Ficha do Proponente
Proponente
- Luis Fernando Severo (Unespar)
Minicurrículo
- Doutor em Comunicação e Linguagens – Linha de Pesquisa em Cinema e Audiovisual pela Universidade Tuiuti do Paraná. Professor de Direção Audiovisual no Curso de Cinema e Audiovisual da FAP/Unespar. Diretor do Museu da Imagem e do Som do Paraná de 2011 a 2016. Realizador de mais de 40 filmes de longa e curta-metragem premiados nos festivais de cinema de Gramado, Rio de Janeiro, Brasília, Montecatini Terme e selecionados para os festivais de Locarno, Oberhausen e Clermont-Ferrand.
Ficha do Trabalho
Título
- Liberdade vertiginosa: o ensino de cinema experimental na universidade
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Relato analítico da experiência em ministrar durante quatro semestres a disciplina optativa Cinema Experimental e Underground no Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Paraná. A partir da proposta de utilizar como método avaliativo a realização de filmes experimentais individuais ou em equipe, aconteceu uma intensa resposta dos alunos e alunas participantes das aulas, gerando um corpo de mais de oitenta obras no gênero, com notável diversidade.
Resumo expandido
- O objetivo desta comunicação é compartilhar minha experiência durante quatro semestres como professor da disciplina optativa Cinema Experimental e Underground no Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Paraná, instituição pública e gratuita que iniciou suas atividades em 2005 e onde ingressam anualmente sessenta estudantes. Os dois primeiros semestres enfocados aqui foram realizados durante o período pandêmico, através de aulas online e os dois últimos contaram com aulas presenciais. Para avaliação e atribuição de notas foi solicitado a entrega de um filme experimental, realizado individualmente ou em equipe, e de um memorial descritivo referente à sua realização. Os filmes realizados durante a pandemia foram compartilhados e assistidos somente na versão online, sendo comentados pelo professor e pela turma. No período presencial esse processo aconteceu durante exibições na Cinemateca de Curitiba.
Esse preâmbulo se faz necessário para a plena compreensão das observações que faço a partir da metodologia das aulas e os resultados obtidos, que foram quantitativamente e qualitativamente muito expressivos. Durante os quatro semestres a maioria optou por trabalhos individuais, o que resultou em mais de oitenta filmes concluídos e exibidos. Para efeito de comparação, as disciplinas de Direção Audiovisual, das quais também sou professor, costumam resultar em quatro ou cinco filmes por semestre, todos realizados em equipe.
A metodologia adotada parte do princípio de que não é possível ensinar formalmente cinema experimental, que se caracteriza pela absoluta ausência de regras ou conceitos pré-definidos, sendo sua realização caracterizada pela completa liberdade temática, estilística e formal e a ausência de cânones a serem reconhecidos. Dessa maneira a participação do professor se faz através de uma curadoria de conteúdo que expressa sua visão pessoal do tema, visando e estimular a criação pela aproximação a novas propostas fílmicas. A leitura dos memoriais e as conversas pós-exibições revelaram uma verdadeira explosão criativa, cuja ignição parte do contato com a obra de realizadores como Jonas Mekas, Maya Deren, Stan Brakhage, Ken Jacobs e Michael Snow, para ficarmos entre os mais citados, com destaque para a região onde o experimental e o underground se entrecruzam nas obras de Rogério Sganzerla, Julio Bressane e Andy Warhol. A opção pelo trabalho individual ao invés da tradicional formação de equipe foi justificada na maioria dos casos pela descoberta de uma forma de expressão cinematográfica que permite a transição de ideias, sensações e sentimentos para a tela sem a intermediação de metodologias de criação a serem discutidas em grupo e sem a exigência de domínio técnico além do acionamento de qualquer dispositivo de registro de imagens e sons, ou de processos inteiramente computacionais. A partir do registro de uma fala de Mekas que realizei na Cinemateca Francesa, ficou estabelecido que o gesto criativo no audiovisual não necessita de preparo ou premeditação, do uso de aparatos técnicos sofisticados ou de um projeto pré-definido de montagem, operando com sucesso a transposição de um desejo de filme para as telas, o que gerou na disciplina um número significativo de diários filmados. Das reflexões contidas no seminal Metaphors on Vision de Brakhage e de seus resultados brotaram mergulhos na abstração por intermédio formas e sensações que convidam à vertigem do prazer da pura percepção. A evocação de Maya Deren incorporou a vários trabalhos tinturas surreais e de viés feminista e o cinema queer se fez presente a partir do diálogo com a obra de realizadores como Jack Smith e Gregory Markopoulos. Encontraram espaço também nas obras apresentadas as referências ao anarquismo poético de Bressane, Sganzerla e Reichenbach e ao labor construtivista de Carlos Adriano e Arthur Omar, num fecundo diálogo com o cinema brasileiro.
Bibliografia
- ALBERIA, François. Modernidade e Vanguarda do Cinema. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2012.
BERNARDET, Jean-Claude. O vôo dos Anjos: Bressane, Sganzerla. São Paulo: Brasiliense, 1990.
BRAKHAGE, Stan. “Metáforas da Visão”. In. XAVIER, Ismail (org.) A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
FERREIRA, Jairo. Cinema de Invenção. São Paulo: Max Limonad, 1986.
MICHELSON, Annette. “Cinema e vanguarda: Eros e iconoclasmo; desejo e perversão na cinefilia de vanguarda.” In: XAVIER, Ismail (org.). O Cinema no século. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
MITRY, Jean. História del Cine Experimental. Valência: Fernando Torres Editor, 1974.
RENAN, Sheldon. Uma introdução ao filme underground. Rio de Janeiro: Lidador, 1970.