Ficha do Proponente
Proponente
- Marcus Vinicius Azevedo de Mesquita (UnB)
Minicurrículo
- Diretor, roteirista e produtor. Mestrando em Artes Visuais e bacharel em audiovisual, pela Universidade de Brasília – UnB. Dentre outras realizações co-roteirizou e co-dirigiu o curta-metragem Afronte (2017) e o longa-metragem Rumo (2022). Produz a Mostra Competitiva de Cinema Negro – Adélia Sampaio. Produziu o documentário Filhas de Lavadeiras (2019). Foi um dos curadores do Festival Universitário de Brasília (2019), da Mostra Híbrida (2021) e da Mostra Curta o Gênero (2022).
Coautor
- Bruno Victor dos Santos Almeida (Unicamp)
Ficha do Trabalho
Título
- O uso de imagens de arquivo e da performance em filmes-ensaios
Formato
- Presencial
Resumo
- Este artigo busca compreender a maneira como os filmes: Alma no olho, Tudo que é apertado rasga e E no rumo do meu sangue, constituem filmes-ensaios que elaboram construções acerca de questões que afetam os realizadores. A partir do exame dos elementos que compõem a narrativa fílmica, buscamos compreender como os filmes desenvolvem narrativas a partir de imagens de arquivo e da performance para construir ensaios, que explicitam as visões dos diretores acerca da experiência negra no Brasil.
Resumo expandido
- Os estudos sobre a história do cinema brasileiro demonstram que determinados grupos foram representados de forma estereotipada e relegados a papéis de subalternidade. Pode-se afirmar que negros e negras têm sido representados pelos meios de comunicação por meio de um conjunto de estereótipos que se amalgamaram ao imaginário social e constituem mecanismo de manutenção das estruturas de poder que compõem a sociedade brasileira (Carvalho, 2005; Souza, 2013) em que predomina o racismo disfarçado ou “por denegação” (Gonzalez, 1984).
Observa-se, contudo, o crescimento de novas produções que reescrevem ou questionam a maneira como personagens negros são representados. Essas produções fazem parte de um grupo que se constitui a partir de movimentos fundados por artistas, como Zózimo Bulbul, em que buscam arquitetar um novo lugar para negros e negras no cinema.
O presente artigo busca analisar os filmes-ensaios “Alma no olho” (1974), “Tudo que é apertado rasga” (2019) e “E no rumo do meu sangue” (2020), para compreender de que maneira eles dialogam com esse pensamento questionador da história negra no Brasil, bem como, mostrar como diferentes linguagens são utilizadas para construir um debate importante para o cinema brasileiro. São objetos artísticos que ultrapassa a experiência do sujeito representado na tela para uma experiência coletiva.
“Alma no Olho” é filme experimental dirigido por Zózimo Bulbul, que retrata as experiências de um homem negro em África e na diáspora. Ele refaz em 12 minutos uma trajetória de séculos de escravização e diferentes formas de genocídio perpetrados contra a população negra no Brasil.
Dirigido por Fábio Rodrigues Filho, “Tudo que é apertado rasga” é um filme que utiliza da montagem e da edição para demonstrar por meio de imagens de arquivo a presença e a realidade de atores e atrizes negras na produção cinematográfica brasileira.
Em pouco mais de 4 minutos “E no rumo do meu sangue”, realizado por Gabriel Borges, constrói um importante debate acerca de questões raciais no Brasil. Ele desenvolve a sua narrativa a partir de recortes do filme Alma no Olho e uma entrevista do cineasta Zózimo Bulbul.
Nosso questionamento parte de como os filmes-ensaios se constituem e apresentam as similaridades e divergências entre os três filmes. Apesar de utilizarem diferente elementos para a construção de suas narrativas, convergem na maneira como buscam a produção de sentido. Estaremos atentos em nossa análise tanto na forma quanto no conteúdo, pois é na forma que residem o mecanismos utilizados para a desenvolvimento do conteúdo.
Os filmes-ensaios tomam destaque na década de 1990 e possuem experimentações de linguagens, formas e estilos que, muitas vezes, são confundidas com o documentário (Teixeira, 2021). O debate sobre a indexação dos filmes-ensaios será um ponto presente em nosso artigo, uma vez que, como afirma Teixeira (2021), ainda há uma série de questionamentos acerca do que seriam esses filmes, mesmo com a constante inovação no uso de novos recursos estilísticos, situando-os entre o documentário e os filmes experimentais.
Para sustentar nossa argumentação de como as obras, apesar das divergências na forma, constituem filmes-ensaios, realizaremos uma análise fílmica, uma vez que como afirma Aumont e Marie (2004), faz-se necessário considerar o filme uma obra artística autônoma, que estabelece formações textuais, que fundamentam os seus significados em estruturas narrativas, por meio de aparatos visuais e sonoros. Adotaremos como perspectiva metodológica a análise dos elementos que compõem a linguagem cinematográfica, para compreender como os filmes dialogam com diferentes propostas estéticas na construção de um discurso acerca da população negra nos meios de comunicação e da sociedade.
Bibliografia
- Carvalho, Noel dos Santos. Cinema e representação racial: o cinema negro de Zózimo Bulbul. São Paulo (Tese Doutorado) -Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005.
GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje – Anuário de Antropologia, Política e Sociologia. 1984.
Souza, Edileuza Penha de. Cinema na panela de barro: mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade. 2013 (Tese de doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2013.
TEIXEIRA, Francisco Elinaldo. Passagens entre o filme-ensaio eo documentário (revisões/problematizações). DOC On-line: Revista Digital de Cinema Documentário, n. 30, p. 145-168, 2021.