Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Michel Henrique Araújo da Silva (UFF)

Minicurrículo

    Sou formado em Cinema e Audiovisual – Licenciatura, pela UFF (2018-2022). No ano de 2019, fui monitor concursado na disciplina de “Teoria da Linguagem Cinematográfica” do professor titular João Luiz Vieira. Em 2023 ingressei para o programa de mestrado do PPGCine-UFF, no qual estou desenvolvendo a pesquisa “Os olhos e as eras: Uma análise histórico-estética das reflexões de Alfred Hitchcock e Abbas Kiarostami sobre a noção de ponto de vista”, orientada por João Luiz Vieira.

Ficha do Trabalho

Título

    Hitchcock e Kiarostami – Cineastas do ponto-de-vista

Formato

    Presencial

Resumo

    Tomando as obras Janela Indiscreta (1954) e Gosto de Cereja (1997) – de Alfred Hitchcock e Abbas Kiarostami, respectivamente – como corpos textuais a partir dos quais estes diretores elaboraram suas reflexões teóricas sobre a noção de ponto de vista na arte cinematográfica, a apresentação se proporá a correlacioná-los, analisando semelhanças e particularidades nos procedimentos empregados por cada um.

Resumo expandido

    O trabalho a ser apresentado é fruto de minha atual pesquisa de mestrado pelo PPGCine-UFF, “Os olhos e as eras: Uma análise histórico-estética das reflexões de Alfred Hitchcock e Abbas Kiarostami sobre a noção de ponto de vista”. O cerne da pesquisa trata de correlacionar os procedimentos estéticos através dos quais ambos os diretores refletiram sobre a noção de ponto de vista no cinema – partindo de elementos como o enquadramento, a figura simbólica do narrador e o discurso meta-cinematográfico -, bem como sobre suas próprias épocas dentro da história das formas cinematográficas. Em seu artigo O olho da imagem: reflexões meta-estéticas no cinema de Abbas Kiarostami (2016), o pesquisador Luiz Carlos Oliveira Junior define desta maneira um elo potencial entre os diretores Alfred Hitchcock e Abbas Kiarostami “O cineasta iraniano embaralha duas concepções tradicionalmente tidas como opostas e irreconciliáveis: de um lado, a escuta parcimoniosa do mundo, a premissa rosselliniana do cinema como revelação do sentido ontológico da realidade; do outro, o desejo de controle e a representação do mundo atrelada a um postulado conceitual, a premissa hitchcockiana do cinema como arte que coloca o registro automático das aparências a serviço de uma ideia” (p. 46). Hitchcock, em sua fase maneirista (1948-1963), tomou proveito de maiores liberdades contratuais para, no seio do sistema industrial hollywoodiano, consolidar uma encenação “baseada inteiramente na dialética da fragmentação e do ponto de vista” (CASTRO DE PAZ, 1999, p. 21). Nos derradeiros anos da era clássica do cinema de estúdio, o diretor inglês radicado nos Estados Unidos produziu obras que eram simultaneamente o epítome do modelo de Hollywood, e o prenúncio de sua falência. Um de seus trabalhos mais evidentes nesse sentido é Janela Indiscreta (1954), em que um protagonista voyeur permanece física e simbolicamente separado dos vizinhos que observa, e se opera uma “hipertrofia formal” do uso do plano ponto-de-vista (Ibid., p. 22). Kiarostami, por sua vez, acompanhou o alvorecer do cinema contemporâneo na virada para o século XXI. Fazendo parte dos veteranos da escola neorrealista proeminente no Irã nas décadas de 1970 e 80, o diretor incorporou as tendências do emergente cinema “arthouse” para compor um estilo de feições mais pós-modernas em que “realismo cinematográfico e estética modernista” permitiam que os filmes falassem “sobre seu assunto e sobre o próprio cinema, concebido meta-realisticamente” (NAFICY, 2012, p. 177). Incidindo sobre as frestas entre documentário e ficção, o trabalho do iraniano já foi amplamente analisado e dissecado em seus questionamentos acerca do real no cinema. Em consequência destas tensões, todavia, seus filmes engendram também provocações sobre a noção do ponto de vista na complexa polissemia do termo. Trata-se não apenas do olhar pessoal de um personagem no interior da diegese – questão central em Gosto de Cereja (1997) – mas também do olhar do espectador, e a maneira como ele concebe intelectualmente a obra de arte. Ao encerrar Gosto de Cereja, fazendo o ator Homayoun Ershadi reaparecer num registro documental, revelando a própria produção do filme, Kiarostami desafia, também, convenções históricas e culturais que determinam como se olha uma imagem. A apresentação em si, dada a brevidade de seu formato, tratará de analisar algumas sequências cruciais de cada filme, pontuando uma possível dialética entre as provocações presentes em cada um, partindo de indagações como: “De que maneira cada diretor constrói o ‘auto-oferecimento’ (CASETTI,1998, p.33) do filme ao espectador?”; “Como se dá a inter-relação da cadeia de olhares – do espectador, dos personagens, do narrador – que estão em jogo na construção de cena?”; “Qual ponto de vista os filmes, de fato, assumem em seus processos de narração?”.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. O ponto de vista. In: GEADA, Eduardo (org.). Estéticas do Cinema. 1° Ed. Lisboa. Publicações Dom Quixote, Lda. 1985. pp. 125-156
    BRANIGAN, Edward. The Point of View in The Cinema. Mouton. Berlim. 1984.
    CASETTI, Francesco. Inside the Gaze – The Fiction Film and Its Spectator. Indiana University Press. Bloomington and Indianapolis. 1998.
    CASTRO DE PAZ. Vértigo/De Entre Los Muertos. Ediciones Paidós. Barcelona. 1999.
    NAFICY, Hamid. A Social History of Iranian Cinema Volume 4: The Globalizing Era, 1984-2010 . Duke University Press. Durham/Londres. 2012.
    OLIVEIRA Jr., Luiz Carlos. O olho da imagem: reflexões metaestéticas no cinema de Abbas Kiarostami. In: Significação. vol. 43. n° 45. janeiro-junho de 2016.