Ficha do Proponente
Proponente
- Alexandre Bruno Gouveia Costa (ufmg)
Minicurrículo
- Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG (PPGCom) e vinculado grupo de pesquisa Tramas Comunicacionais: Narrativa e Experiência. Trabalho com pesquisa no audiovisual que transita pela estética, narrativa, temporalidades e mais recentemente espacialidades. Possuo Mestrado em Cultura e Sociedade pelo PGCult da UFMA e graduação em Comunicação Social – jornalismo pela UFMA.
Ficha do Trabalho
Título
- A inquietação do espaço: o fantástico e as narrativas fílmicas
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta pesquisa busca investigar a experiência fílmica por meio da inquietação provocado pelo espaço fílmico em narrativas ficcionais, moduladas pelo fantástico. O fenômeno em questão é a trilogia fílmica do cineasta maranhense Frederico Machado, especificamente: O Exercício do Caos (2013); O Signo das Tetas (2015) e As Órbitas da Água (2021). Como problema norteador para o caminho é refletir sobre a inquietude do espaço fílmico como elemento do fantástico.
Resumo expandido
- O texto proposto, se propõe a investigar o espaço fílmico, tendo como referência a trilogia do diretor cinematográfico maranhense, Frederico Machado, construído como “inquieto’ e “inquietante”, ou seja, como vinculado ao fantástico. Para isso, além da revisão de estudos clássicos da literatura fantástica, realizarei um estudo aprofundado sobre imagem cinematográfica, suas abordagens diegéticas e a definição de espaço. Os filmes: O Exercício do Caos (2013); O Signo das Tetas (2015) e As Órbitas da Água (2021), são as três obras que compõem a referência inicial para o estudo aqui proposto, em torno do espaço, do fantástico e das narrativas fílmicas.
Como problema norteador para o caminho desta pesquisa reflito sobre a inquietude do espaço fílmico como elemento do fantástico. Essa reflexão tomará como ponto de partida a trilogia fílmica. O diretor e produtor dos filmes Frederico da Cruz Machado nasceu na cidade de São Luís, no Maranhão.
Em O Exercício do Caos, de 2013, a narrativa carrega no suspense e a história de um pai soturno e autoritário que vive com as três filhas adolescentes em uma fazenda de mandioca no interior do Maranhão. A família compartilha a ausência da mãe e lida com os ditames rigorosos de um estranho capataz que os explora enquanto assedia sexualmente as três irmãs, divididas entre a ilusão da infância e a cruel realidade de suas vidas. Enquanto o eixo familiar desmorona pouco a pouco, os personagens, fragilizados, situam-se no limiar entre a razão e a loucura, entre o caos e a fé.
No segundo filme da trilogia, O Signo das Tetas (2015), a personagem principal, não nomeada, busca no trânsito entre o campo e a cidade o acolhimento do seio/teta materna. A trama é carregada de melancolia ao olhar para o fracasso do macho/adulto da personagem masculina. Os corpos das personagens que se tocam não estabelecem conexão. O homem que vagueia estabelece um ritmo com os espaços, em que a dúvida se é real ou fruto da imaginação permanece até o fim da trama.
O desfecho da trilogia, As Órbitas da água (2021), é considerado o filme mais hermético e o mais radical dos três. É quando um casal de forasteiros chega um pequeno vilarejo à beira do rio (a localização não é apresentada), e na relação com os moradores, entre olhares desconfiados e de desaprovação, o casal se dedica a viver com intensidade suas pulsões e paixões. A obra é dividida em três partes (“Água”, “Lodo”, “Órbitas”).
As três obras enfatizam o espaço como elemento desnorteador do real, como algo inquietante, como agente de experiência. Dessa forma, os filmes me mobilizaram a pensar o potencial da narrativa fantástica que se concentra consideravelmente na dimensão espacial das obras, nas ambientações: na floresta, no rio, na igreja, na praia ou espaços da cidade.
Por isso, a inquietação é modo de problematizar a narrativa ficcional e, por meio desta, alcançar contornos e modos de experienciar o fantástico nas narrativas fílmicas. Inquietação aqui é entendida como elemento que caracteriza o fantástico e está associada diretamente a dimensão espacial dos filmes escolhidos. Qualquer outro recurso estético da linguagem fílmica, como personagens, trilha sonora ou som diegético, fotografia, pode desenvolver também o fantástico (e será considerado na pesquisa).
A escolha deste material fílmico se dá, em primeiro lugar, pela narrativa ficcional como solução considerável para o desenvolvimento de práticas culturais e contextos apresentados.
Para esta proposta, a espacialidade/espaço fílmico é resultado do espaço narrado, produzindo percepções e lugares imaginários, criando formas sensíveis para se experienciar a vida mundana, promovendo inquietação. Mais do que definir um cenário para narrar uma história, o espaço coloca em jogo a própria existência da experiência fílmica.
Bibliografia
- BAZIN, André. O Cinema – Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
BESSIÈRE, Irène. O fantástico no cinema. sonhos e medos do terceiro milênio. Revista Abusões. n. 06 v. 06. ano 04, 2018.
MACHADO, Frederico. O Exercício do Caos. [Filme/digital – reprodução vídeo]. Direção de Frederico Machado. São Luís, 2013. Digital, 70 min.
___________________. O Signo das Tetas. [Filme/digital – reprodução vídeo]. Direção de Frederico Machado. São Luís, 2015. Digital, 68 min.
___________________. As Órbitas da Água. [Filme/digital – reprodução vídeo]. Direção de Frederico Machado. São Luís, 2021. Digital, 71 min.
MASSEY, Doreen. Pelo Espaço: uma nova política da espacialidade. Trad. Hilda Pareto Maciel e Rogério Haesbaert. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
ROAS, David. A ameaça do fantástico: aproximações teóricas. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
TODOROV, Tzvetan. A narrativa fantástica. In:As estruturas narrativas. Tradução de L. Perrone-Moisés. São Paulo: Perspectiva, 1970b. p.147-166.