e Ilustríssima, e de outros veículos da imprensa. Formado em jornalismo pela UFBA, é mestre em cinema pela ECA-USP, onde também cursa seu doutorado em Meios e Processos Audiovisuais. Autor do livro “O Universo de Emanoel Araújo” (2019) e organizador da antologia “Underground” (2022), de Luiz Carlos Maciel. Co-organiza atualmente a crítica de cinema de Caetano Veloso para a Companhia das Letras.

Ficha do Trabalho

Título

    Diálogos de IIIº Mundo: Caetano Veloso e José Agrippino de Paula

Seminário

    Cinema Comparado

Formato

    Presencial

Resumo

    Nos anos 1960, o diálogo de Caetano Veloso com o escritor e cineasta José Agrippino de Paula (1937-2007), autor do romance “PanAmérica”, influenciou a formulação conceitual do Tropicalismo. No retorno do exílio, em 1972, Caetano assistiu pela primeira vez a “Hitler IIIº Mundo” e consolidou sua preferência pelo teatro e cinema de Agrippino. Com base em críticas e depoimentos, este trabalho apresenta a recepção de Caetano à obra audiovisual de Agrippino, de “Hitler” a “Céu Sobre Água” (1978).

Resumo expandido

    Nos anos 1960, o diálogo de Caetano Veloso com o escritor e cineasta José Agrippino de Paula (1937-2007), autor do romance “PanAmérica”, teve ressonância nas formulações do movimento tropicalista em sua abertura ao imaginário da cultura de massa. Em 1966, meses antes do lançamento de “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, Caetano foi apresentado a Agrippino pelo designer Rogério Duarte, outra mente conceitual da tropicália. Essa triangulação crítica preparou o reconhecimento do filme de Glauber como um elemento disparador de uma representação nova do país, também informada por referências estéticas do pop internacional, que marcaria o ideário tropicalista. “A simples presença de Zé Agrippino representava como que um aprofundamento das ideias mais audaciosas de Rogério”, escreve o compositor em “Verdade Tropical”, seu livro de memórias. “Tanto Rogério quanto Zé Agrippino me predispuseram a receber favoravelmente Terra em Transe”.

    Na visão de Caetano, mais do que a literatura, o teatro e o cinema de Agrippino, em colaboração com Maria Esther Stockler, concentraram as realizações mais plenas e fortes do artista paulista, insubmisso à ideia do subdesenvolvimento brasileiro e a identidades puramente nacionais. O espetáculo “Tarzan IIIº Mundo” (1968), do grupo Sonda, com criação coreográfica de Stockler, seria uma experiência marcante para o tropicalista baiano, amplificada pela estreia de Agrippino no longa-metragem. No retorno do exílio, em 1972, Caetano assistiu pela primeira vez a “Hitler IIIº Mundo” – uma miragem da nazifascistização do Brasil com personagens inspirados na cultura de massa – e aprofundou seu fascínio pela perspectiva irracionalista de Agrippino.

    Fundamentando-se em ensaios e depoimentos colhidos junto ao compositor, este trabalho apresenta a recepção de Caetano Veloso à obra audiovisual de Agrippino, de “Hitler IIIº Mundo” (1968) a “Céu Sobre Água” (1978), um terreno ainda pouco explorado pela bibliografia sobre o tropicalismo, historicamente mais concentrada no impacto do romance “PanAmérica”. Em sentido inverso, discute-se também a influência de Agrippino sobre o pensamento audiovisual de Caetano durante o tropicalismo e depois de seu retorno do exílio, em comparação com o que reconhecia no cinema de Glauber, Julio Bressane e Rogério Sganzerla.

Bibliografia

    LEAL, Claudio. “Torquato Medula e Osso”. In: Torquato Neto, arte inacabada. Teresina: EDUFPI, 2022.
    MADAZZIO, Irlainy Regina. O voo da borboleta: a obra cênica de José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler. Dissertação de Mestrado em Artes Cênicas. ECA-USP, São Paulo, 2005.
    MORAES, Felipe Augusto de. A arte-soma de José Agrippino de Paula. Dissertação de mestrado em Meios e Processos Audiovisuais. ECA-USP, São Paulo, 2011.
    PAULA, José Agrippino de. PanAmérica. São Paulo: Editora Papagaio, 2001.
    ROCHA, Glauber. Revolução do cinema novo. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
    VELOSO, Caetano. Alegria, alegria: uma caetanave organizada por Waly Salomão. Rio de Janeiro: Pedra Q Ronca, 1977.
    _______ . Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
    _______. O mundo não é chato. (org. Eucanaã; Ferraz). São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2013.