Ficha do Proponente
Proponente
- Matheus da Silva Lima (UnB)
Minicurrículo
- Matheus Lima é mestrando em audiovisual pela linha “Imagem, estética e cultura contemporânea” na Faculdade de comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB). Pesquisa cinema brasileiro, documentário e política. É graduado em Comunicação Social, com habilitação em Audiovisual, pelo mesmo departamento.
Ficha do Trabalho
Título
- Militância no cinema contemporâneo brasileiro: uma análise comparativa
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação propõe desenvolver uma análise comparativa de obras com viés político no atual contexto de produção brasileira, sendo elas: Martírio (2016), Na missão, com Kadu (2016), Branco sai, preto fica (2014) e Juízo (2007). O objetivo é discorrer sobre a produção cinematográfica com recorte militante no Brasil contemporâneo e possíveis sentidos para sua compreensão, abordando as diferentes formas de engajamento político em cada obra e seu agenciamento quando analisada em conjunto.
Resumo expandido
- No Brasil das últimas duas décadas é notável uma proliferação de obras audiovisuais cuja proposta é atravessada diretamente por um desejo de intervenção social. Com modos de produção e circulação diversos, essas imagens vêm angariando cada vez mais espaço, seja em circuitos mais tradicionais de circulação – como festivais e mostras – seja por veículos de notícia como Mídia Ninja ou pela própria mobilização dos envolvidos através de plataformas sociais. As notas comuns em grande parte dessas produções já se torna cada vez mais evidente: são filmes nascidos no berço de acirrados conflitos políticos, por vezes em associação à movimentos sociais, como ocupações urbanas e associações indígenas, e com um anseio em comum: usar o ferramental audiovisual como arma material no espaço político.
Esta comunicação propõe desenvolver uma análise comparativa de um grupo de quatro obras cinematográficas com viés político no atual contexto de produção fílmica brasileira, sendo elas: Martírio (Vincent Carelli, 2016), Na missão, com Kadu (Pedro Maia de Brito, Kadu Freitas e Aiano Benfica, 2016), Branco sai, preto fica (Adirley Queirós, 2014) e Juízo (Maria Augusta Ramos, 2007). A seleção do corpus de análise destaca-se pelas diferentes formas em que cada uma das obras responde frente ao debate sobre agenciamento político e produção audiovisual. O intuito é refletir sobre o chamado “cinema militante” e suas teorizações na história do cinema, tensionando tais teorias frente ao corpo de análise. Com isso, busca-se investigar a relação das produções com os respectivos movimentos e comunidades em que se inserem e aprofundar a compreensão sobre as potências do aparato cinematográfico simultaneamente como objeto estético e ferramenta de intervenção política direta.
Como metodologia, propõe-se um diálogo das obras selecionadas com abordagens estéticas que também se inserem, ao mesmo tempo, no debate ético e político. Para isso, ressaltamos aqui obras como a dos teóricos George Didi-Huberman (2020) e Jacques Rancière (2005). Apesar de díspares em certos conceitos, são aportes que versam sobre o potencial de reconfiguração simbólica das imagens, bem como sua potencialidade na disputa do sensível e nas possibilidades de atuação da arte no campo político.
Em paralelo, outro aporte metodológico de valiosa importância para a composição dos objetivos aqui expostos é a utilização de constelações fílmicas, método comparatista não linear proposto por Mariana Souto (2020). Trabalhar com imagens de locais e contextos distintos implica se movimentar constantemente entre as particularidades e as conexões e “a perspectiva comparatista não é apenas uma escolha metodológica, mas é ela que garante a própria ‘aparição’ ou emergência do problema” (SOUTO, 2019, p. 40). Os filmes inscritos em contexto político carregam trajetórias e abordagens marcadamente distintas sobre tanto seu modo de produção quanto veiculação, sendo a análise comparativa ferramenta de proveito para buscar, diretamente no acirramento entre os filmes, as pistas para como cada qual interfere e se agencia frente à partilha do comum.
Assim sendo, pode-se delinear a abordagem da comunicação da seguinte forma: discorrer sobre os estudos em produção cinematográfica documental com recorte militante no Brasil contemporâneo, contribuir na produção de novos sentidos para o objeto e sua compreensão, bem como na maneira como tais reflexões influenciam diretamente na prática fílmica. A proposta de apresentação constitui-se, portanto, em abordar as diferentes manifestações de engajamento político em cada uma das obras selecionadas e como tais manifestações se agenciam entre si, quando analisadas em conjunto.
Bibliografia
- DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens apesar de tudo. São Paulo: Editora 34, 2020.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2005.
SOUTO, Mariana. Infiltrados e invasores: uma perspectiva comparada sobre relações de classe no cinema brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2019.
______. Constelações fílmicas: um método comparatista no cinema. Galáxia, São
Paulo, n. 45, p. 153-165, dez.2020.