Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Frederico Franco (UNESPAR)

Minicurrículo

    Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), vinculado à linha de pesquisa Teorias e Discursos no Cinema e nas Artes do Vídeo. Membro do grupo de pesquisa Navis (Unespar/FAP/CNPq). Graduado em Realização Audiovisual pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). A atual pesquisa versa sobre as relações estético-políticas entre cinema experimental brasileiro e artes visuais ao longo dos anos 1960 e 1970.

Ficha do Trabalho

Título

    Corpo e performance em O rei do cagaço (1977) e Shave & Send (1977)

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente trabalho propõe uma análise comparativa dos filmes O rei do cagaço, de Edgard Navarro, e Shave & Send, de Jorge Mourão, a partir de um diálogo com teorias da performance e do uso do corpo nas artes visuais. Através de textos de Frederico Morais, Hélio Oiticica e Décio Pignatari e trabalhos de Artur Barrio e Lygia Clark, busca-se compreender como ambos os filmes, aliados a seu contexto artístico-cultural, encontram nos corpos um instrumento de experimentação estética.

Resumo expandido

    A recusa do canva da pintura foi uma tendência central dos movimentos de arte contemporânea. Entre as matérias primas utilizadas para o desenvolvimento de novas estéticas de vanguarda está o corpo humano. Performances e happenings de artistas como Marina Abramaovic, Ulay e Bas Jan Ader, por exemplo, veem no corpo humano o próprio conteúdo de suas obras. É sobre compreender a dinâmica do corpo com diversos fatores, como seus próprios limites físicos ou sua interação direta no espaço. Sendo realizadas em estúdios ou ambientes cotidianos, as performances, inevitavelmente, parecem dialogar diretamente com questões que tangenciam a estética artística, tais como temas sociais e políticos de seu tempo.

    No contexto contemporâneo brasileiro, entre 1960 e 1970, diversos artistas visuais realizaram experimentos corporais performáticos como forma de instauração de uma nova vanguarda no país. Na literatura referente à arte, o crítico Frederico Morais, com o conceito do “corpo como motor da obra” é um primeiro aporte teórico no contexto artístico do Brasil. Pelo lado prático, Hélio Oiticica é um dos pioneiros, propondo uma integração total do corpo, seu próprio e do espectador, com suas obras, vide penetráveis e, principalmente, os Parangolés. Da mesma forma, Artur Barrio e Lygia Clark, são outros nomes que, ao longo dos anos 1970, rumaram em direção ao desenvolvimento de uma arte ao mesmo tempo especificamente brasileira e, também, influenciada diretamente pelas ideias de performance. Com destaque, salienta-se as obras P.H e 4 dias e 4 noites, ambas de Barrio, Caminhando e Túnel, de Lygia Clark.

    Direta ou indiretamente influenciado pelas tendências artísticas da época, o cenário cinematográfico brasileiro dos anos 1960 e 1970 era propício para o surgimento de uma corrente de filmes que valorizava o corpo humano como principal tema e conteúdo de suas obras, flertando muitas vezes com a performance. Lendo textos de Rogério Sganzerla, exemplificando, nota-se uma excessiva, porém fortuita, ênfase em estudar o corpo humano como principal motor das obras audiovisuais. Os dois filmes aqui referenciados são exemplos práticos dessa preocupação dos realizadores com o corpo.

    O primeiro deles, obra mor de Edgard Navarro, O rei do cagaço (1977), é um marco na carreira do cineasta, que pontua inúmeras de suas principais característica estéticas: da iconoclastia à escatologia. Em uma das cenas mais famosas da obra, exemplificando, vê-se durante alguns minutos o anus de um homem defecando, decupado em extremo close-up, aumentando a sensação de estranhamento e repulsa por parte do espectador. Já em Shave & Send (1977), o diretor Jorge Mourão, acompanha-se um homem seminu que entra em um estúdio com correntes ao redor de seu corpo e uma coroa em sua cabeça. Durante o filme, o protagonista, performando ao redor do ambiente, inicia um processo de depilação de todo seu corpo, transformando completamente sua imagem.

    Busca-se nesse estudo, portanto, compreender como ambos os filmes, através de sua relação com o corpo filmado, da temática corporal, dialogam com exercícios de experimentação estética das artes visuais e, por consequência, da arte da performance.

Bibliografia

    FREITAS, Artur. Contra-arte: vanguarda, conceitualismo e arte de guerrilha – 1969-1973. 2007. 365f. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, do setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, 2007.

    MORAIS, Frederico. Contra a arte afluente. Vozes, Rio de Janeiro, n. 1, jan/fev., 1970.

    OITICICA, Hélio. Situação da vanguarda no Brasil. Texto datilografado, Rio de Janeiro, nov., 1966. (documento nº 0248/66 do Programa Hélio Oiticica Itaú Cultural).

    RAMOS, Guiomar; MURARI, Lucas. Fragmentos de uma história do cinema experimental brasileiro. In: RAMOS, Fernão Pessoa. Nova história do cinema brasileiro – vol. 2. 1ª ed. São Paulo: Sesc São Paulo, 2018.

    SGANZERLA, Rogério. Por um cinema sem limites. 1ª ed. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2001.

    ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2014.