Ficha do Proponente
Proponente
- Vanessa Maria Rodrigues (UFF)
Minicurrículo
- Doutoranda em Cinema e Audiovisual (PPGCine-UFF), pesquisa a preservação dos filmes do cineasta doméstico Nahim Miana. Mestre em Artes, Cultura e Linguagens (PPGACL-UFJF), com dissertação sobre a reutilização de imagens de arquivo para a construção de memória sobre as cidades. Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo (UniAcademia). É membro do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (LUPA-UFF) e cocoordena o projeto de extensão “Pesquisa e Preservação do Acervo Nahim Miana”.
Ficha do Trabalho
Título
- Películas Nahim Miana: desafios da pesquisa de uma coleção de filmes
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Formato
- Presencial
Resumo
- Nahim Miana foi um cineasta doméstico que filmou em películas 8mm e 16mm cenas do cotidiano em família ao longo das décadas 1940 a 1970. No ano 2000, ele doou 34 películas para a Funalfa, em Juiz de Fora (MG). Esse conjunto de filmes ficou no local até 2022, quando foi firmado um convênio com o LUPA-UFF para a revisão, análise e catalogação dos rolos. Nesta comunicação, apresentaremos os resultados do trabalho teórico-prático de investigação do conteúdo fílmico e de preservação dessa coleção.
Resumo expandido
- Nahim Miana foi um cineasta doméstico mineiro, natural de Santos Dumont (MG) e descendente de imigrantes sírio-libaneses, que filmou em películas 8mm e 16mm, por hobby e forma de registro da memória familiar, vivências do cotidiano dos Miana ao longo das décadas 1940 a 1970. No ano 2000, pouco antes de morrer, ele doou 34 dessas películas para a Funalfa, instituição responsável pela política cultural de Juiz de Fora (MG), cidade onde o cineasta morou a maior parte da vida, da infância à velhice.
Os filmes ficaram na instituição até 2022, quando foi firmado um convênio com o Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (LUPA-UFF) e eles foram levados para as instalações do laboratório para os trabalhos de preservação, análise e catalogação. Nesta comunicação, vamos discutir os resultados do trabalho teórico-prático de investigação da preservação e do conteúdo fílmico dessa coleção.
A partir da revisão manual das películas, identificamos, entre outras, questões relacionadas à presença de microrganismos, riscos, desprendimento e estriamento da emulsão, soltura de pequenos cristais, descolamento de emendas, encolhimento, descoramento da imagem colorida, esmaecimento da imagem p&b, perfurações rompidas, acidez e síndrome do vinagre. Quando estritamente necessário, intervimos fisicamente no material.
Além disso, ao examinar a documentação relativa à coleção, encontramos informações discordantes, trocadas, erradas e/ou incompletas: todos os filmes 16mm da coleção, por exemplo, estavam catalogados e disponibilizados aos pesquisadores em preto e branco (p&b), já que o acesso a eles é feito somente por meio de dois DVD’s onde os filmes foram copiados dessa forma. No entanto, a análise dos rolos apresentou uma surpresa: no meio deles, emendadas às películas p&b, também havia registros feitos em películas coloridas.
Outro exemplo da problemática da documentação foi a listagem da Funalfa das produções de Nahim, que provavelmente se baseou nas anotações nas latas em que os rolos estavam armazenados: alguns títulos elencados como parte da coleção não correspondiam ao que de fato estava registrado na película. Logo, quem buscasse por um conteúdo respaldado pelo inventário da instituição, poderia não o encontrar e ainda não saber da existência de outro assunto que poderia despertar interesse.
O estudo também levou em conta o conteúdo dos filmes, que foram agrupados em cinco categorias: família e infância; eventos sociais, esportivos, culturais e educacionais; práticas religiosas; vistas de Juiz de Fora; e turismo. Nesses registros, feitos inicialmente para a exibição no âmbito do lar, filmagens de recém-nascidos, brincadeiras infantis, batizados, casamentos, carnavais, desfiles militares, atividades escolares, jogos de futebol, passeios a pontos turísticos de Juiz de Fora e outros municípios de Minas Gerais, além de viagens a estados brasileiros e ao exterior. A análise das produções se baseou na tentativa de entender como Nahim filmava, quem ele filmava, os enquadramentos, campo e contracampo, presenças e ausências, que tipo de imagens foram produzidas e métodos de montagem.
Como há escassos apontamentos sobre os personagens e situações registradas e muitos dos filmes, por não estarem digitalizados, seriam vistos unicamente em película durante a revisão em mesa enroladeira, para o entendimento de algumas questões foi preciso desenvolver um método de entrevista pautado no diálogo constante com a família Miana, com perguntas e respostas trocadas via aplicativos de mensagens à medida que surgiam dúvidas.
Assim, respaldados nessas breves considerações, a intenção da proposta é também apresentar quem é Nahim Miana, o trabalho dele como cineasta doméstico e o estado atual de preservação das suas películas, contribuindo com o acesso, pesquisa, salvaguarda e publicização da coleção e, quiçá, com os estudos do filme doméstico no Brasil.
Bibliografia
- CINEMATECA BRASILEIRA. Manual de manuseio de películas cinematográficas: procedimentos utilizados na Cinemateca Brasileira. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Cinemateca Brasileira, 2006.
EDMONDSON, Ray. Arquivística audiovisual: filosofia e princípios. Brasília: UNESCO, 2017.
FOSTER, Lila Silva. Filmes domésticos: uma abordagem a partir do acervo da cinemateca brasileira. 2010. Dissertação (Mestrado em Imagem e Som) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2010.
FOSSATI, Giovanna. Del grano al píxel: Cine y archivos em transición. Buenos Aires: Imago Mundi, 2019.
GARCÍA, Alfonso del Amo. Clasificar para preservar. México: CONACULTA–Cineteca Nacional/ Filmoteca Española, 2006.
RODRIGUES, Vanessa Maria. Filmes de arquivo: possibilidades para a construção de uma memória sobre as cidades. Dissertação (Mestrado em Artes, Cultura e Linguagens) – Instituto de Artes e Design, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2019.