Ficha do Proponente
Proponente
- Diego Paleólogo (UERJ)
Minicurrículo
- Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisa nas seguintes áreas: narrativas de terror e horror a partir de perspectivas sexo-políticas; cultura pop, produção de sentido e processos de subjetividades; corpos e espectatorialidades; fotografia, imagem estática e em movimento, hibridismos e monstruosidades; novas tecnologias, efeitos e afetos do neoliberalismo; apocalipses, distopias e fins do mundo.
Ficha do Trabalho
Título
- My queer horror experience: temporalidades emaranhadas
Seminário
- Tenda Cuir
Formato
- Presencial
Resumo
- Essa experiência começa há muito tempo, na longínqua década de 90 do século XX, em um cinema no Rio de Janeiro. “O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger” foi o primeiro filme de terror que assisti no cinema. Essa narrativa tornou-se uma inquietante metáfora para o início do meu processo de saída do armário. “My queer horror experience” é um exercício híbrido entre a performance, o vídeo, a narrativa visual, o ensaio acadêmico, no qual sobreponho o cinema de terror às minhas experiências.
Resumo expandido
- Essa experiência começa há muito tempo, na longínqua década de 90 do século XX, em um cinema no Rio de Janeiro. Talvez tenha começado antes, em uma sala-de-estar acarpetada, diante de uma televisão de tubo e um aparelho de vídeo cassete. Filmes proibidos, interditos pelos poderes parentais: sexo e horror, violência e pornografia. Laura Mulvey, Carol J. Clover, Mariana Baltar, Linda Williams, para citar algumas, já anunciaram essas equivalências.
As imagens em movimento tornam-se umbrais perigosos. Ao atravessar esses limiares, tudo pode acontecer. Imagens são como entidades que se apossam dos corpos, das subjetividades, desejos, excitam nossos corpos e sensibilidades. Nessa proposta, mapeio, a partir de lugares íntimos, algumas inquietações.
Fevereiro de 1995. Na entrada, um par de óculos: uma lente azul, outra vermelha – o filme era em 3D.
No prefácio do livro Time Binds: Queer Temporalities, Queer Histories, Elizabeth Freeman, ao realizar uma queer visit a um poema, aponta que uma suposta, especulativa temporalidade queer – um espaço, um sonho, seja lá como for – é, também, haunted, “assombrada por aparições, visitas fantasmáticas, visões, “queer time” appears haunted.” E aponta: “I track the ways that nonsequential forms of time (in the poem, unconsciousness, haunting, reverie, and the afterlife) can also folds subjects into structures of belonging and duration that may be invisible to the historicist eye.”
Uma temporalidade assombrada.
Na primeira edição de Tenda Cuir, telemediada, apresentei, em consonância, ressonância, vibrações com Dri Azevedo, Alessandra Brandão, Ramayana Lira e Vinicios Ribeiro, uma fala/performance, povoada por imagens, na qual convoquei um repertório do terror e horror. Monstros, fantasmas, animais estranhos. Em outras publicações, em parceria também com Vinicios e Dri, comentamos sobre a potência, força e capacidade de mutação que a experiência de “ir ao cinema”, de ver filmes, tem em corpos, subjetividades, desejos que não compactuam com a insistência ética e estética do regime política da cis heteronorma capitalista neoliberal. “My queer horror experience” é um exercício híbrido entre a performance, o vídeo, a narrativa visual, o ensaio acadêmico, no qual sobreponho o cinema de terror à minha experiência de saída do armário a partir de fragmentos, fotografias, trechos de filmes e diário pessoal. É um convite ao assombro diante de passados presentes, porões e armários, pesadelos e sobrevivências, monstros e final girls.
Na intenção de curvar o tempo – o meu, o das imagens, um tempo cuir, estranho – pretendo emaranhar minha história pessoal a uma desregrada e selvagem constelação do cinema de terror.
Com os óculos 3D no rosto, 14 anos no corpo e um saco de pipocas, iniciei uma desorientada jornada rumo ao mundo dos pesadelos. Junto com Heather Langenkamp/Nancy Thompson, abandonei um realismo seguro e me encontrei na dissolução das fronteiras entre ficção e realidade, filme e vida. Nesse período, iniciei também um exercício de compreensão da minha homossexualidade – algo que tentei negar, esconder, driblar de diversas formas, sempre escorado pelo medo, ansiedade, angústia provocados pelas narrativas preconceituosas.
Naquele momento, minha vida estava em um limiar da ordem do sublime, do arrebatador – tudo que eu conhecia, meu próprio realismo, não era mais sinônimo de segurança. O conhecido tornava-se terrível, ameaçador. Assim como no filme “O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger”, as definições de vida, sexualidade, desejo, fantasia e realidade não estavam mais tão nítidas.
Para muitas, o tempo de se compreender gay (trans, bicha, sapatão) é um de assombros, terrores, medos radicais que assumem formas familiares (mãe, pai, irmão, melhores amigos, tudo entra em risco de se perder, de tornar-se violento). É um horror que vem junto com a revelação, assim como nos slashers (principalmente a franquia Pânico), o monstro, o assassino é sempre alguém que você conhece.
Bibliografia
- CLOVER, J. Carol. Men, Women, and Chain Saws: Gender in the Modern Horror Film: Gender in the Modern Horror Film.
EDELMAN, LEE. NO FUTURE * Queer Theory and the Death Drive * Duke University Press * Durham and London * 2004
FREEMAN, Elizabeth. TIME BINDS: Queer Temporalities, Queer Histories. Duke University Press, Durham and London 2010
Lazzarato, Maurizio. Videophilosophy : the perception of time in post- Fordism. New York : Columbia University Press, 2019.